quarta-feira, 22 de junho de 2016

ÀS VEZES É DIFÍCIL SER SÓBRIO - POR LUIZ SAUL




“A Petrobrás é a madame mais honesta dos cabarés do Brasil”, segundo definição do delator aos membros da investigação da Operação Lava Jato, em Curitiba. 


Alguém por aí poderia me explicar o significado da frase do ex-presidente da Transpetro, indicado e protegido por um dos PMDBs (no caso, a ala do Renan, do Jucá, do Raupp e, dizem, do José de Ribamar)? Estou fazendo referência ao Sérgio Machado, ex-senador e atual delinquente delator profissional, especialista em gravações sorrateiras e clandestinas devidamente armadilhadas para comprometerem antigos aliados e/ou protetores nas malhas da criminalidade nacional. Parece que a intenção central seria a divisão de responsabilidades, ou, noutra hipótese, levar consigo os gravados para o mesmo destino das grades. 


Dependendo da interpretação que se retire da frase do ultra delator, o observador poderá inferir mais de uma visão perspectiva sobre a atual situação do país moreno. Com efeito, aqueles mais puristas da interpretação da letra fria da língua portuguesa provavelmente enrubescerão ao entenderem que o Sérgio Machado reduziu o Brasil e as suas instituições à condição de um conglomerado de lupanares, dentre os quais a petroleira seria um exemplo ortodoxo de prostíbulo. 

Noutra interpretação de mais generosidade patriótica o observador poderá enxergar a denúncia daquele que, se havendo composto na primeira linha da intelligentsia da falcatrua institucional, e, que, se encontrando descoberto, tomou-se convenientemente do remorso de um cristão novo, e, tal qual um Judas reconvertido, entregou-se e aos cúmplices às malhas da Justiça.

Em qualquer situação ou interpretação, não parece bom olhar para uma terra onde já teve palmeira e já cantou o sabiá; onde teve coqueiro que deu coco e teve fontes murmurantes; onde teve o Castro e também o Alves; onde jamais ruiu o Rui, e perceber a tragédia nacional tendente a eliminar praticamente toda a “elite” política que até pouco tempo bradava a pergunta arrogante do tipo “você sabe com quem está falando?”, mas que nos dias de hoje tem a cabeça enterrada na areia, ou habita os subterrâneos enlameados.

Cabe uma reflexão crítica quando o tal Sérgio Machado remete as instituições e seus dirigentes ao meio do baixo meretrício na constrangedora tentativa de relativizar a comparação dos funcionamentos. Na sua mente distorcida, o delator parece nivelar por baixo a profissão do exercício lúdico das relações afetivas e sexuais, na maioria por compensação pecuniária, e o mal e desonesto exercício da administração da coisa pública. Não faz sentido, e termina por desmerecer a profissão mais antiga, uma vez que naquele meio, o jogo é jogado com regras conhecidas.
Não se dá o mesmo no meio político, quando muitos dos seus agentes tradicionalmente viciados costumam assumir o patrimônio público como se lhes pertencesse, e, nesse mister, administram-no com o fisiologismo e o nepotismo de uma distribuição entre parentes, amigos e compadres.

Apesar de algumas reflexões eventualmente jocosas sobre a forma descabida da comparação do delinquente delator, espera-se que, ao nomear a Petrobrás como madama de cabaré, não haja subtendido a existência dos demais personagens que normalmente habitam esse meio, como seja caftina, cafetão, cortesã, meretrizes e mundanas na composição do cenário da petroleira. Se houver pensado nisso, seria interessante dar os nomes, pois não?

Para ser honesto e auxiliar a compreensão da manifestação do delator, é bom lembrar que nos países da língua inglesa a palavra Cabaré define apenas night club, aonde se dança e se bebe; na língua francesa, Cabaret (como o Moulin Rouge) é uma casa de show. E noutros idiomas devem haver outros significados e interpretações.
Às vezes é difícil ser sóbrio.



Por: Luiz Saul Pereira
        Brasília - DF

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