quinta-feira, 3 de agosto de 2017

O MAMBEMBE, TEMER, SEGUIRÁ REFÉM DE VELHOS E NOVOS ALIADOS - POR LUIZ SAUL



Com indispensável estômago de avestruz consegui assistir à sessão da Câmara que tratou da denúncia de corrupção passiva contra o Michel Temer. Embora legítima a estratégia dos opositores do Planalto de obstrução e/ou de estender indefinidamente a discussão do mérito e expor as mazelas do Presidente ao público das rádios e TVs, o que mais chama a atenção nessas ocasiões é a teatralidade dos parlamentares.
Não se trata de exigir o dom da oratória, ainda que alguns o detenha. A questão que pega é o despreparo intelectual da maioria dos faladores supostamente representantes da população. Ali também não se vê votos patrióticos, nem genuinamente ideológicos. Além de interesses particulares, ou de sucumbência pecuniária provida por emendas parlamentares, transparece, em uns, o voto de retaliação por episódios anteriores, e em outros, a antevisão de recompensa em cargos para sedimentar (ou eternizar) influência.
No plenário, com as ressalvas das exceções, uma enorme comunidade de investigados/indiciados/condenados em alguma instância, em que não faltaram o mútuo desrespeito, o empurra-empurra próximo do desforço físico, os baixos calões, no pior dos exemplos de confirmação da mediocridade sugestiva de retirar as crianças da sala, justamente de personagens que se constituiriam em ícones da cidadania.
Fora do plenário, um festival gastronômico de mais de 60 dias à custa do contribuinte que produziu a fina flor de gordalhões na construção de uma hipótese de inocência presidencial, ora em favor de uma governabilidade amarelecida, ora em troca de algum tipo de recompensa. Basta olhar as fotos das silhuetas.
Dessa cambulhada político-intelectual em que cada lado acusa o outro de ser uma quadrilha (e ambos têm razão) emergiu mesmo assim o “voto de inocência”, ou o breque na denúncia inaugurada pelo Procurador Geral da República. Aliás, é bom que se diga que o PGR Rodrigo Janot, embora haja anunciado o fatiamento de suas denúncias para apresentá-las em série, é de se duvidar que disponha de tempo para tanto. Acaso não reúna fatos novos para sustentar a convicção sobre outros crimes do Temer, parece razoável avaliar que a gravação do Joesley, por si só, se revele imprestável para novas sustentações da espécie.
E, de fato, se rejeitada, como rejeitada foi, pelo plenário da Câmara, a denúncia, as gravações, em tese, perderam o valor como instrumento de nova reclamação do PGR. Tal assertiva somente não se confirmaria se os bravos parlamentares optassem por um julgamento meramente político, como já aconteceu. Vide o case Collor de Mello, que mesmo contribuindo tanto para o afastamento, foi justiçado em um julgamento político, depois de haver renunciado.
Restará saber como doravante as cadeiras serão rearrumadas no Palácio, após as defecções de aliados tradicionais do PSDB e o desabrochar dessa coisa chamada centrão com seus componentes ávidos por um novo espaço na área das influências governamentais.
Em seu pronunciamento após a liberação, o Temer falou de vitória da democracia, mas sabe que seguirá ainda mais mambembe, e refém dos novos “aliados”, na medida da percepção de que não disporá de votos para qualquer nova reforma, e que o seu projeto de ser um reformador fez água.
Embora bem orquestrada, pode ter sido uma vitória de Pirro, especialmente porque uma vez concluído o mandato, a justiça comum estará à sua espera e de braços abertos.



Por: Luiz Saul Pereira 
        BRASÍLIA - DF

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