Quem quiser que queira e pode continuar querendo, mas parece que a nau
da credibilidade do Barba está à deriva e adernando, quase submergindo.
Refletindo sobre o passado e também sobre o presente, o observador considera que pelo menos dois personagens deste país desperdiçaram suas oportunidades de serem canonizados pela população. Ambos os indivíduos, propondo uma filosofia de austeridade e de prevenção da malfeitoria, herdaram em cada oportunidade uma nação esperançosa da construção de um tipo de realidade de respeito à coisa pública, mas que, especialmente nesse aspecto, revelaram-se os maiores autores, ou mandatários ou omissos nas piores práticas de dilapidação do patrimônio físico nacional, com profundos e irrecuperáveis males às suas reservas morais.
São os casos de Fernando Collor, o Breve, e de Lula, o Brahma.
Para quem se lembra, o Collor, depois de uma campanha arrebatadora que fulminou e até conquistou os próprios adversários, aterrissou em Brasília com epíteto de Caçador de Marajás – ainda que fosse um dos seus mais fiéis representantes –, e, em pouco tempo, o seu staff destroçou as finanças já combalidas do país, assacando, chantageando, assaltando tantos os cofres públicos quanto a classe empresarial que, em geral, é cúmplice inicial desse tipo de projeto até que sente na pele as dificuldades para a recuperação de seus investimentos.
Resultou que a imprensa, a família, e uma insignificante Elba, associadas às desavenças internas, desbarataram a quadrilha, remetendo para a morte violenta de uns, ao ostracismo de outros, e ao exílio dourado do próprio Collor, o qual, por ingenuidade alagoana e cabrestismo eleitoral retornou à vida pública como inexpressivo senador que dedicou o mandato a brigar com os PGR de plantão que apontavam os seus pecados, e também com a imprensa, para se transformar em um dos importantes atores da Lava Jato, como a confirmar a índole delituosa e dar novo tapa na cara dos seus seguidores.
O Lula, que, pelas origens, pelo histórico de derrotas, pela experiência vivida na base da pirâmide, sugeriu a instituição de novos tempos para a sociedade brasileira, também construiu a gradativa substituição do sonho pelo pesadelo. Mais do que o Collor, o Lula encarnou a possibilidade de um mundo em transformação, especialmente porque o país já vivera todas as experiências políticas, desde o ufanismo de JK, passando pelas cachaças e as paranoias do Jânio, pela força dos tanques e fuzis dos coronéis, pela nulidade maranhense, pelo neoliberalismo privatista e do amesquinhamento de ativos nacionais, e também demagogia roubalheira.
Apesar da enorme força do seu carisma e de uma inteligência privilegiada, não foi capaz de filtrar essa amálgama deletéria para reconstruir o país a partir dos escombros herdados. Como atualmente se demonstra, dobrou-se aos arranjos e às maracutaias por intermédio das quais protegeu amigos e familiares, ainda que lhe restando forças para eleger uma inexpressiva sucessora, até que o rei e a rainha ficaram nus.
Enquanto o Collor, mesmo no fausto dos automóveis e da propina fácil, arrasta atualmente suas correntes pelos corredores do senado e da Dinda, o Lula vive sob a pretensa proteção de teorias de conspiração idealizadas pelo seu partido, em um desesperado esforço para recuperar os salvados do incêndio petista, apontando a sua estrela maior como vítima programada pela oposição, pela imprensa e pela razoável parcela das redes sociais não comprometidas com o desmonte. Os que não são cegos.
O Lula e o Collor são certamente os melhores representantes do nosso subdesenvolvimento cidadão incapaz de uma visão crítica para eleger representantes.
No caso, eles perderam a possibilidade da canonização, e o Brasil perdeu muito mais.
Por: Luiz Saul Pereira
Brasília - DF
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