Por Roberto Meir*
No início dos anos 2000 a
indústria fonográfica entrou em polvorosa. Um site mundial chamado Napster,
permitia a pessoas do mundo compartilhar músicas sem parar e sem pagar nada
para ter acesso a elas. A ideia básica é que as pessoas estavam permitindo que
outras ouvissem suas seleções num fenômeno que se chamou P2P (peer 2 peer). O
resto da história é bem conhecido. A indústria fonográfica processou o Napster,
foi à lona, precisou se reinventar e ainda hoje procura um novo modelo de
negócio. A Apple lançou o iTunes com faixas a US$ 1,00, sugiram os apps como
Deezer, Spotify, e os artistas passaram a fazer shows como nunca para ganhar o
dinheiro que perderam na venda de CDs.
Esse tipo de disrupção aconteceu em dezenas e dezenas de
segmentos, setores e abateu milhares de empresas. Falar da Kodak é covardia.
Era fatal que atingisse os negócios mais prosaicos e mais esquecidos. Como os
táxis. E, de repente, surgiu o Uber. E do Uber, na forma de um app para
smartphone, um novo mundo se abriu, com os ganhos de eficiência e de geração de
negócios que o velho táxi não pode sonhar e nem pretende. O Uber permite um uso
mais eficiente do automóvel, torna-o mais produtivo, ao fazê-lo se movimentar
com mais gente por mais tempo. Afinal, em tempos de busca de eficiência, nada
mais irracional que pagar a parcela de um automóvel parado. Ele qualifica e
ranqueia motoristas que podem se aprimorar e trazer maior fluência ao trânsito,
inclusive com menor índice de ocorrências.
Os motoristas ligados ao Uber
recolhem todos os impostos normais referentes ao automóvel particular –
incluindo IPVA integral, IPI, CIDE e usam gasolina ou álcool como combustível.
Os motoristas também precisam se esmerar no atendimento ao cliente porque
disputam esse cliente com outros motoristas e com os táxis. E onde há
competição, há consumidores mais satisfeitos e com mais opção. O Uber promove a
liberdade de escolha e permite que maus motoristas sejam simplesmente desvinculados
do serviço. Só por isso já vale a comparação: você conhece algum mau motorista
de táxi que perdeu a licença por ser ruim?
E as comparações prosseguem: táxis têm seus automóveis subsidiados
tanto na aquisição quanto no IPVA (em muitas cidades), ocupam vagas nas
calçadas – e aí nem é o caso de reabri-las para os automóveis, mas sim, por
exemplo, incorporá-las aos espaços públicos, como parklets – têm a
possibilidade de serem abastecidos como GNV, mais barato que os combustíveis
líquidos, e só mais recentemente, por meio dos apps de chamada, começaram a ser
avaliados, ainda que de maneira rudimentar, pela qualidade dos seus serviços.
Táxis ainda têm a prerrogativa de ocupar faixas exclusivas de ônibus, um
benefício sem sentido em cidades onde o transporte coletivo precisa ser
priorizado. Ao que consta, nenhum motorista do Uber solicita o tráfego por
faixas segregadas.
Pois bem: o que lideranças políticas de cidades como São Paulo
fazem? Ao invés de estimularem a modernidade, a competição e buscarem alternativas
que certamente aprimoram a mobilidade urbana e oferecem ao consumidor a sagrada
liberdade de escolha, querem simplesmente banir o serviço e o trabalho dos
motoristas conectados ao Uber.
Cedem à pressão e ao lobby dos taxistas, em
detrimento da população que quer, gosta e vai fazer uso do aplicativo e do
serviço. E não assumem a responsabilidade com alternativas modernas, como se
fosse possível retardar um tsunami de inovação. Certo, há uma lei que diz que o
transporte individual de passageiros é prioridade dos táxis. E é fato que o
motorista de táxi paga caro pela licença. Nada mais natural já que estamos
falando de uma profissão vitalícia e hereditária (a licença pode passar para os
filhos).
Novamente, não se vê essa intenção dos motoristas do Uber. Duvido que
qualquer um deles queira seguir “carreira” e estimular filhos para que façam o
mesmo. Temos negócios diferentes, ofertas diferentes e, sim, a necessidade de
estabelecer competição onde antes havia monopólio. E de mais a mais, somente o
Uber pode permitir que um cliente queira num dia, andar de Ferrari, ou de
Lamborghini ou de Porsche para ir ao trabalho ou a uma festa ou simplesmente
para levar a namorada em casa. Basta haver um motorista ligado ao Uber
disponível. Numa economia aberta, de mentes arejadas essas possibilidades
seriam incentivadas e aplaudidas. Mas é lastimável ver uma cidade como São
Paulo, conhecida por seu arrojo e vitalidade preferir a contramão da história,
ao optar por simplesmente banir, com uma canetada, o futuro. Ainda bem que o
resto da história a gente já conhece.
*Roberto Meir é especialista internacional em relações de consumo, varejo e estratégias de relacionamento com stakeholders. Além disso, Meir responde pela autoria dos livros “O Brasil que Encanta o Cliente”, “Ativos Intangíveis – O Real Valor das Empresas”, “Do Código ao Compromisso – Propostas Efetivas para a Melhoria dos Serviços ao Consumidor no Brasil” e os mais recentes “Feitas para o Cliente – As Verdadeiras Lições das Empresas Feitas para Vencer e Durar no Brasil” e “A Era do Diálogo”
Triunfo carece do Uber. É preciso credenciar algumas unidades veiculares. O Opinião pode fazer isso.
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