JERICÓ NÃO PALESTINA! - REPORTAGEM DE MAGNO MARTINS

A Jericó não palestina, que a seca devastou tudo, até a esperança

Jericó é uma antiga cidade bíblica da Palestina, situada às margens do rio Jordão, encrustada na parte inferior da costa que conduz a serra de Judá, a uns 8 km da costa setentrional da parte seca do Mar Morto e aproximadamente a 27 km de Jerusalém. Foi uma importante cidade no Vale do Jordão, na costa ocidental do rio Jordão.

Descrita no Velho Testamento como a 'Cidade das Palmeiras', abundantes campos ao redor de Jericó têm feito dela um sítio atrativo para habitação humana por milhares de anos. Ela é conhecida na tradição judaico-cristã como o lugar do retorno dos israelitas da escravidão no Egito, liderados por Josué, o sucessor de Moisés.

Do lado de cá dos trópicos, sem os abundantes campos ao seu redor, existe uma Jericó também. Diferente da terra que abrigou os israelitas, a Jericó nordestina, encravada em território pertencente ao município de Triunfo, não acolhe. Expulsa. Não a cidade em si, um rancho pacato, onde a vida passa mansa e devagar, mas a seca, que afugenta sua vida de forma implacável
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A Jericó pernambucana não é lugar de retorno como a que é encravada em terras palestinas. Ali, ninguém retorna depois que escapa da morte matada pela fome e sede. Aproximadamente 2,5 mil pessoas encontraram seu cantinho por lá não por opção, mas por destino.“Nasci aqui porque meu pai, agricultor, nunca pensou em morar em outro lugar, mas a nossa vida é de sofrimento”, diz Maria Josilene, 28 anos, bolsista do programa de renda Bolsa Família.

O sofrimento externado por Josilene está numa rotina cruel da convivência sem um componente imprescindível para a vida – água. Jericó não tem água nas torneiras, carros pipas abastecem a vila e a parte rural. A única fonte de água é um poço artesiano, localizado próximo a uma escola, cujo manancial está se esgotando.

Aos que têm um dinheirinho para consumir uma água não salobra, como a da escola, só resta meter a mão no bolso e pagar R$ 20 por uma carrada de mil litros que vem de uma fonte mais distante – a chamada Serra Pelada.“Nossa maior luta aqui é pela água, saneamento e extensão dos programas sociais, porque não há emprego para ninguém”, desabafa Djaci Souza, eleito vereador. Dos 224 votos que obteve no município, 176 saíram de eleitores da sua Jericó.

No Alto Bom Jesus, Maria de Fátima do Nascimento paga uma taxa de R$ 2,68 de energia a Celpe, que nunca concluiu a rede pública da vila. Lá, todas as famílias, grande parte contemplada pelos programas sociais do Governo, ganham uma casinha para morar, mas ali falta de tudo: de luz a água na torneira.“Eles instalaram os postes, mas a energia nunca apareceu. Mesmo assim, a taxa chega todo mês para pagamento”, reclama Fátima.

 Único vereador eleito para representar Jericó na Câmara de Triunfo, Djaci aponta outra ferida braba: a falta de escolas de segundo grau na vilaEm Triunfo, as maiores taxas de evasão escolar se situam exatamente entre os jovens alunos de Jericó. Os que moram na zona rural acabam abandonando a escola por falta de transporte. “A Prefeitura começa a transportar os alunos e depois os abandona. Não há quem possa ficar pagando condução”, reclama o parlamentar
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Não é apenas gente que sofre os males da seca em Jericó. O gado, principalmente. “Duas vaquinhas que eu criava perdi, porque não tive mais ração para manter”, reclama José Alves da Silva, do sítio Manejo. Jericó fica a 6 km da divisa com a Paraíba, tem muito mais dependência com a vizinha cidade de Princesa Isabel do que com Triunfo, a quem pertence.

Como a vila não tem hospital e apenas um posto médico, doentes mais graves são levados para Princesa Isabel, que os acolhe como se fossem paraibanos, sem distinção. “Pedir socorro a Triunfo fica mais caro. Além disso, a gente arrisca chegar lá e não encontrar nem médico nem remédio”, disse Severino Nascimento, que mora no centro da vila.