terça-feira, 15 de dezembro de 2015

DEVEMOS ACREDITAR E TORCER...OREMUS! - POR LUIZ SAUL





Em outras circunstâncias e, principalmente em outros países sérios, a Operação Catilinária desfechada pela Polícia Federal à ordem do STF, em que se registrou um enorme aparato de busca e apreensão em casas e escritórios de tantas proeminências da República, determinaria renúncias e fins de carreira de muitos, quando não a morte por enforcamento, fuzilamento, ou ainda, o simples suicídio.


Mas, aqui, não! A corriqueira concentração de carros negros da PF às portas de tanta gente já nem comove o distinto público, e, no máximo, desperta a curiosidade sobre o aparecimento daquele carcereiro japonês conduzindo os seus “convidados” às dependências da “hotelaria” curitibana. Pior que isso, essas movimentações policiais também não conseguem inibir ou reduzir os comportamentos das tropas de choque de cada ou qualquer lado, as quais seguem desfilando o mesmo cinismo e realizando as mesmas ações.

Da forma como se instalou no Brasil, o instituto da impunidade minimizou o delito e maximizou o deleite, democratizando a construção de teses de perseguição política em que se escondem todos os procurados ou atingidos pela autoridade policial. E não há de se dizer que se trata de meras investigações de suspeitas. Na maioria dos casos está se falando de casos com provas provadas, mas que, mercê das enxurradas recursais e dos melindres previstos na frouxidão das leis permitem que a maioria dos colarinhos brancos se mantenham zombeteiramente à margem das grades nas tentativas de esconder os vestígios e eliminar os rastros. 

Enquanto isso, fortunas retiradas do erário, de estatais, de fundos de pensão ou de qualquer outro tesouro pululam entre o país e paraísos fiscais – quando não voam de edifícios – sob bandeiras de todas as matizes e ideologias de todos os gostos numa terra de inocência perdida ou morta, enquanto o populacho vadeia na sensação do perdimento das esperanças de uma vida melhor e mais digna. 

O funeral da ética ocorre em etapas visíveis produzidas em subterrâneos e nos corredores e salões nobres da estrutura nacional de governo e de oposição, transmitidas com certa naturalidade pelas redes estatais e privadas de rádio e TV. E ninguém enrubesce porque está estabelecida a confusão incapaz de traduzir a diferenciação entre o que é o exercício da nobreza política e a banalidade da mexericação politiqueira quase sempre violadora das leis e dos costumes. 

Por todos esses desarrazoados hábitos e costumes e porque a legalidade se transformou em um mero e insignificante detalhe, é que hoje, dia 15 de dezembro, casas e apartamentos de muitos caciques daqui, dali e de alhures, é até de índios comuns, alvoreceram deprimidas pelo espetáculo do cerco dos carros negros e homens uniformizados, em movimento que, além da invasão domiciliar, ainda teve também o rebuliço em panelas, lençóis e cofres dos moradores, como a anunciar que os crimes foram descobertos.
E, contudo, apesar da exposição, apesar do cutelo pendente sobre as cabeças, a vida parecerá seguir em sua normalidade. Haverá sessões na Câmara, no Senado, nas CPIs, na Comissão de Ética, numa estéril e certamente descabida normalidade da mentira, como é comum.

Não há como deixar de admirar alguma qualidade nessas pessoas: têm nervos de aço, ainda que lhes falte pudor. 

A sorte e a esperança que nos restam residem nas ações de vozes quase solitárias e ainda de deserto representadas pelo Ministério Público, pela Polícia Federal e por um Juiz Federal não contaminados por um tipo de comodismo ou outro sentimento de descaso que tanto e tão bem caracterizaram as relações dos agentes públicos com as leis. 
Neles, devemos acreditar e torcer. E por eles orarmos.
Oremus!



Por: Luiz Saul Pereira

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