O título acima se refere à
definição clássica de democracia vista como um regime político que pressupõe a
participação direta dos cidadãos do país.
No caso do Brasil, na maior parte da nossa jovem
República, esta definição foi aviltada em muitas situações. Na verdade podemos
afirmar que tivemos breves períodos de participação popular na escolha de
nossos governantes: o período de 18 anos que vai desde o fim da segunda guerra
mundial até o golpe de 64 e este agora que vivemos desde as eleições diretas de
1989.
Desde os vícios da primeira República, passando pela
ditadura do Estado Novo, chegando finalmente ao regime militar, o povo
brasileiro foi alijado da participação política que lhe cabia, atrasando a sua
formação política e criando climas de instabilidades sociais e econômicas que
por todo o século XX trouxeram prejuízos gigantescos para a nação.
O Brasil já saiu atrás de seus vizinhos quando, no processo
de independência frente a Portugal, permaneceu sob a égide de um estado
absolutista controlado pela família Real. A proclamação da República que se
esperava trazer à tona indivíduos capazes de construir uma grande nação foi uma
mentira. O que se viu foi um golpe militar com o claro intuito de manter
inalteradas as estruturas sociais brasileiras.
Quanto tempo perdido...
Não é possível mensurar ditaduras. Os crimes que em nome
delas foram cometidos tornam impossível determinar quais foram as piores. A Varguista?
A militar? Não há como determinar qual delas atrasou mais o processo de
amadurecimento político brasileiro.
Fincamos, pois, o olhar na última, aquela mais próxima de
nosso tempo. Aquela que começou num primeiro de Abril, data tão própria para batizar
aquilo que seria uma grande mentira.
Na conjuntura da Guerra fria e vivendo sob a impressão
que o comunismo seria o inferno na terra, os militares brasileiros apearam do
poder um governante consagrado pelo povo e eleito de maneira direta e
democrática.
Usaram as mais sórdidas mentiras para depor João Goulart,
atacando-o de maneira sistemática, criando invencionices para a população,
acusando-o de ser um representante da URSS no Brasil, dizendo mil vezes que a
família brasileira corria sérios riscos com aquele governo e instigando a
população a exigir a sua retirada pela força.
E foi isso o que aconteceu: isolado, castigado pela mídia
de então, sofrendo pressão dos empresários nacionais e estrangeiros, fustigado
pela forte oposição política que montara uma frente contra ele, Jango, como era
conhecido, não teve alternativa a não ser embarcar em um avião em direção ao
seu estado natal, Rio Grande do Sul, e de lá mergulhar no exílio no Uruguai.
Taxado de covarde, quando na verdade pouca resistência
poderia oferecer, foi deposto pelo congresso e uma junta militar assumiu o
comando da nação.
O que se viu a partir deste fatídico primeiro de Abril
foi uma sucessão de mentiras poucas vezes vista na história.
O teatro das eleições dizia que o Brasil era um país democrático
com eleições com participação massiva do povo. Nenhuma delas foi para escolher
os seus governantes. Os poucos representantes eleitos foram amordaçados e
obrigados a chancelarem as decisões tomadas pelos generais.
A mentira da democracia espalhou-se também pela imprensa,
jornais foram censurados, jornalistas perseguidos, torturados, mortos.
As universidades controladas, o pensamento livre foi
acorrentado na mais clara tradição fascista.
Sindicatos sofreram intervenções, os dirigentes que se
opunham ao golpe foram mandados para o cárcere e/ou para as covas sem
identificação.
A censura atingiu também a arte nas suas mais diversas
manifestações; obras e autores foram violentados sem que tivessem quem os
defendesse.
Intelectuais fugiram do país buscando a paz necessária
para pensar.
A justiça fora violentamente manipulada, com as decisões
de suas cortes mais altas sendo dirigidas pelos milicos.
Congresso fechado, povo calado. Este o lema maior do
Estado Maior da “Redentora” (como era chamado o golpe pelos militares e seus
lambes botas).
De 1964 até 1985, o que se viu imperar no Brasil foi o
medo da repressão, esta a única estatística que cresceu de forma desmesurada.
Vinte anos que o Brasil patinou em todos os aspectos: na
política, a não participação do povo; na cultura, o medo da criação; nas
escolas, a obediência cega; na repressão, a violência em estado bruto.
Na economia, duas décadas perdidas: o endividamento
externo gigantesco, a ausência de obras estruturais que alavancassem nosso
desenvolvimento, a carestia, a cada vez maior desigualdade social.
Por tudo isso é com pesar que relembramos esta data, mas
é também com este aprendizado que o Brasil deve procurar o seu caminho, no
entanto só o fará plenamente com uma população atuante e jamais coagida.
(Por: SINPRO/ São Paulo)
Para refletir brasileiros! Em que ditatura vivemos hoje?
Esse é o Brasil que amo...
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