domingo, 6 de dezembro de 2015

FATOS POLÍTICOS: DOIS DE DEZEMBRO, ANIVERSÁRIO DE D. PEDRO II - POR LUCILO CORREIA ARAÚJO


Os importantes fatos políticos e sociais das nações em degradação, por coincidência (?) ocorrem em datas históricas para nortearem a mudança dos seus rumos. Durante todo a administração de Dom Pedro II, como imperador, o Brasil viveu um período de estabilidade e desenvolvimento econômico e grande valorização da cultura, além de utilizar o patriotismo como força de defesa à integridade nacional. Que os novos ventos que varrem esta noite as ruas e os planaltos de Brasília, tragam novos valores de ética, honestidade, moral e de respeito, devidos ao sofrido povo brasileiro. (Veja o artigo):Por: Dr.Lucilo Correia Araújo -Médico




Por lordstrahler
Nassif,

Dia 02 de dezembro é data de nascimento do nosso último Imperador, D. Pedro II. Para chamar a atenção para esta figura histórica, trago um artigo escrito pelo jornalista Carlos de Laet e publicado em 1925, naRevista da Semana, por ocasião do centenário de seu nascimento.
É uma leitura fascinante, que mostra a personalidade pública que era D. Pedro II a muitos que não o conhecem.
Carlos de Laet
Revista da Semana, 28/11/1925
Ninguém, nos tempos que correm, pode imaginar, de longe sequer, o mágico efeito que durante largos anos, produziam no povo brasileiro estas palavras, muito embora freqüentemente repetidas:


-Aí vem o Imperador!
Não sei se pela extensa duração da autoridade longamente exercida por este homem, ou se, talvez, pelo conjunto de raras qualidades físicas e morais, que nele se realizaram, certo é que enorme foi o seu influxo sobre a mentalidade popular. Festa a que não comparecesse o Imperador considerava-se de segunda ordem, e sua presença, que aliás ele não regateava, era sempre um incentivo para maior freqüência em qualquer solenidade.
Singelo em seus modos e declarado inimigo de toda prática fútil e ociosa, o Imperador dominava as reuniões em que aparecia, e naturalmente se constituía o centro de todas as atenções.
Raro era o dia em que não o viam aplicado a visitas demoradas e profícuas às oficinas dos arsenais e das indústrias particulares, aos colégios e sociedades científicas, aos quartéis, ás fortalezas, aos navios, às obras públicas em construção, a toda parte, enfim, onde houvesse que examinar, fiscalizar e animar qualquer dos ramos da atividade nacional.
Entre as minhas recordações de meninices estão as repetidas aparições do Imperador no Colégio Pedro II. Todos nos alvoroçávamos e, entre desejosos e timoratos, aguardávamos que pela nossa aula entrasse aquele vulto que, com sua elevada estatura, formosa barba semi-alvejante e gesto de autoridade soberana, nos incutia indefinível sentimento de atração e respeito.
Invariavelmente determinava o augusto visitante fossem chamados o melhor e o pior estudante da turma. Felicitava o primeiro, quando este de ordinário se saía bem; e ao outro incumbia-se ele próprio de interrogar, insinuando-lhe as respostas e fazendo-lhe acreditar que o pobre vadio sabia alguma coisa.
Em suas relações com os mestres do Colégio, que eram então meus professores, notava eu o caprichoso apuro com que o Imperador falava em francês com o Sr. Halbout, em inglês com o Dr. Mota, em italiano com o Dr. De Simoni, em alemão com os Drs. Schiefler, Glodschmidt e Tautphoeus.
O homem que falava todas as línguas, argüia alunos em todas as matérias, e diante do qual se curvavam todas as autoridades escolares, assumia a nossos olhos as proporções grandiosas de um ente sobrenatural.
No Exército e na Armada, onde só muito mais tarde começou a grassar o mal positivista, a dedicação ao Chefe de Estado não padecia contraste sério. À bandeira e ao hino nacional uniam-se a personalidade do Imperador, fornecendo a trindade representativa da Pátria. Foi ao grito de viva o Imperador que os batalhões brasileiros compraram com seu sangue as grandes vitórias que de Rosas libertaram a Argentina e de López o Paraguai.
Na Europa entre os cientistas do Instituto de França, no Egito perlustrando antigos monumentos e aconselhando a formação dos museus que depois se desenvolveram, nos Estados Unidos assombrando por sua vasta cultura intelectual e lhaneza de trato os compatriotas de Washington – em toda parte por onde passava, ia deixando o Imperador o traço nítido e imorredouro de sua poderosa individualidade.
Quando, cansada de pensar e de trabalhar pelo Brasil, desfaleceu encanecida aquela nobre cabeça, e, em nome da liberdade, se entendeu que ao longo patriarcado liberal, que foi o Segundo Reinado, urgia sucederem as autocracias quadrienais que constituem os governos no regime presidencial, nem mesmo assim jamais esmoreceram o respeito e a veneração para com a pessoa do Imperador.
A revolução, que se lhe apresentou para intimar saísse do País, não o fez de espada nua e atitude ameaçadora, mas de cabeça descoberta e falando em nome da pacificação nacional. Era preciso exilá-lo, e não o fizeram à luz do sol como quem executa uma sentença, e sim nas trevas da noite, como quem aproveita desoras para encobrir um crime.
No dia 15 de novembro, quando ainda o povo brasileiro ignorava o que de sua soberania tinham feitos as classes armadas, vi passar em rápido trânsito, na Rua do Passeio, a carruagem que ao Paço da Cidade transportava o Imperador e a Imperatriz: ela, visivelmente impressionada, a olhar por uma das portinholas do carro; ele, sereno como sempre, fitando os transeuntes e a força militar ali estacionada para se opor à passagem dos revoltosos da Escola Militar... Tirei respeitosamente o chapéu, e respondeu-me o Soberano com amistoso aceno de mão. Foi a última vez que vi o Imperador.
Depois ele nos voltou em 1922, trazido pelo ato cavalheiresco do Sr. Epitácio Pessoa. Tiraram-no de bordo, lentamente o fizeram descer ao troar dos canhões em entre descargas de fuzilaria, até que finalmente aqueles restos tocassem o chão sagrado da Pátria. Estava morto o Imperador, mas ainda sua grande figura, trinta e três anos depois da catástrofe, dominava senhorilmente a imaginação popular. Parecia que o ambiente ainda se eletrizava com a aproximação destes despojos, envolvidos na saudade, mas sobre os quais pairava a indestrutível auréola de meio século de glória.
Mortos estão quase todos os que o depuseram; mortos igualmente muitos dos que com ele colaboraram no serviço da Pátria. Pouco importa! Há um sopro de verdade que perpassa as gerações, e que se chama tradição. Este ainda fala ao coração popular:
-Aí vem o Imperador! 


Um comentário:

  1. Lucilo Correia Araújo7 de dezembro de 2015 às 19:03

    Agradeço ao prezado e estimado Jornalista Carlos Ferraz -fundador do conceituado Jornal "Opinião de Triunfo", a minha citação sobre a transcrição, referenciada no Blog do Nacif, sobre o magnifico artigo do jornalista Carlos de Laet (publicada em 1925, na Revista da Semana), por ocasião do centenário de nascimento do Imperador D.Pedro II, coincidentemente, festejado no mesmo dia (02 de dezembro), data em que, importantes fatos políticos, semeados por novos ventos, varrem a noite, as ruas e os planaltos de Brasília. Que esta nova atmosfera traga volta os valores de ética, honestidade, moral e de respeito, devidos ao sofrido povo brasileiro.

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