sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

À LUZ DE UM SOTAQUE NORDESTINÊS... "AUS CONTRÁUS!" - POR LUZ SAUL




Sendo egresso e ligado umbilicalmente às coisas do Nordeste, e ciente da insegurança que os riscos da seca e outros males permanentemente impõem ao seu povo, tenho enorme dificuldade de compreender algumas contradições tatuadas nos comportamentos de alguns conterrâneos, especialmente dos políticos. 


Até que poderia me deter somente nas secas alimentadoras de tantos cenários de ilusão e de promessas iníquas repetidas nas perversidades quadrienais. Mas, tem outras coisas como o descaso e o desapreço governamentais do centro do Poder, o preconceito social em tantas situações que tisnam as relações de um povo dito civilizado. 

E o pior é que não parece haver reação. Ainda agora, um grupo de governadores, especialmente do Nordeste, como a ignorar o desamparo a que está sujeita a região, revela-se incapaz de uma reflexão sobre os responsáveis pela crise que a fustiga. Sem credo, sem espírito crítico, sem ideologia, sem motivação lógica e sem a perspectiva de um plano de ajuda ou de recuperação, simplesmente se arrebanham para a defesa de um governo populista que já esgotou o erário, a moral, a credibilidade e a esperança de dias melhores. 

Não é pecado ser contra o impeachment, até porque ainda acho que não deverá ser confirmado no Congresso. O atual governo certamente cairá por outros motivos, como seja a privação e a transgressão da inteligência e das ações.

Mas, a ausência de uma reflexão crítica impede que esses governadores, compreendendo, por exemplo, que a falta d’água constitui o maior problema da região, comparem as soluções apresentadas para as crises hídricas do Sudeste e do Nordeste. 

No primeiro caso, os governadores reuniram-se com as bênçãos do STF e do Governo Federal, e já produziram uma solução para desviar o Rio Paraíba do Sul para os reservatórios paulistas, cariocas e mineiros, mediante uma administração tripartite que precaverá novas dificuldades antes mesmo de que se apresentem. 

Já no segundo caso, fala-se de uma transposição de um rio à beira da morte que produz e reproduz inaugurações de palanque e inócuas, que vem se arrastando há anos, consumindo rios de dinheiros, devidamente fatiados para desvios criminosos, como acaba de apontar a Polícia Federal e o Ministério Público numa das bifurcações da Operação Lava Jato, cuja fase foi apropriadamente batizada de Vidas Secas. Secas, para uns, é claro.

Esses governantes estaduais, senhores arrogantes dos mandatos, pecam pela inconsideração com as desditas dos seus representados, que, além do pires na mão, além do bolsa família, obrigam-se a se contentarem com o fornecimento raro e gotejado de água contaminada pelos caminhões pipa contratados em negociações nebulosas e enriquecedoras de alguns. Noutra hipótese, restará ao povo migrar para o sul maravilha e sofrer as consequências do desemprego de um país em desconstrução. Mas, esses políticos ainda posam de heróis. 

Repetindo, não é pecado defender a permanência da dilma, mas é indispensável a observação de responsabilidades nas escolhas no sentido de propiciar a minoração das dificuldades do povo. Nesse sentido, apoiar o mesmo do mesmo não sugere outros eixos de soluções para pelo menos abrandar os sofrimentos à luz de um sotaque nordestinês. 

Hoje, eu me percebo dividido entre permanecer na Brasília desvairada ou voltar para o Nordeste, em Pernambuco, terra aonde, se do céu não cai o bíblico maná, chove dinheiros aos borbotões. Nem precisaria de guarda-chuva, ficaria com o guarda dinheiro aberto ao contrário. Ou, como diria, um dileto amigo meio cearense, meio maranhense, meio paulista, e meio brasiliense, aus contráus.


Por: Luiz Saul Pereira
        Brasília - DF

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