quarta-feira, 11 de julho de 2012

DORES DE FLORESTA - LUIZ AUGUSTO FEITOZA FERRAZ

A famosa Floresta do Navio - Ferraz/Novaes
 
A fotógrafa internacional Carmen Baiana viera a Floresta diretamente da Itália para a abertura de sua exposição "Dores de Floresta", realizada no Grêmio 3 de Julho. O vernissage fora sucesso absoluto, mais de mil presenças em noite memorável, esquadrinhada em 105 banners, número de anos da cidade, que se distribuiam por todas as dependências do clube, em áreas internas e externas.

Os trabalhos, com efeitos especiais computadorizados, iniciavam ali uma carreira que seria disputada por muitas cidades do Brasil e do mundo, pela representatividade dos conteúdos, didáticos, que tinham o dom da denúncia em ângulos paradoxalmente poéticos, pinçados por pequenos versos, quase hai-kais, do autor de "Bonito pra Chover", lançado há cinco anos em memória do Centenário da Cidade.

A metáfora que aquele título buscara difundir, representativa de perspectivas e expectativas exponenciais de crescimento, virara quase um pesadelo em poucos anos, representados por mudanças que revelavam uma completa mudança de identidade municipal, em sua cultura, nas representações artísticas, nos costumes, na estética arquitetônica, nos cuidados com o povo.

Crateras e mais crateras, poeira e sujeira, bancos de praças quebrados, jarrões pseudo-gregos pululando, construções mastodônticas, tudo fora criteriosamente escolhido, difundido e espraiado em imagens que sensibilizavam a perplexidade de todos, assustados com a dimensão destruidora que escorria célere por um transtornado Beco do Comércio, para aprisionar-se espremido por trás dos muros. Ninguém mais sabia para onde fora o verdor das praças. Sequer os tamarindos tinham o mesmo vigor, destituídos de antigos viços.

O ano era 2012. A fotógrafa, com a ajuda de atuantes organismos internacionais, embasara o seu gigantesco trabalho em conceitos de que a arte tem que fazer pensar, sem calar-se frente à iniquidade e o desrespeito à cidadania. A verdadeira arte não pode renunciar ao mundo, nem a fazê-lo melhor. Há de fazer pensar que há muitas dimensões épicas em narrativas diversas, que não passem pelo denunciado. 

Os olhares abstraídos e estupefatos que contemplaram aqueles quadros poderiam ser temas de uma verdadeira retórica de uma triste história em quadrinhos, em que a consciência se assoma da percepção e da inteligência como uma revelação assombrosa, que estava ali ao vivo e a cores, mas não prescindiu de um viés profundamente artístico para mostrar-se com clareza. 

A tristeza mostrou-se sem véus. Não se escondia nem da senhora idosa, nem da criança. Não estava muda, gritava em todos os contornos do claro e escuro, ora de forma meio inspirada no abstrato, ora impressionista ou expressionista, com todo o fulgor contemporâneo da arte fotográfica. Um urubu sobre um lixo, com seu olhar mais contundente de ave de rapina, foi o motivo de uma foto que arrebatou um importante prêmio internacional e chamou a atenção para aquela exposição que veio a ser disputada pelo mundo. A melancolia tinha nome e cavalgava por cada um daqueles quadros. Retratava ferida exposta, lúgubre, sucumbida. 

Verdadeiros cortejos passaram frente a frente àqueles quadros, denunciantes do atraso e de uma miopia mandante. Desconjuntados, eles formavam uma unidade esclarecedora, harmonizavam-se para atingir o nível de arte engajada, que o repórter Álvaro Vilarim soube captar para difundir para o mundo a denúncia. Fora ele quem cuidara de enviar a foto do urubu para o concurso. A força do nome da fotógrafa ajudou a virar aquele jogo, que se refletiu em uma mudança eleitoral.

Novos dias viriam a partir dali. O povo compreendera o recado, unido em torno de uma expectativa progressista.

"Dores de Floresta" ajudou a fazer a virada de página.

12 comentários:

  1. Muito interessante posicionamento do conterrâneo florestense explanando vários pontos pendentes da nossa cidade sertaneja.

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  2. FLORESTA, MINHA TERRA, MINHA VIDA! ADORO VC....

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    1. O município de Floresta já foi bom e promissor, mas depois dessas confusões não presta mais não.Xô Róró

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    2. A briga entre as família Ferraz e Novaes ganha mais um capítulo com essa briguinha de César de Gogô e Tito de Gracinha.Lamentável esse quadro pra nossa cidade.

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  3. Totalmente equivocada a administração de Roró.Não se elege nunca mais, ficará igual a Nêgo Novaes.Kkkkk

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  4. Floresta será sempre assim. Numa cidade onde a maioria só pensa no próprio umbigo e se deixam levar por propostas passageiras não sai do buraco nunca. Floresta tem um rico potencial turístico e cultural que nunca, NUNCA foi explorado! Invejo a bela e agradável Triunfo, a qual visito umas três vezes ao ano, antes só, agora acompanhado. Floresta tem os nacionalmente conhecidos Rio Pajéu e Riacho do Navio, eternizados pelo Rei do Baião, sem falar no São Francisco. Temos reservas naturais protegidas por leis. Temos vestígios de povos antigos e escrituras rupestres as margens do Pajeú. Nossa cidade tem remanescentes da cultura indígena, quilombola. As consagradas missas do vaqueiro hoje em dia viraram comércio, quase uma micareta! Floresta apresenta seu magnífico casario que cercam os tamaridos centenários que deram título a cidade. O nosso cemitério nem se fala, até poema já recebeu de João Cabral de Melo Neto, onde é chamado de "Constantinopla". Floresta tem atrativos para visitantes, mas o que querem mostrar?! Os cantores da moda! Lembro-me de quando trouxeram Dominguinhos para homenagear Floresta pelo seu centenário. Uma bela apresentação que foi ignorada pela maioria população e "ofuscada" pela apresentação da banda Calypso. Floresta foi, é, e sempre será esse balaio cultural mal aproveitado por seus moradores!

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  5. Assino embaixo todo o relato do conterrâneo completamente lúcido no seu comentário competente de gente que conhece o riscado e sofre com o descaso do nosso município abandonado a perdes divisas no Estado.

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    1. Do pessoal de Floresta que eu soube tiveram prisão decretada Tito, Nino de Gracinha e Glauco.Lamentável!

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  6. Antonio Carlos Gomes12 de julho de 2012 às 19:15

    Recebo o Jornal do Commercio hoje logo cedo e vejo na capa "USTIÇA MANDA PRENDER QUATRO DA FAMÌLIA FERRAZ".Abro a página Cidades e leio a repetição da manchete citando Briga Entre Clãs, dando a entender a volta de Ferraz X Novaes.Será que isso procede? Será da vez que nossa querida Floresta se acaba.Ninguém suporta mais a fama de cidade violenta!

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  7. VAI COMEÇAR DE NOVO O MATA MATA DA CIDADE QUE NEM ESTRADA TEM E DAQUI UNS DIAS NÃO MORA NINGUÉM.BASTA DE ATRASO.

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