segunda-feira, 28 de março de 2016

FÁTIMA BARROS, UMA ARTISTA TRIUNFENSE MULTITALENTOSA

 Por: Solange Nunes
 
Triunfense Fátima Barros no quadro Viajando pelos Sertões 2016. Foto: Robério Sá / Âncora


Em nosso quadro “Viajando pelos Sertões”, nossa equipe de reportagem foi até Triunfo, no Sertão Pernambucano. Município hospitaleiro, povo caloroso, clima frio, marcante ênfase cultural e turística cidade interiorana. É neste “Oasis do Sertão”, que encontramos a artista multicultural Maria de Fátima Barros, que aproveitando o embalo turístico da localidade, trabalha fortemente a história e o legado de tempos remotos que perduram até hoje vívidos, representados por memórias, produções artesanais e artefatos históricos advindos de famílias tradicionais que preconizam o amor ao fazer cultura. Composta por três matérias, nesta primeira, conheceremos o lado de artesã e proprietária de Atellier de nossa entrevistada, com foco na família e legado, orgulhos da triunfense.
 
Fátima diz, “A minha mãe hoje borda, faz fuxico, faz crochê, pinta, apesar dos 80 anos”.

Maria de Fátima Barros, 55 anos, viúva, dona de casa, mãe, artesã, proprietária do Atellier Emília e Lita Barros, soprando profissional, cantora profissional, radialista, natural do município de Triunfo, no Sertão de Pernambuco é filha de José Mendonça (falecido aos 72 anos) e Olga Barros, 80 anos.

Fátima Barros, como é conhecida, descende de tradicionais famílias da região, Barros e Mendonça, ambas fortemente ligadas a questões de cunho artístico cultural. A família Mendonça, tradicional das imediações de Floresta, no Sertão de Pernambuco, de São João do Barro Vermelho e a Barros de tradição bem sertaneja, que ao longo das gerações cultivaram o gosto pela arte, crescendo a profissional, com a herança característica dos sobrenomes que representa, discorrendo que é uma tradição passada de geração em geração, sendo um dom aprimorado com o passar dos tempos. “Eu absolvi esse dom e hoje trabalho essas peças de artesanato para divulgação cultural e também para venda aqui no atellier, então, é tradição”, disse Fátima.


A artista nos conta que “a família veio cultivando o gostar da arte porque a geração já nasceu com esse dom, tanto da parte de meu pai, como da parte da minha mãe. Hoje, necessariamente, não sobrevivo do artesanato, mas carrego aqui uma história cultural muito grande das famílias Barros e Mendonça, que é esse legado que Fátima Barros hoje tem em mente, focada”, completando que sua arte tem como objetivo principal divulgar a história de Triunfo, sobretudo, a história de sua família, se utilizando de um espaço que preserva uma tradição centenária, o Atellier Emília e Lita Barros, o qual carrega o nome de suas tias [irmãs de sua mãe] já falecidas [Emília, aos 95 anos e Lita aos 88 anos], que atuaram como professoras e brilhantes artistas multiculturalistas no município de Triunfo. O espaço possui peças artesanais, fotos familiares, registros de ações de cunho cultural desde seus antepassados até os dias atuais, itens históricos representativos da tradição familiar, assim como da cultura triunfense.

Uma cidadã ferrenha que preza pelo legado e amor a família, Fátima relata que precisa manter viva a história que é o seu maior orgulho, contando com o apoio da mãe que apesar da idade, tem muita disposição para ajudar a filha. “A minha mãe hoje borda, faz fuxico, faz crochê, pinta, apesar dos 80 anos. Ela tem pouca locomoção, mas a mente dela é muito saudável. E as tias, Emília e Lita Barros, que tem os nomes estampados ai na fachada do meu atellier são uma forma de orgulho, é uma forma e divulgar a arte e a cultura de Triunfo, e levar adiante essa história, porque se hoje a Fátima não levar isso adiante, vai morrer. Alguém tem que manter essa história. Então, quando você vem até mim, me pergunta sobre a origem da minha família, principalmente da arte, o que eu te respondo é que pra mim é orgulho falar da minha família, tanto da parte do meu pai, quanto da parte da minha mãe, porque todos eles tinham essa veia artística, essa veia de gostar da arte e da cultura”.

O Atellier Emília e Lita Barros dispõe de relíquias, peças centenárias, algumas com quase 200 anos, as quais resgatam histórias que encantam os visitantes. Há um espaço reservado para apreciação destes itens, que conforme relata a artista, conseguiu ao longo dos anos com a ajuda da mãe, montar esse pequeno acervo, que embeleza o lugar e expressa um grande valor sentimental, de referência profissional e de vida, discorrendo: “Sei que a história delas [as tias] é imensa, é extensa, mas às vezes, a própria família esquece um pouquinho de se manter aquelas peças, mas consegui junto com minha mãe de 80 anos, ainda resgatar algumas peças centenárias ou mais. Tenho peças ali com quase 200 anos as quais já vieram do legado, da história das irmãs Emília e Lita Barros que pra mim hoje são uma grande referência. Hoje quando as pessoas chegam que começo a relatar histórias, fatos que aconteceram aqui, principalmente nesse espaço que hoje é o atellier, ficam fascinadas pela história do que elas representaram. Então, tenho peças aqui que pra mim são mais do que relíquias, é o valor estimativo”.

Triunfense - Fátima Barros 3


A artista afirma que 80% das peças expostas no Atellier são feitos por ela mesma, sendo sua dedicação focada no espaço, onde “pego a minha habilidade e ‘jogo’ para aqui, deixando o meu legado”, disse, ressaltando que alguns itens são exclusivos, devido trabalhar com detalhes e a delicadeza em suas produções – “O que chama mais atenção dentro do meu Atellier, principalmente no Carnaval, são as camisetas que customizo. São aquelas camisetas que levam o padrão de Triunfo, que é o personagem cultural ‘Os Caretas’. Então, as minhas peças são bem diferenciadas das demais, porque levo detalhes. A minha marca maior hoje são as camisetas, são os bordados das peças de mesa, paninhos de prato, de aplicações. Gosto muito da delicadeza, por isso já é a minha marca maior esse trabalho bem manual”, expressando ainda que há dificuldade para ensinar a arte, de dar cursos, uma vez que não lhe sobra tempo disponível – “Em questão de ensinamento, de repassar, eu não tenho esse tempo disponível, por conta que hoje apresento o programa aos domingos, faço as peças do atellier, sou dona de casa, então, não tenho tempo”, pontuou.  

COM 20 ANOS DE CARREIRA, FÁTIMA BARROS DIZ " RELUTEI ALGUNS ANOS PARA NÃO ENTRAR NA MÚSICA", FOI INEVITÁVEL...
Cantora Fátima Barros no tom do romantismo em Triunfo-PE. Foto: Robério Sá / Âncora
 Além de cantora, também é radialista no patrimônio da comunicação triunfense.


MOMENTO MARCANTE

Em suas comemorações tradicionais, como a “Festa dos Estudantes”, também conhecida como “Circuito do Frio”; e o Natal Triunfo, por exemplo, a cidade de Triunfo, com apoio do Estado e órgãos culturais, recebendo artistas de todo o país, e, falando sobre isso, Fátima recorda das personalidades que já passaram pelo município e dos momentos que a estimularam e marcaram. “Triunfo é uma cidade cultural. Já recebemos cantores e cantoras maravilhosas, a nível nacional, mas teve uma que veio a Triunfo e me referencio muito nela, no sentido de performance de palco. Não que eu a imite, porque acho que todo cantor tem a sua forma, mas você olhar, admirar e lembrar que alguma coisa nela tem alguma coisa haver com você… Foi à cantora Paranaense Fafá de Belém. Ela veio a Triunfo e me chamou muito atenção a sua performance em palco. Alcione esteve aqui também, sou fã dela, gosto muito do estilo musical. (…) Outros cantores que vieram me deixaram marcas, como Emílio Santiago, que assisti o show com meu pai. Isso me marcou bastante porque estávamos próximos ao palco. Emílio Santiago, aquele homem moreno, bem vestido e meu pai  se sentiu humilde, mesmo sendo um grande cantor, um tenor, se sentiu humilde escutando a voz de Emílio Santiago.  Ele chegou pra mim e disse ‘Minha filha, no bom sentido, esse negão canta demais’. Essa foi uma frase que me marcou e eu simplesmente olhei pra ele e disse ‘o outro negão que é o senhor, também canta demais’ e ele sorriu, me abraçou. Até as lágrimas teimaram em cair um pouco dos olhos dele quando Emílio Santiago fez referência a ele como um cantor da cidade de grande porte. Essa foi uma das marcas maiores de Fátima Barros dentro da história musical”.

SERESTEIROS DE TRIUNFO



O projeto triunfense denominado “Serenata de Triunfo”, é uma história quase que centenária surgida em meados dos anos 30, e sob a responsabilidade de José Mendonça a partir de meados de 1970. Com um rol de artistas cantando músicas românticas, clássicas nas ruas da cidade, as pessoas abrem portas e janelas pra prestigiarem as serestas.

Após o falecimento de seu pai, Fátima Barros assumiu o comando do projeto, o qual administra até hoje e descrevendo o objetivo e atuação do grupo, nos conta – “É um grupo itinerante, bem leve. Tenho fotos, livros, violão e o estilo de música é clássica. Tem cantores que cantam Nelson Gonçalves, outros cantam Altemar Dutra, eu canto Ângela Maria, Núbia Lafaet, pois são músicas saudosistas. O projeto é levar a música de qualidade, a música romântica com saudade de boas lembranças. O que predomina mesmo é o violão, principalmente na madrugada, que o som do violão é emocionante, é divino. Temos o violão, o tantã, o sax. (…) Saímos nas ladeiras uma vez ao mês ou quando somos convocados nos momentos folclóricos, nos momentos de atrações culturais na nossa cidade. Se você procurar na internet, vai encontrar ‘Fátima Barros e os Seresteiros de Triunfo’, porque quando assumi, assumi com toda a responsabilidade. Levo meu nome, a responsabilidade é minha, o que acontecer com o grupo eu assumo tudo. É um orgulho levar esse projeto adiante. (…) Gostamos de sair depois das 22 h, já fizemos até depois das 00 h, nessas datas bem comemorativas, como dia dos namorados, sempre levo uma florista e quem abrir a janela, ou um casal, ou um jovem, qualquer pessoa que abrir, entregamos uma rosa. Também saímos na véspera do Dias das Mães, no Natal, no Dia Internacional da Mulher. Então, nessas datas comemorativas sempre fazemos algo para levar sentimento e romantismo e não deixar que a música clássica, que o que tem de bom, morra”.




Click na setinha ao centro da imagem e ouça na integra o relato da Artista Multitalentosa, a triunfense Fátima Barros 



Crédito: ANCORA DO SERTÃO

Um comentário:

  1. Parabéns, Fátima! você herdou esse dom com talento para tocar e cantar do seu pai,nosso professor Mendonça. Lembro-me nas aulas de educação física, 6,00hs da manhã, ele mandava os estudantes mergulharem no açude e a turma queria atravessar no nado, ele imediatamente gritava,; volta...volta.. sabia o que estava fazendo, imagina se desse uma cambra em alguém.
    Sobre as músicas de hoje, não têm conteúdo, melodia e letra, é pena que isso esteja acontecendo. Restam essas dos cantores que estão indo embora com suas almas para vida eterna.
    Vá em frente, muito bonito o seu trabalho, resgatando essas músicas que nos faz recordarmos os bons tempos....

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