quarta-feira, 3 de julho de 2013

CRÔNICA - "CARNE DE SOL NA BRASA "



Sábado por volta das onze horas, fui ao aeroporto buscar um amigo que vinha de Brasília. Quando ele chegou, após os cumprimentos corriqueiros, fomos almoçar no Tio Pepe. Fazia sol, escolhemos uma mesa ao ar livre, numa sombra de castanholeira. Enquanto esperávamos a carne de sol, tomávamos cerveja e conversávamos sobre os últimos acontecimentos. 
Ele, petista, defendia o partido com unhas e dentes, falava-me das melhorias sociais; enaltecia o regime cubano; acusava a mídia de macular a imagem do PT; criticava os governos anteriores, principalmente, o de FHC e os dos militares – “A corrupção antigamente era bem pior, só que não vinha à tona. Se hoje em dia é assim, avalie naquela época!”, dizia ele. –; elogiava o pronuciamento da presidente, e por aí vai.
O camarada não me dava espaço para falar. Irritei-me e disse-lhe: 
– Vamos organizar a nossa conversa, até agora só quem falou foi você; deixe-me dizer alguma coisa, escute-me até o final e depois você rebate. Está certo?
 – Tudo bem, vou escutá-lo até o fim.
 – Pois bem, você demonstra simpatia ao governo de Cuba. Agora, me diga, por que muitos se arriscam, pelo mar, na tentativa de fuga? Por que o governo os mantem como se fossem prisioneiros? Que liberdade é essa? Você insinua que a corrupção no Brasil, na época dos governos militares, era pior. Que eu saiba, nenhum general que governou o nosso país ficou rico. E deixe de ser ingênuo; essa turma da esquerda não é tola. A primeira coisa que eles devem ter feito ao assumir o poder foi uma auditoria minuciosa. 
Como, por certo, não descobriram nada de relevante, tentam, atualmente, via comissão da verdade, construir uma nova história tachando os militares de vilões. Aproveitando a nossa conversa, me diga, quantos foram as vítimas aqui no Brasil? Compare com os milhões de mortos no regime que você tanto defende, e que seus heróis queriam implantar por aqui.
Ele ficou sério, desviou levemente o olhar, pegou um guardanapo, fez uma bolinha de papel e, com a mão direita, começou a amassá-la; dei um generoso gole na cerveja e prossegui.
– Você fala em legado do lulismo e do PT, na economia e no social, mas veja que a educação, a saúde, a segurança (nunca houve na história deste país tanta violência!), os transportes públicos, os costumes, enfim, tudo vai muito mal. A dívida, principalmente a interna, está nas alturas; a inflação começa a assustar novamente... Você não vê nada disso? Sua acusação à mídia não faz sentido algum.
Pois, ela, ao que parece, faz o jogo do poder; as denúncias que revela são fichinhas. Não vejo os meios de comunicação atacar as questões basilares, os projetos da esquerda. Não me venha com seu discurso de vítima da mídia, porque não cola. Você sabe muito bem que ela segue ideologia da esquerda. Se não é assim, então, por que a mídia blindou o Foro de São Paulo?
Fiz uma pausa esperando que o meu amigo contrapusesse meus argumentos. Mas ele emudeceu. Ficou pensativo, talvez não soubesse o que dizer. Foi salvo pelo Galego, o garçom, trazendo a carne de sol coberta com queijo coalho derretido, acompanhada de feijão verde, vinagrete, macaxeira, arroz e farofa de jerimum. Aí não teve jeito, diante daquela imagem e do aroma agradável de assado na brasa, o estômago falou mais alto, e esquecemos até do que conversávamos.
Ednaldo Bezerra é estudante de licenciatura em Letras da UFPE

2 comentários:

  1. Muito bem Ednaldo Bezerra, voce conseguiu retratar toda uma realidade vivida por a gente que sofre nesse desmantelo petista.

    ResponderExcluir
  2. Anita Carneiro Lopes7 de julho de 2013 às 19:40

    Esse senhor escreve bem. Gosto de ler as crônicas dele no blog. Ele é de qual família em Triunfo? Será que conheço?

    ResponderExcluir

Caro leitor, seja educado em seu comentário. O Blog Opinião reserva-se o direito de não publicar comentários de conteúdo difamatório e ofensivo, como também os que contenham palavras de baixo calão. Solicitamos a gentileza de colocarem o nome e sobrenome mesmo quando escolherem a opção anônimo. Pedimos respeito pela opinião alheia, mesmo que não concordemos com tudo que se diz.
Agradecemos a sua participação!

NOSSOS LEITORES PELO MUNDO!