Outro dia andei falando sobre a comparação do enfrentamento da falta
d’água no sul maravilha e no Nordeste, de onde eu venho. Metido a
profeta de botequim, vaticinei que, no caso do eixo Rio/São Paulo, as
soluções, a tecnologia e o dinheiro logo seriam festivamente alocados
sem limites, de forma a garantir saciar a sede da população.
Com efeito, apesar de umas pequenas dificuldades as obras andam a todo vapor para evitar o colapso, e logo jorrará água em todas as torneiras, em que pese escoarem pela cidade de São Paulo, nas narinas tapadas dos governantes, os rios Tamanduateí e Tietê, dentre outros, praticamente mortos, sem um esforço efetivo de ser despoluído, a exemplo do Tâmisa e do Sena, os quais em idênticas condições de agressões urbanas, são atualmente piscosos e potáveis.
“Profetizei” também que, no caso do Nordeste, a hipótese da transposição do Rio São Francisco haveria de passar ainda por, pelo menos duas eleições, ainda que a dilma arremedasse inaugurações mandrakes em que o líquido precioso foi elevado a um depósito artificial, sem a menor possibilidade de alcançar as torneiras das casas e das roças pelo prosaico motivo de não haver ligações hidráulicas nem previsão de verbas para tal.
Resulta que, com a instalação da crise há tanto tempo anunciada, o Ajuste Fiscal gestado pela madama presidente definiu a redução das verbas do PAC e da Minha Casa Minha Vida e de outros programas sociais.
Como decorrência, a lógica aponta que a tal transposição do São Francisco que já consumiu (Deus sabe como!) tanto dinheiro do contribuinte deverá esperar talvez a terceira futura campanha eleitoral, para quem sabe, permitir o banho dos pequenininhos, o “dicumê” de cada dia, a aposentadoria da lata d’água na cabeça e da ancoreta no lombo do burro.
Tudo se assemelha ou se resume em uma questão de percepção. O governo (não esse, mas todos) parece ver o nordestino como um camelo que quase não precisa de água, mas percebe a falta d’água no sul/sudeste como uma questão humanitária que precisa de ser equacionada para prevenir uma catástrofe.
Não é sem motivos que o cientista Stephen Hawking, famoso por tudo que lhe envolve, inclusive a biografia da Teoria do Tudo, vem há muito sondando a existência de um “buraco de minhoca” no espaço em condições permitir a migração dos terráqueos para outros astros, por intermédio dessas supostas “cavernas” espaciais que serviriam de atalhos temporais. É que a vida neste planeta está irremediavelmente condenada. Questão de tempo, questão de água, questão de hiper adensamento populacional, questão de alimento. Nascem 4 seres humanos a cada segundo e não morre o mesmo tanto. Vai demorar um pouco, mas é inexorável o desastre. Não adianta ironizar ou descrer.
No caso do Brasil, o país sequer começou a cuidar com seriedade da crise hídrica como se demonstra o tempo todo, e se assiste ao definhamento de um aquífero da importância e porte do Rio São Francisco, e mesmo do Tietê, que transita morto em entre as marginais paulistas, como já afirmei.
Noutros países com a adequada educação e responsabilidade para perceberem a importância do chamado líquido precioso, as autoridades tratam a preservação dos seus mananciais como o filho dileto, ou talvez como a mãe mantenedora. Basta olhar para o Rue de Rhone, em Genebra, o Tâmisa, em Londres, o Hudson, em Nova York, dentre outros.
Todos passam pelo meio das cidades, são piscosos e potáveis. Tudo decorre da responsabilidade governamental em proteger e preservar. No caso do Hudson, o governo de lá comprou, indenizou, expropriou, e o que foi necessário, grandes espaços das margens do rio para assegurar a manutenção das matas ciliares para a garantia da sobrevida e prevenir os desbarrancamentos.
Já por aqui, despejamos os esgotos nos rios, plantamos com “inocentes” venenos nas encostas e provocamos o assoreamento como uma espécie de esporte rural. E ainda devastamos as florestas e infestamos a atmosfera ignorando a relação causa e consequência da preservação desses meios para a sustentação da vida, para, só então, pedirmos socorro a Deus e a São Pedro, como se Eles fossem os responsáveis pelo desastre.
É como se a proteção à biosfera fosse apenas uma expressão sofisticada de quem quer aparecer. É também como se não soubéssemos que as soluções são terrenas e não celestiais ou divinas. Questão de arbítrio.
De minha parte, estou esperando um buraco de minhoca espacial ou talvez uma carona disfarçada de abdução.
Que sabe dá tempo...
Por: Luiz Saul Pereira
Em todo o Nordeste
ResponderExcluirAMEI.
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