Final de 2014 e início de 2015 foram
catastróficos para o meio ambiente no Brasil. Várias notícias na mídia mostram
o quanto à natureza tem sido “violentada”. E a eterna contradição entre o
discurso e a prática está mais que presente na política brasileira.
Relaciono alguns destes eventos
e situações – confira:
– O desmatamento continua
crescendo na Amazônia Legal – segundo informações produzidas pelo Sistema de
Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia
(Imazon). No mês de janeiro 2015 foram desmatados 288 km2,
representando um aumento de 195% superior ao mesmo mês em 2014. Em fevereiro e
março foram desmatados, respectivamente, 42 km2 e 58 km2,
representando, em relação a 2014, aumentos de 169% e 282%. A devastação
acumulada de agosto de 2014 a março de 2015 chegou a 1.761 km2,
equivalente a um crescimento de 214% em relação ao mesmo período anterior do monitoramento.
– Na contramão dos esforços
internacionais, o Brasil se recusou a assinar a “Declaração de Nova York sobre
Florestas”, durante a Cúpula do Clima que aconteceu em setembro de 2014. Esta
declaração, considerada como uma carta de intenções foi assinada por mais de 30
países (Estados Unidos, Canadá, União Europeia e outros), além de dezenas de
empresas, organizações ambientalistas e povos indígenas. Uma vez implementada
poderá reduzir pela metade a derrubada das florestas no mundo até 2020, e zerar
por completo o desmatamento até 2030.
– O Observatório do Clima (rede
de ONGs com atuação na área climática nacional) divulgou em novembro de 2014
que as emissões de gás carbônico atingiram em 2014 o maior valor desde 2008
(1,57 bilhões de toneladas de CO2 equivalente), revertendo assim uma
tendência observada desde 2005 no país, com as emissões diminuindo ano a ano,
devido às sucessivas quedas no desmatamento. Ao longo dos últimos anos, o
perfil de emissão do país tem se aproximado do modelo das nações industrializadas,
nas quais a geração de energia e a indústria são as atividades que mais emitem.
– Na primeira semana de abril de
2015, ocorreu uma grande mortandade de peixes na lagoa Rodrigo de Freitas, no
Rio de Janeiro. Segundo a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), a
quantidade de peixes mortos chegou a 54,3 toneladas. Jornais estrangeiros
qualificam este episódio como “catástrofe ambiental”, sem que os órgãos
ambientais do Estado, a Secretaria do Ambiente e o Instituto do Ambiente (Inea),
tenham chegado à conclusão do que motivou o desastre ecológico.
– Também durante os 9
primeiros dias de abril de 2015, em Santos, no litoral de São Paulo, um
incêndio de grandes proporções atingiu o Terminal da Alemoa. Foi lançado no
estuário de Santos efluentes líquidos, atingindo manguezais e a lagoa ao lado
do terminal, além da emissão de efluentes gasosos na atmosfera, colocando em
risco a segurança das comunidades próximas, dos funcionários e de outras
instalações localizadas na mesma zona industrial. A empresa responsável pelos
tanques de depósito do material inflamável, a Ultracargo, ocasionou incômodos
significativos no bem-estar da população e provocou a mortandade de milhares de
peixes de várias espécies, no estuário e no rio Casqueiro, em Cubatão (SP),
prejudicando a pesca na região.
Enquanto
tudo isso ocorre no país, o relatório “How
Many More” da organização britânica Global
Witness, divulgado em 20/4/2014, mostra que nosso país teve o maior número
de ativistas do meio ambiente assassinados em 2014, com 29 homicídios
registrados. O Brasil “carrega” a triste marca de liderar mundialmente o
ranking de perseguição e morte contra ambientalistas.
Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
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