terça-feira, 31 de maio de 2016

A POLÍTICA NO BRASIL, SE DEFINE COMO SALVE-SE QUEM PUDER ... - POR LUIZ SAUL


Embora modernamente definida como a arte ou ciência de governar, a política, como prática de emulação natural pelo poder entre os homens, guarda uma distante origem do conceito grego (Aristóteles) que consistia na administração da pólis, ou cidade-estado de então. Em redefinição resumida, o tempo e as armadilhas comportamentais se encarregaram de “aperfeiçoar” a arte e ciência mediante a agregação de maus hábitos e piores vícios, até transformá-la no mostrengo sociológico que está posto em maior ou menor escala, segundo o grau de desenvolvimento de cada povo.

No Brasil, por exemplo, poder-se-ia inovar a definição como a “arte da traição”, ou da lei de Gerson, ou ainda de gravar os amigos e inimigos ao sabor de conveniências de ocasião, ou do medo da cadeia. No momento, o Sérgio Machado, o ex-senador, ex-presidente das Transpetro, ex-protegido do Renan, ex-amigo do Sarney, vestiu-se de Judas decidindo renunciar a todas essas relações tidas como de prestígio ao gravar e divulgar o conteúdo de suas comprometedoras e induzidoras conversas com os antigos aliados e protetores.

Não se sabe ao certo se tais gravações resultavam do seu desejo de arrastar consigo para as barras da lei os indivíduos gravados, ou estavam inseridas em algum tipo de acordo sem valor jurídico (não estavam judicialmente autorizadas) apenas para os expor junto à opinião pública ou outro motivo. De qualquer forma, deixou o Renan em maus lençóis perante as pessoas citadas, como foi o caso do Janot. Mas, em qualquer situação, essa quebra de confiança dificilmente será perdoada, assim como o seu autor não logrará jamais novas amizades no meio político. Consta ainda a hipótese de que teria negociado adrede uma delação premiada, e, na melhor demonstração de canalhice, oferecido em bandeja os indícios do conluio contidos nas gravações sob o patrocínio dos agentes alvo. 

À parte da vilania que sempre caracteriza a traição, o movimento do delator constituiu importante reforço aos protestos do PT na argumentação da existência de golpe, como se as gravações efetivamente irregulares descaracterizassem os crimes de responsabilidades praticados pela ex-presidente. O fato é que, por si só, o conteúdo das gravações do Renan, do Jucá e do Sarney está a justificar a perda do mandato daqueles, e a reprovação deste que já não dispõe de representação formal. Seria apenas uma questão de isonomia quando lembrassem o caso Delcídio do Amaral.

Do que revelado até aqui depreende-se que o interior das conversações de porão abrigou sempre o objetivo principal de, além de comprometer os políticos gravados, obstruir as ações da Lava Jato, e, principalmente fragilizar o Juiz Sérgio Moro e a força tarefa instalada em Curitiba. Tudo em vão, uma vez que a República de Curitiba adquiriu asas para voo solo independentemente da existência de controlador!

Ainda não se conhece os desdobramentos da delação do Sérgio Machado que, aliás, já foi homologada. Mas, o fato é que, ainda que os episódios das gravações possam sugerir remota ligação com o afastamento da mandi-Oka, a tese não se pode sustentar, uma vez inexistente o nexo causal entre as bravatas do Jucá junto com solidariedade senil do Sarney e os crimes de responsabilidade praticados. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. 

Sem embargo, a tropa de choque do lulopetismo apegar-se-á à tese da relação de causa e consequência do impeachment a partir de orquestração liderada pelos diversos maestros do PMDB, e, com esse convencimento travará as próximas batalhas na Comissão Especial responsável pelo esperado, mas ainda eventual afastamento da mulher em definitivo.

Independente da lógica, o que realmente preocupa é o fato de estarmos no Brasil, um país em que de uns tempos para cá adotou a política de que tudo é negociável, inclusive o futuro.

Assim, não subsiste por aqui a hipótese da arte de governar na avaliação do antigoconteúdo. Só a modernosa Lei do Gerson, e do salve-se quem puder.


 Por: Luiz Saul Pereira
        Brasília - DF

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