ESPAÇO DO LEITOR - TRAJETÓRIA DA FAMÍLIA TIMÓTEO NA REGIÃO DO PAJEÚ

Carlos Ferraz,
Envio um texto escrito por Tio Antônio Timóteo, para que você publique em seu blog, se possível.

A historia é bem interessante.

Abraço,

Kleber Timóteo

Escrito por Antônio Timóteo Sobrinho (*)
e publicado no Jornal Correio do Pajeú

Sem maior pretensão do que a de fazer registro de uma pequena página da História de Serra Talhada, firma-se em tinta, neste veículo “Correio do Pajeú", os conhecimentos recebidos verbalmente dos mais velhos e fixados na mente ao longo da vida.

Os TIMÓTEOS, no Pajeú, procederam do município de Bonito da Santa Fé, pequena cidade situada no oeste do sertão paraibano onde o Padre Ibiapina fez a Casa Central da sua obra no Sertão Nordestino. Admite-se que, acompanhando as romarias do Santo Peregrino (Padre Ibiapina fundou a Casa de Caridade em Triunfo em janeiro de 1871) ou fugindo da seca de 1877, os pioneiros da Família Timóteo chegaram a Serra da Baixa Verde durante a década dos 1870.

Eram três irmãos: João, Joaquim e José Timóteo de Lima. Não se tem conhecimento se chegaram simultaneamente ou em datas sucessivas. Joaquim e José (agricultores) fixaram-se no Sítio São Domingos às margens do Riacho do Medeia, abaixo de Santa Cruz da Baixa Verde, enquanto João (comerciante) fez residência no Sítio Almas, próximo a Triunfo. Ainda hoje, encontram-se as ruínas da casa de Joaquim Timóteo no Sítio São Domingos, A Casa Grande das Almas (entenda-se do Sítio ”Almas”) na periferia de Triunfo, originalmente pertencente ao João foi restaurada pelo seu descendente - Dr. Assis Timóteo -, para sua residência.

Faz-se oportuno citar alguns descendentes de cada tronco pioneiro.
Do pioneiro João (I) são descendentes: João (II), Horácio, sendo Horácio o pai de Dr. Assis Timóteo, Juiz de Direito de Belmonte. O filho mais velho, João (II), tornou-se sacerdote e foi pároco da Igreja dos Remédios em Manaus até 1970, onde o visitei.

O pioneiro Joaquim (I) (1860 – 1940) casou-se com D’nana (família Melo de Caiçarinha), deu origem a Antônio, José, João e Cícero. Estes filhos do citado casal tiveram oportunidade de freqüentar uma escola formal dos Irmãos Maristas, que estavam fixados em Triunfo no final do Século XIX e início do século XX. O registro da existência do Colégio Marista em Triunfo está no livro “Triunfo: A corte do Sertão” de Diana Rodrigues. Ler e escrever, naquela época, era privilégio de poucos.

Do pioneiro José (I) descende José Timóteo (II), sogro de Zé de Melo (comerciante) e avô de Ronaldo Melo. (este foi candidato a prefeito de S. Talhada, no último pleito)
Com vinculação à história de Serra Talhada merece foco um componente da família que de algum modo se destacou como homem público, trata-se do Capitão Antônio Timóteo (1878-1938).

Sabe-se, pela tradição verbal que o Antônio Timóteo não somente era alfabetizado, mas, também, entendia de contabilidade e trabalhou nos grandes empórios comerciais florescentes na Praça de Baixa Verde (Triunfo), no início do Século XX. O citado Antônio Timóteo, ainda moço, por infortúnio ou por sorte, entrou num conflito passional e neste chegou a ferir com arma branca o seu rival. Precisou se ausentar de Triunfo, vindo a se fixar em Vila Bela, provavelmente sob a proteção de algum dos grandes fazendeiros que se abasteciam de produtos industrializados (tecidos, linhas, ferragens, louças, querosene, pólvora, munição, bacalhau, bebidas sal e açúcar além de miudezas) naqueles empórios em Triunfo, onde o Antônio trabalhara. O jovem Antônio, inteligente e de boa aparência além de letrado, enamorou-se da Sinhá Mocinha, esta filha do Dr. Tiburtino Nogueira, então juiz de direito da comarca, vindo com ela a se casar. Esse matrimônio gerou Maria do Socorro Timóteo (filha única) conhecida por “Maria Timóteo”. Esse nome denominou, por ser sua proprietária, a Lagoa situada entre o centro da cidade de Serra Talhada e o aterro da linha de ferro que margeia o Alto do Bom Jesus.

Esse depoimento me foi narrado pelo Sr. Luiz Gomes de Sá, triunfense, fixado em Serra Talhada, primeiro como alfaiate, durante a década de 40, depois como comerciante de tecidos, até seus dias finais por volta 1980.

Voltando ao início do Século XX, quando o jovem Antônio refugiou-se em Vila Bela, reitere-se, naquela época o banditismo campeava solto no Sertão do Pajeú. Em Vila Bela, os grandes líderes das duas famílias mais numerosas, economicamente abastadas e politicamente importantes - Pereiras e Carvalhos - estavam em permanente conflito entre si. Estes chefes permaneciam em atalaia nas suas Fazendas, quando não em campanhas, buscando batalhas; ora de ataque; ora de vingança. Raramente apareciam na cidade.

Grupos armados, compostos sempre com mais de dez homens, algumas vezes, até, com mais de cem, como chegou a ter o Coronel Antônio Pereira, filho do Barão da Pitombeira era cena constante nas fazendas dos poderosos senhores de ambas as famílias. Era difícil para o restante da população não tomar partido. Os grupos eram formados, na sua maioria por parentes próximos ou agregados necessitados de proteção, geralmente voluntários não remunerados. Contudo, mesmo voluntários, necessitavam de alimentação, para si e para seus dependentes; necessitavam de armas e munição. Tamanha demanda consumiu grandes fortunas. Descrição mais detalhada sobre a época pode ser encontrada no livro “O Povo em Armas” de Jorge Mattar Villela, 2004.

Situando o jovem Antônio Timóteo pelos idos de 1908/1909, agora recém casado, apesar de alheio àquela situação de conflitos, provavelmente sob a proteção do influente sogro e na ausência de nativos com perfil e competência para o cargo, ele foi entronizado como tabelião; depois como chefe político do partido situacionista PR (Partido Republicano) dos ”perrepistas”; e não demorou, conseguiu a patente de Capitão da Guarda Nacional com direito a diploma, uniforme, galões e espada. Liderou o município de Vila Bela até a Revolução de 1930, quando, então, todos os líderes da Velha República caíram, inclusive, o governador Estácio de Albuquerque Coimbra foi deposto e substituído pelo Governador Carlos de Lima Cavalcante. Enquanto chefe político, o Capitão Timóteo representava, na Vila Bela, o Governo do Estado e adotava o comando imperialista típico da Velha Republica. Como tal, apoiava ou favorecia a legalidade, isto é: os Carvalhos, os Inácio, os Olavo, os Ribeiro de Barros, os Alves de Barros (família de Zé Saturno da Pedreira) e outros, dessa forma atraía, se não a hostilidade, mas a indiferença dos Pereiras e consequentemente a inimizade de Lampião.

O Capitão Timóteo, segundo Luiz Wilson, foi o líder de maior expressão em Vila Bela, no seu tempo; adquiriu grande fortuna em imóveis (muitas propriedades rurais e casas urbanas) e gado vendidos pelos grupos em contendas para custear a luta armada, além da herança que recebeu do potentado sogro.

Depois de bem estabelecido, tratou de ajuntar os irmãos José, João e Cícero ao seu redor. José (avô do autor do texto) tornou-se o seu vaqueiro além de seu segurança de confiança, na Fazenda Lajinha (onde nasceu Quinca Timóteo, o pai do autor, em 1911).

Cumpre registrar que após a revolução de 1930, com a ascensão do Estado Novo, o Capitão Timóteo foi convidado pelas lideranças que assumiram o poder (Coronel Cornélio Soares, seu compadre) para se aliar ao poder ora dominante. O capitão declinou do convite, passando a sofrer pressões decorrentes das investigações policiais dos crimes anteriores cometidos por terceiros, seus correligionários.

Maria Timóteo, filha e herdeira única do Capitão, não se casou. Ela, ainda jovem, assumiu o generoso ato de doar o terreno para a construção do Educandário Estadual do Alto do Bom Jesus, apropriadamente denominado “Capitão Antônio Timóteo”, perpetuando o nome desse ilustre cidadão serra-talhadense.

Os irmãos do Capitão Timóteo: José, João e Cícero disseminaram uma numerosa prole no município de Serra Talhada.

Atualmente a família Timóteo está muito reduzida no município de Serra Talhada contudo mantêm em seu poder os imóveis rurais Quixabinha, Condado, Cedro, Invejado, Lagoa, São João e Batalha. Ressalte-se que na Fazenda Invejado, hoje pertencente ao boiadeiro Dalvino Timóteo, encontra-se o cemitério da família onde jazem alguns integrantes de cinco sucessivas gerações, inclusive o pioneiro Joaquim Timóteo, procedente de Bonito da Santa Fé. Se faz mister, destacar a contribuição desse clã no cenário nacional, onde cidadãos portando o sobrenome Timóteo estão presentes: no clero, na magistratura, nas forças armadas e na segurança pública, no ensino público e privado , inclusive integrando conselho universitário, na medicina e odontologia,na agricultura no comercio e no setor dos serviços.

(*) O autor, Antônio Timóteo Sobrinho é serra-talhadense nascido na Fazenda Invejado em 1946; ex aluno do “Cônego Torres” (Ginasial,1963); Engenheiro Agrônomo pela URFPE, (1970); pós graduado pelo ICRISAT – Índia (1980); MsC em Engenharia Agrícola pela UFV, Minas Gerais (1990) e primo do Editor.