FIQUEMOS VIGILANTES, DURMAMOS APENAS UM OLHO DE CADA VEZ - POR LUIZ SAUL

É importante se praticar a vigilância permanente sobre as coisas do Planalto como forma de desmistificar a tese de que para brasileiro tudo é samba, futebol e bunda, e que por isso não se compromete com os interesses e os rumos da nação.

Esse alerta tem em conta a aparência de cansaço que muitos brasileiros começam a ensaiar com as notícias a respeito da Operação Lava Jato que se apresenta como reveladora da continuidade delitiva migrada do mensalão. Não me parece deva a população sequer pensar em se descolar dessas notícias que afinal trazem tanto alento ao combate à impunidade que há tanto caracteriza o comportamento zombeteiro de um razoável contingente dos chamados homens públicos associados a uma parcela da iniciativa privada. 

É importante considerar que essa operação se encontra em plena expansão, como afirma o Procurador Federal Carlos Fernando dos Santos Lima, que, aliás, aponta a Casa Civil da Presidência da República como a célula matriz de todas as corrupções ora investigadas. De igual sorte, a demonstração de interesse e de vigilância constitui o melhor apoio e proteção aos atos do Juiz Sérgio Moro, esse raro magistrado que, juntamente com a PF e MPF vem montando o quadro de demonstração de tantos crimes daqui.

Vai que essa chuva de notícias acerca do assunto, longe de gerar algum tipo de intolerância ou má vontade, deveria ser percebida como o melhor sinal de mudança dos tempos e da proteção do contribuinte. 

De notar, a propósito, a nova delação premiada do lobista Fernando Moura que, segundo as notícias, esmiúça os graves ferimentos às leis por ele próprio, e por tantos agentes públicos da intimidade do governo. Não se pode desperceber também os indiciamentos e as condenações em andamento em decorrência dessa Operação, com importantes repatriamentos de dinheiros espúrios enviados a paraísos fiscais.

Aliás, espera-se agora o acordo de delação que está sendo negociado pelo outro Fernando, o Baiano, em condições de ampliar as responsabilidades para representantes de outros partidos que não o PT, de modo a oferecer o melhor mapa da corrupção. 

Ainda agora chega a notícia da extradição do Henrique Pizzolato, que, se não determina recuperação das verbas desviadas, garante pelo menos o efeito pedagógico que o cumprimento da pena pode sugerir. 

Além disso, cego às cores das legendas, o STF acaba de determinar a abertura de inquérito por crime eleitoral do Ministro Mercadante (PT-SP) e do senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), como a demonstrar o interesse no esclarecimento das questões, sem olhar para o partido. Para completar, têm as condenações do João Vaccari Neto e do Renato Duque, como também do André Vargas. Tudo aponta para uma assepsia, por mínima que pareça.

Mas, nem tudo é tão simples que mereça o alheamento da sociedade. Hoje, por exemplo, estão sendo fatiadas as investigações até aqui conduzidas pelo conjunto PF/MPF/Juiz Moro, a partir do apartamento da causa envolvendo a senadora Gleisi Hoffmann (PT), ainda que o leigo aponte nexo causal dos desvios com a senadora. Não demora muito e as defesas de alguns cabeças coroadas do crime vão solicitar o desaforamento da avaliação dos seus clientes. Com o aplauso e a torcida dos implicados, naturalmente. 

Dessa forma, não parece caber o cansaço, nem a rasteira expressão de estar de saco cheio com as informações que todo dia são renovadas nos noticiários sobre o tema, para o constrangimento da sociedade, mas também para o regozijo pela aplicação da justiça. 

Aplaudir e perseverar na espera da assepsia afigura-se melhor do que se cansar de ler e ouvir aquilo que representa o melhor esforço e suor daqueles que creem na apuração das irregularidades e especialmente na aplicação dos proporcionais castigos. 

Certa vez disse o Lula que a esperança venceu o medo. Hoje, o brasileiro pode afirmar que a justiça está vencendo o crime.
Durmamos apenas um olho de cada vez.

 Por: Luiz Saul Pereira