Não se pode minimizar o gesto quase inusitado da dilma de ir ao
Congresso entregar pessoalmente a mensagem presidencial no ato de
inauguração do Ano Legislativo. O emblemático gesto, em si, sinalizou
uma proposta de armistício para as conturbadas relações dos poderes. É
sinal de uma mudança de estilo que pode se revelar tardia.
Na sua chegada, com os presidentes da Câmara e do Senado recebendo-a em grande estilo, como sugere a liturgia, com tapete vermelho e demais pompas e circunstâncias, devidamente protegida no percurso pelos parlamentares do PT e da chamada base aliada, deve ter-se sentido amada e aprovada. Ledo engano.
No decorrer do seu discurso (naturalmente lido para evitar os desastres semânticos de sempre), tentou discorrer sobre a situação econômica do país que, em suas palavras, é apenas uma excepcionalidade, e deixou de mencionar a crise política, no íntimo compreendendo que tem responsabilidade por uma e por outra, mas pelas quais sequer ensaiou um reconhecimento de culpa e um pedido de perdão.
Como esperado, o plenário, ou parte dele, perdeu a compostura ao vaiar a mandatária em ocasião tão solene ante a citação da CPMF e das reformas trabalhista e previdenciária. A outra parte, no entanto, aplaudiu para provocar um empate técnico. O que não passou despercebido (nem poderia) foi que, como sempre, os discursos desse governo que está aí é sempre rico em palavras e intenções, mas, também como sempre, desprovido de projetos. Dessa maneira, estou mais do lado da vaia.
Terminada a cerimônia, com o retorno à realidade de um destino que a persegue, a madama se deparou duas surpresas desconfortáveis. A primeira, produzida pelo Ministro Facchin, do STF, que liberou à decisão do plenário, processo envolvendo o aliado n° 1, Renan, sobre inquérito há 8 anos dormitando nas gavetas da Corte. Esse tipo de ritmo do rito merece um capítulo à parte. A segunda, referindo-se às manobras do Cunha e asseclas, que remeteram o processo aberto na Comissão de Ética da Câmara para praticamente o início.
Em ambos os casos o cenário é perturbador para a comandanta, na medida da possibilidade de o Renan se transformar em réu e ser afastado antes do Cunha; e também porque o refazimento do feito na Comissão de Ética reestabelece todos os prazos e o fôlego para o seu maior inimigo.
A compreensão da definitiva exaustão do governo e da imagem revelou-se no panelaço do dia seguinte, quando a madama foi à TV para informar as medidas de combate ao mosquito da moda e exortar a população a participar da luta. Mesmo a defesa de uma causa justa não evitou os sininhos das panelas.
Essa impressão de fim de festa também se revela na circunstância de que o mentor da mandi-Oka sapiens, tendo sido apeado da antiga aura de vigor e mandonismo nas ações do governo (especialmente à medida que se fecha o cerco investigatório à sua cidadela), já não se afigura como conselheiro mor, pelo menos em público. Na verdade, a madama vem se descolando dele, como é natural aos oportunistas.
A par disso, cessada a cerimônia do Congresso, demonstra-se também o fim da aparência de amor, uma vez que os opositores, independentemente da necessidade do reforço do caixa do governo, já mantiveram intensa discussão sobre o texto da MP 692/15 que aumenta progressivamente o Imposto de Renda sobre Ganhos de Capital, como seja a transação com imóveis.
Enfim, neste início, a dilma não parece haver sensibilizado ninguém, apesar dos elogios à coragem de se expor ao Congresso.
Brasilia - DF
É preciso uma cobrar uma posição firme dessas instituições legislativas.
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