Para quem não atentou, a continuidade do processo do afastamento da
ex-presidente esteve por um triz de ser anulada. Isso porque, se, ao
invés da liminar do Ministro Teori, acaso fosse aprovada a proposta da
Rede da Marina pela nulidade de atos de parlamentares ostentando a
condição de réu, o Eduardo Cunha teria todos os seus atos anulados desde
que se tornou réu no STF. E, como a aceitação da proposta de
impeachment deu-se com ele, deputado, já indiciado, seria possível
arguir em Juízo a nulidade da medida da aceitação e provavelmente de
todo o processo.
Nos entreouvidos, consta que o Ministro Teori precipitou o afastamento proposto pelo PGR ainda em dezembro, como forma de neutralizar outras intenções em relação ao assunto, e assim forçar o Supremo a priorizar a avaliação da sua medida cautelar. Aliás, consta também que a proposta da Rede contava com a simpatia de alguns outros ministros da Corte, com cujo patrocínio se poderia inviabilizar o processo de afastamento da ex-presidente. Mas, isso jamais será confirmado pela caixa preta do Supremo.
Mas, no fim das contas, o afã de expulsar da cena o deputado era tamanha que até o fato de haver sido afastado em circunstância e argumentação ao arrepio da Constituição passou convenientemente despercebido no soslaio de todos, dando lugar a uma grande comemoração. Igualmente, os circunstantes ignoraram a “intervenção” do Judiciário no Legislativo, na medida em que os deputados, tendo abdicado do exercício da prerrogativa de garantir a higidez moral da Casa, foram substituídos no mister. Bem feito!
Apesar do estoque de irregularidade de sua autoria em condições de justificar a sua cassação e também prisão, o Eduardo Cunha soube aproveitar o esgotamento do modelo petista de governar, especialmente no vácuo da incompetência produzido pela dilma, e, com isso, erigir as bases de um principado o qual somente não progrediu por força da tempestividade justiceira do Ministro Teori Zavascki.
E agora, por coincidência ou por fatalismo do destino, calha o fim melancólico de ambas as carreiras políticas que só não compõem um abraço de afogados por ser impossível um abraço entre esses indivíduos. Fica então somente o afogamento.
No balanço das perdas e danos, muitos ganham mais do que perdem com o afastamento da dupla, senão vejamos: ganha o Temer, que, além de assumir o posto (mesmo em meio à crise) elimina a influência e as chantagens do Cunha na formação da equipe e na condução interina do país; ganha o Lula que, mesmo perdendo a aura, estará livre de carregar o pesado e destruidor fardo chamado dilma nas costas; ganha o PT que, se não tiver o registro cassado, poderá reconstruir-se sem a presença deletéria da ex-presidente que tanto contribuiu para o sangramento da legenda; ganha o Brasil.
Entre os perdedores, o mais ameaçado parece ser o Temer, que arrisca imolar a carreira política junto com a herança realmente maldita do petismo de uma desordem institucional e um buraco financeiro avaliado entre 250 bilhões a 650 bilhões de reais nas contas públicas. Isso sem falar nas armadilhas e minas fiscais que a dilma já plantou e ainda plantará. O tempo conspira contra. Perde o PT e o Lula, por motivos óbvios; perde o Eduardo Cunha, ibidem; perde o Brasil.
Tudo é muito assustador!
Por: Luiz Saul Pereira
Brasília - DF
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