domingo, 28 de fevereiro de 2016

O BEM MAIOR DA VIDA - POR EDNALDO BEZERRA


Em princípio, todo ser humano quer o bem para si. Preferimos a saúde à doença, a alegria à tristeza, o prazer ao sofrimento, e por aí vai. Claro que buscamos ser felizes. Mas o que é a felicidade? Alguns dizem que ela não existe – o que há são momentos felizes –, ou que a felicidade não é um destino, e sim o caminho. Enfim, talvez cada um tenha uma visão muito particular do que seja a felicidade. No entanto, creio que a visão de que ela não existe não se afigura verdadeira. Pois em minha existência me deparei com muitas pessoas felizes.

Meu pai, por exemplo, era um homem feliz. Isso não significa que ele não tenha passado por momentos desagradáveis na vida. É claro que passou. Mas ele não se deixava abater. Sempre mantinha uma visão positiva, uma alegria. Em qualquer situação, ele estava lá, pronto para nos servir de apoio. Sem dúvida, papai era um forte, o esteio da família. Daí, presumo que a felicidade é um estado de espírito, pois a pessoa, mesmo diante de uma situação adversa, permanece feliz. Ela sabe que a vida tem altos e baixos, os acontecimentos são coisas naturais, e não chegam a afetá-la, é como o mar que mantém a sua característica inalterável, tanto na calmaria quanto na tempestade.

Nesse diapasão, pode-se inferir que o homem aprende a ser feliz, porque são os nossos hábitos cotidianos e o modo como nos posicionamos diante das vicissitudes da vida que vão determinar se viveremos felizes ou não. Aristóteles dizia que “as coisas nobres e boas da vida só são conquistadas pelos que agem retamente”. Se partirmos da premissa de que essa frase é verdadeira, então alcançaremos a felicidade se agirmos com retidão. De fato, a consciência tranquila e a paz de espírito só são possíveis a quem pratica boas ações. E quem não tem paz não pode ser feliz. Ademais, quem pratica más ações, geralmente vive perturbado, se arrependendo do que fez. É um coitado, em última análise. Se é assim, por que não perseguirmos a retidão em nossas ações? Afinal de contas, queremos ser felizes. E o que há de melhor do que a felicidade? Podemos dizer que ela é o bem supremo da vida.

Dessa maneira, chegaremos a conclusão de que o homem feliz é o homem virtuoso. Desenvolver as virtudes seria então a chave para a felicidade. Portanto, ser feliz não é tão difícil assim, como a princípio imaginávamos, pois, para quem tem um pouco de formação moral e humanitária, as virtudes são perfeitamente identificáveis. Assim, bastaria cultivá-las no nosso dia a dia. Aliás, Aristóteles já dizia que a natureza nos dá a capacidade de receber as virtudes, e tal capacidade se aperfeiçoa com o hábito. Em outras palavras, adquirimos as virtudes pelo exercício, na persistência, tal qual acontece no aprendizado da matemática e das artes em geral.

Cabe ainda dizer que a virtude tem muito a ver com a moderação no agir. Por exemplo, a coragem e a prudência são virtudes, mas se um homem for excessivamente prudente em uma ação que requer coragem, ele poderá a vir a ser um covarde. Por outro lado, se não tiver quase nenhuma prudência, será um destemido inconsequente, ou seja, terá coragem em excesso. Daí o porquê de, para o destemido inconsequente, o homem corajoso lhe parece um covarde, ao passo que, para o covarde, o homem corajoso lhe parece um destemido inconsequente.

Portanto, a virtude, ao que tudo indica, situa-se na média, na moderação de nossas atitudes, e não nos extremos. E como a gente quase sempre desconfia do que temos a mais ou a menos no agir, a dica é realizar as nossas ações costumeiras de modo contrário. Exemplificando, se bebemos vinho em demasia, ao ponto de nos embriagar, devemos controlar o nosso desejo, porque o prazer duradouro consiste não naquele provocado pela embriaguez momentânea, mas sim no prazer proporcionado pela atitude virtuosa constante, a qual enseja em apreciá-lo com moderação. Certamente, os prazeres advindos de ações virtuosas eram aqueles a que Epicuro se referira como geradores da verdadeira felicidade.



Ednaldo Bezerra é escritor

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