terça-feira, 16 de setembro de 2014

CENTENÁRIO DE LUPERCÍNIO RODRIGUES - SAMBA, BOEMIA E CORAÇÕES DILACERADOS

Conhecido como o "inventor da dor de cotovelo", Lupicínio Rodrigues chegaria, hoje, aos 100 anos


Quem nunca sofreu por amor, talvez desconheça Lupicínio Rodrigues. Os demais, sem exceção, guardamos seus versos - ainda que adormecidos - na alma. Paisagista dos sentimentos, o sambista faria hoje 100 anos. No mês passado, completaram-se também 40 anos de sua partida, ironicamente vítima de insuficiência cardíaca, aos 59 anos.
Do coração de Lupi, como o chamavam os amigos, partiram versos de amores dilacerados como "Esses moços, pobres moços, ah, se soubessem o que sei/ Não amavam, não passavam/ Aquilo que já passei" ("Esses moços") ou "Eu não sei se o que trago no peito/ É ciúme, é despeito, amizade ou horror/ Eu só sei é que quando a vejo/ Me dá um desejo de morte ou de dor" ("Nervos de Aço"), dois de seus maiores sucessos.
Entre 150 canções gravadas, na lista de sucessos, estão "Se Acaso Você Chegasse", "Foi Assim", "Ela disse-me assim", "Maria Rosa" e "Vingança". Também estão no seu repertório, canções leves - ainda que melancólicas - como "Felicidade", lírica e saudosa, e um punhado de marchinhas carnavalescas, gravadas e regravadas até hoje.
Lupicínio compôs verdadeiras crônicas sobre os altos e, especialmente, os baixos do amor, impregnado de um espírito boêmio que o acompanhou por toda a vida. De tanto cantar suas amarguras, o gaúcho ficou conhecido como o "inventor da dor de cotovelo", alcunha que cultuava e que fazia parte do personagem que adotou: noturno, boêmio, sambista e amante.
Cronista
"Ele foi casado a vida toda com uma mulher só, dona Serenita, mas dizia que todas essas histórias de amor eram reais. Algumas dessas mulheres tem nome, tem biografia. E ao mesmo tempo são todas histórias de amor que deram errado e resultaram em dor de cotovelo", pondera a antropóloga Marina Bay Frydberg, professora da Universidade Federal Fluminense e que defendeu tese de mestrado sobre Lupicínio Rodrigues.
O estudo "Lupi, Se Acaso Você Chegasse" se debruça sobre a persona de Lupicínio, e a influência que o músico ainda hoje tem entre os músicos - em especial, sambistas de chorões de Porto Alegre.
Gaúcho
Natural da capital gaúcha, do bairro de Ilhota (atual Cidade Baixa), Lupicínio viveu toda sua vida em Porto Alegre. Começou a compor muito cedo, sempre acompanhado por sua caixinha de fósforo, para batucar o ritmo do samba. Suas músicas, reza a lenda, chegavam ao eixo Rio - São Paulo de navio, cantadas por marinheiros que passavam no Sul e ouviam Lupicínio. O compositor teve apenas uma breve temporada, de três meses, no Rio de Janeiro, em 1939, quando conheceu figuras como os cantores Francisco Alves e Cyro Monteiro, que lançou um de seus primeiros sucessos com o parceiro (também carioca) Felisberto Martins. Com Felisberto, e na voz de Cyro, lançou "Se acaso você chegasse", ainda hoje parte do repertório obrigatório do samba, e "Enquanto a cidade dormia".
"Pensando na contribuição dele para a MPB, um diferencial de suas composições era falar sobre esses temas de maneira tão clara. Alguns pesquisadores dizem que música é o espaço para o homem falar de sentimento. O que socialmente não é aceito, na música é possível. Lupicínio levou isso a escala máxima", defende Marina Frydberg.
Apesar do sucesso, o sambista sempre fez questão de colocar a música como paixão, e nunca uma profissão. Em paralelo, como ofício, trabalhou como bedel. Lupicínio também foi proprietário de muitos bares ao longo da vida, que serviam de alimento à seu espírito boemio e como pontos de encontro com os amigos.
Ainda que muitas histórias insólitas circundem sua persona, ele, um dado é inegável: era um amante irremediável. "Geralmente, a mulher o abandonava, ele sofria por isso, mas ao mesmo tempo dava a volta por cima e já ia sofre por um novo amor. Acho que o sucesso dele se dá pelo amor. A dor de cotovelo vai fazer sentido em qualquer lugar, em qualquer época, sempre. Por ele cantar tão bem esse desamor é que ele fez tanto sucesso e que esse sucesso permanece", encerra.
Fábio Marques
Repórter
 Clik na setinha ao centro e ouça o clássico "Nervos de Aços" com Lupercínio Rodrigues

2 comentários:

  1. O cantor e compositor Lupicínio Rodrigues é uma verdadeira sumidade. Adoro!!!

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  2. Adeildo Lopes Nogueira22 de setembro de 2014 às 20:22

    Foi a minha curtição neste final de semana.

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