quarta-feira, 26 de agosto de 2015

NO PAÍS DO MOMENTO, TANTO CABE MORTE E VIDA SEVERINA, QUANTO AS MENTIRAS DO MACUNAÍMA - POR LUIZ SAUL

 

Não há mais limites para o exercício do surrealismo político no Brasil. Aqui está cabendo tanto o lirismo dramático de Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, quanto a sordidez e as mentiras do Macunaíma, de Mário de Andrade.

Basta notar que os novos severinos se acotovelaram para aplaudirem a tri reinauguração da transposição do São Chico na etapa de uma estação elevatória de uma água que poderá demorar mais uma eleição para chegar às torneiras e às roças. É um projeto colossal e libertador que vem se arrastando em um avanço enganoso ao ritmo de campanhas eleitorais ou de recuperação de imagem, como é o caso presente, sem esquecer as eleições de 2016. Tudo parece se ajustar.

Na outra janela, nos deparamos com o Joaquim Levy, um personagem absolutamente improvável no governo de agora, e que vem sendo aos poucos convenientemente desmistificado pelos argumentos do PT e do PMDB da condição de fiador da política econômica atual. Habituados à frouxidão das cordas, os petistas identificaram-no ainda na origem como inimigo. Agora, peemedebistas do tipo Michel Temer, Eliseu Padilha e Romero Jucá, além de outros, ensaiam suas críticas contra a austeridade necessária que mais parecem a construção dos argumentos para justificar o desembarque do partido da coalizão mula sem cabeça.

É como se esses conspiradores ignorassem que a austeridade das inadiáveis medidas impopulares sugeridas por esse ministro é fruto do desmazelo que vinha sendo praticado à larga, ora pela tibieza do antecessor, ora pela péssima visão da economista e gestora sapiens. Se tivesse comparecido a todas as aulas do curso de macroeconomia, talvez até refreasse ou prevenisse a crise. Comprou o “deproma”.

Mas, o nó górdio em que se transformou o Levy parece caminhar para ser desatado pela pressão desses acólitos do desmanche nacional. Basta notar o financiamento que se abriu para a indústria automobilística, sem a expressa garantia da criação e manutenção de empregos, circunstância tal que tende a minar a filosofia de reconstrução econômica do modelo defendido pelo ministro não apenas pela ausência da garantia, mas principalmente pela retomada de práticas anteriores responsáveis em grande parte por todos os problemas. Esse tipo de abertura lembra o soneto As Pombas: vai-se uma, depois outra, depois outra... 

Se o ministro pedir o boné, ou se lhe tomarem a estrela de xerife, assumirá o Nelson Barbosa, do Planejamento, ou, em derradeira e desesperada esperança chamam o Armínio Fraga, idealizado pelo Aécio, para fazer as mesmas coisas. 

Os severinos continuarão as suas sinas e o macunaíma jamais encontrará a sua pedra da sorte.

2 comentários:

  1. Excelente comparação feita....

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  2. Carlos Alberto Olvieira26 de agosto de 2015 às 17:56

    O senhor Luiz Saul Pereira não sabe como tem conquistado leitores com suas postagens inteligentes, mas também cheias de humor.

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