quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O HISTÓRICO PATOS DE IRÊRÊ - PB


Vista do povoado Patos do Irêrê - PB



O Casarão dos Patos

Capela dos Pereiras - Padroeiro São Sebastião

Casa de Marcolino e Xandu nos Patos

 Antônio Antas aponta  área onde princesenses atacaram
 tropas de Quelé. Verdadeira memória viva da região.


Vista parcial do povoado  Patos do Irêrê
Arruado dos mais tradicionais moradores

Segredos de Patos do Irerê



"O Caboclo Marcolino
Tinha oito bois zebu
Uma casa com varanda,
Lá no fundo do Paú
Marcolino dava tudo,
Por um cheiro de Xandú"...


Vamos lá. Aqui, estão localizadas, habitadas e ainda de pé as casas que pertenceram ao famoso caboclo Marcolino e a seu irmão, Antônio Pereira, ambos dotados de um quilate de bravura sem igual.



As casas imitam a arquitetura de um solar português e foram construídas antes de 1910. As paredes, com 70 centímetros de largura, eram tão seguras que Marcolino mandou construir uma passagem secreta entre elas, para esconder-se da polícia. "O homem sumia dentro de casa como por encanto. Depois, quando a polícia ia embora, ele reaparecia", conta Antônio Antas Dias, 60 anos, residente no município sertanejo de Manaíra, que conheceu de perto o caboclo Marcolino. Dias ainda é membro da família Pereira, a qual pertencia Marcolino.O Sr. Antônio Antas tinha 61 anos na época da entrevista, onde as informações que ele prestou lhe foram transmitidas principalmente por Marcolino Diniz, de quem era parente, pelo guarda costas deste último, Manoel “Ronco Grosso” Lopes, por José Florentino Dias, seu pai, e pelo senhor Sebastião Martins, moradores do distrito de Irerê.



Patos do Irerê se dá ao luxo de ser a primeira região da Paraíba a usar a luz elétrica. Foi em 1909. João Pessoa e Recife só passaram a gozar deste benefício a partir de 1912. O responsável por esta proeza foi o major Floro, na época chefe político em Irerê. Ele adquiriu um gerador elétrico que acendia 12 lâmpadas. Sucesso total. Também foi Floro quem mandou construir a Igreja de São Sebastião, situada, hoje, no centro de Patos do Irerê.



O que pouca gente sabe é que Floro era sogro e tio do caboclo Marcolino, além de tio de dona Xandú, esposa de Zé Pereira, chefe político em Princesa Isabel, nas décadas de 1920 e 1930. Também é bom esclarecer uma dúvida histórica: em Patos do Irerê existiam três Xandús. Uma era a esposa de Zé Pereira, filha do poderoso coronel Marçal. A segunda era Xanduzinha, mulher do caboclo Marcolino. A última era Xandú Joca, mulher de Antônio Pereira. Todas as Xandús eram parentes. Na verdade, o pré-nome delas era Alexandrina.



Trama da revolução de 1930



Em Patos do Irerê, nos dias atuais, a população ainda é aparentada. E ninguém deve se espantar se, ao dobrar uma esquina, topar com um ascendente próximo do caboclo Marcolino. Aqui, ocorre uma surpresa a cada passo. Aconteceu comigo. Conheci e apertei a mão de Ivaldo Pereira Diniz, 64 anos, sobrinho-neto de Marcolino. Ivaldo falou que, em 1930, seu tio e o coronel Zé Pereira organizaram o primeiro movimento de apoio ao então presidente Washington Luís, que a todo custo queria tirar o poder e o prestígio político do então governador da Paraíba, João Pessoa.



Circulava gente fardada ou à paisana em Irerê. O povoado tinha um armazém e lojas que vendiam tudo. A casa do caboclo Marcolino, que é a sétima da rua coronel José Antas, em Irerê, ficava no epicentro comercial do lugarejo. Sentado na calçada, com seu indefectível charuto e terno branco de linho irlandês, Marcolino passava as ordens a seus comandados. Ninguém ousava desobedecê-lo.



Para quem ainda não sabe, Marcolino chegou a cursar dois anos na Faculdade de Direito, em Recife. Quando eclodiu o movimento de 1930, ele cancelou a matrícula e voltou para Patos do Irerê. Brigou junto com Zé Pereira. Por muitos anos, passou a ser chamado doutor Marcolino. Uma ordem dele valia como ouro. Não precisava nem assinar documento.



Quando as tropas da Polícia Militar cercaram Irerê, a fachada da casa de Marcolino foi picotada pelas balas. Hoje, devidamente restaurada, é ocupada por Adelmo Antas, descendente de um dos pioneiros do lugar. Adelmo descobriu a passagem secreta construída por Marcolino. A parede oca não existe mais. Ocupava muito espaço. O esconderijo do caboclo ficou protegido pelo anonimato por mais de 70 anos.



Antônio Antas Dias desfez uns equívocos tradicionais cometidos por quem, até agora, ousou contar a história de Patos do Irerê. O caboclo Marcolino Pereira era cunhado e parente de Zé Pereira. Mas, o pai de Zé Pereira também se chamava Marcolino. Foi ele e o major Joaquim Florentino Rodrigues, o conhecido major Floro, que fundaram Patos do Irerê. Na Igreja de São Sebastião, estão sepultados os corpos de Joaquim Marinheiro, coronel Marçal e de dona Xanduzinha, neta de Marinheiro, mulher do caboclo Marcolino, além de outros pioneiros da região.



Saiba mais



Irerê é um pato selvagem ainda encontrado nos baixios de Patos do Irerê. Dizem que o nome do lugarejo vem desta ave selvagem. Ao voar, ela emite um grasnado parecido com o seu nome: i-r-e-r-ê. A primeira casa que entramos em Patos do Irerê foi a que pertenceu a Antônio Pereira, irmão de Marcolino. Muito alto, o prédio é construído com paredes triplas de tijolo prensado. Os caibros estão lá. São de cedro. As linhas, originais, são de barro. O fogão foi restaurado em 1972, pelo artesão Zé de Mocinha. É de tijolos. Funciona à lenha.



A dona da casa era Xandú, a segunda mulher de Antônio Pereira. Ela promovia festas que duravam nove noites. Uma banda contratada em Princesa Isabel tocava do dia 10 ao dia 19 de janeiro, comemorando São Sebastião. As danças amanheciam o dia. São Sebastião tornou-se patrono da área por causa de um surto de varíola que, no início do Século XX, matou muita gente na região. Com o santo é considerado o protetor contra as pestes, acabou eleito padroeiro. Ganhou o trono e reina até hoje.

Patos Irêrê é Berço de Famílias influentes e prosperas na região, Pereira, (Pereira Lima), Florentino, Diniz, Antas, Martins, dentre outras, oriundas de regiões circunvizinhas e estados fronteiros como Paraíba, Pernambuco e Ceará.

Fonte: A Batalha do Casarão dos Patos/ Rostand Medeiros




"Este artigo já havia sido anteriormente publicado e reproduzido em sites de vários de amigos por este Nordeste afora, que colocam a devida referência em relação ao autor e vários outros sites que nem se preocupam com isso. Mas decidi colocar o meu próprio blog, com novas fotos para quem gosta destas antigas histórias do nosso sertão.
Um detalhe importante. Já faz um tempo que não vou por lá, nem sei se o casarão está mais de pé, mas se tiver, visite enquanto é tempo."



Um abraço a todos,
Rostand

6 comentários:

  1. Também parece que vocês estão por dentro de tudo! Juro que jamais saberia de tanta informação sobre aquela localidade onde originou-se minha minha família.

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  2. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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    1. nos patos já foi muito bom. as festas eram animadas.

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  3. Aconselho a todos assistirem ao documentário "A Princesa do Sertão" que conta muitas das histórias sobre a revolta de Princesa.

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  4. Muito legal, meu avô é desse distrito e hoje mora em Belo Horizonte, ficou todo emocionado quando li essa página pra ele e disse "na internet tem de tudo, não é possível"! Ótimo trabalho, parabéns.

    O meu avô é José Afonso que mora em BH desde 1967. Se alguém o conhecer ou algum parente, entre em contato ele ficará feliz.

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