segunda-feira, 30 de maio de 2016

DE TRIUNFO PARA O MUNDO: BANDA PERNAMBUCANA FAZ AS MALAS PARA TOCAR NO MAIOR FESTIVAL A CÉU ABERTO




De Triunfo para a Inglaterra, a dupla de brincantes eletrônicos chamada Radiola Serra Alta vai se apresentar no festival Glastonbury (Silver Hayes) 2016, considerado o maior festival de música a céu aberto do mundo. Nesta 46ª edição do evento, a dupla pernambucana vai exibir o seu show característico por utilizar estilos da música popular nordestina e o eletroacústico contemporâneo. O festival inglês acontece entre os dias 22 e 26 de junho, com a proposta de mesclar novatos da música e artistas consagrados em sua programação. Adele, Coldplay e Muse são os headliners deste ano. Outros nomes importantes como Beck, Foals, Ellie Goulding e Disclosure também estão confirmados no line-up. Uma equivalência americana do Glastonbury seria o "Coachella Festival", que acontece todo ano em abril, na Califórnia.

O Radiola Serra Alta surgiu como uma brincadeira. A ideia principal de atuar como DJ set foi se transformando no decorrer do ano de 2005, quando a dupla falava sobre a possibilidade de criar um grupo autoral e com apresentações em palcos. Já em 2006, considerada a data embrião do grupo, o duo de Triunfo começava a ganhar sua identidade buscando dialogar com a cultura popular nordestina e os elementos da música eletrônica. Enquanto o projeto ganhava força e se definia na cidade, surgiu a oportunidade de crescer após a participação de uma seletiva no Porto Musical - encontro voltado para profissionais da música no Brasil - onde o Radiola foi selecionado. Foi um divisor de águas. Hoje, com o apoio do Edital de Intercâmbio do Ministério da Cultura, eles terão a oportunidade e a missão desbravadora de levar a música experimental do projeto para fora do país.

Segundo o duo, "a música eletrônica traz o elemento primitivo da montagem. É um momento lúdico de construir e reconstruir a partir de pedaços, fragmentos e ideias". Tanto que a aposta no imaginário não foi apenas musical. Sob os pseudônimos de "Veinha e Careta", a dupla também se apresenta com máscaras de caboclos para estimular a imaginação do público e como parte do ritual da brincadeira de esconder a identidade. Não menos curioso, os caretas são considerados os principais personagens do carnaval triunfense há quase 90 anos. As figuras satíricas também são reconhecidas como patrimônio cultural de Triunfo, um símbolo da cidade.

Mas eles vão além do eletrônico. Usam coco de roda, trupé, forró e batidas do dub, aboio, jungle e drum and bass, uma releitura interessante da música nordestina. "Presenciamos o manguebeat, revisitamos a tropicália. O manguebeat é uma matriz de referência de execução. Nos deu a instrução de dizer: é possível e faça", afirmaram. A inspiração na cultura de tradição secular também inclui a geolocalização da dupla de mascarados. Para eles, Triunfo, o Alto Sertão do Pajeú, foi, talvez, uma das maiores influências para a desenvoltura da proposta musical do grupo. Os elementos regionais foram igualmente catalisados no primeiro disco 'Computador de Ciço'.

A ideia de unir gêneros e estilos musicais universais como o rock, o rap e o eletrônico, por exemplo, a ritmos caracteristicamente regionais como o coco, o maracatu e a ciranda tem seu pioneirismo em uma pessoa próxima. No início da década de 1990, Chico Science, aliado a Otto, Fred Zero Quatro, Fábio Trummer e outros, inovaram ao unir estilos distintos que resultaram no movimento manguebeat. O conceito veio, agradou e ficou. Hoje, a experiência cativa vários ouvidos, abre espaço para novas misturas e, como foi citado pelos integrantes do Radiola, mostra que é possível agregar ritmos diferentes à música, expandindo, ainda mais, o universo de possibilidades artísticas.

Antes da ida para o festival na Inglaterra, o Radiola Serra Alta ainda tem uma agenda para cobrir no nordeste. Dia 27 de maio estarão em João Pessoa, na Paraíba, e no dia 28 de maio, no Recife, com apresentação única do "eletrococo muderno", como a dupla intitula, no Mundo Novo, localizado no bairro da Boa Vista, centro da cidade.

Edições passadas do Glastonbury Festival

O festival teve seu primeiro palco montado em meados de 1970 e era chamado de "Fair Glastonbury". A entrada custava £1 e tomou a tradição de oferecer música, dança, poesia, teatro, luzes e entretenimento espontâneo. Desde então, o evento só fez crescer para se tornar o mais icônico do planeta. O Glasto atrai, hoje em dia, mais de 170.000 pessoas para Plinton, em Somerset, onde cada verão se torna uma celebração da música, arte e da cultura. O espaço abrange uma enorme área de 900 acres, o que equivale a mais de 500 campos de futebol e comporta pelo menos 60 palcos. David Bowie, REM, U2, Peter Gabriel, The Smiths, The Cure, Lenny Kravitz, Foo Fighters, Bob Dylan, Jay-Z e mais um monte de feras já passaram por lá.

 
ENTREVISTA

Como é estar no line-up de um festival tão grande como o Glastonbury?


Ainda não caiu a ficha. Não imaginávamos esse convite para participar de um festival com a dimensão do Glastonbury. Quando bateu o martelo, ficamos impressionados. Como se diz aqui em Triunfo: é uma felicidade que não cabe nas caixa dos peito.

Sobre a ideia de mesclar elementos da cultura popular nordestina com a música eletrônica, como surgiu?
Desde os tempos como DJ set, já optávamos por discotecar músicas brasileiras e eletrônicas que tinham essa vertente da música popular nordestina e o beat.

De que forma se deu a ideia do sigilo da identidade (Veinha e Careta)?

Incorporamos a tradição da brincadeira do Careta e Veinha desde a infância. É um artifício usado para brincar, despertar curiosidade nas pessoas e estimular a imaginação. Esconder a identidade é um ritual prazeroso. Imagine que a cidade tem 17 mil habitantes e a missão que é se fantasiar e não ser descoberto.

Quais são as principais influências musicais do projeto?

Além das fortes influências dos contemporâneos do maguebeat, também temos e Tom Zé, Hermeto Pascoal, Chico Correia, Dj Dolores. Chico Correia, em especial, por quem temos grande admiração e é nosso grande amigo, foi a pessoa que topou produzir nosso projeto desde o início.

Como Triunfo influenciou na musicalmente ideias do grupo?

Triunfo influenciou totalmente. Nelson Triunfo, por exemplo, foi a inspiração para a nossa ousadia e também a nossa constatação de que era possível fazer música. Interior e sertão pernambucanos são um celeiro de poetas e inventores. Lugares ricos de sotaques, expressões.

Depois do primeiro disco Computador de Ciço, vocês têm planos para o segundo?

Estamos estudando a possibilidade de lançar um vinil. Sempre tem coisa nova que estamos testando no set e retornamos para produzir as faixas. Nosso maior laboratório é o palco, o momento de experimentar as músicas e ver a reações.

Qual é a sensação de levar essa música pela primeira vez para fora do país?

Frio na barriga é a melhor definição para o que a gente sente. Risos.

O que esperam dessa participação no maior festival inglês de música?
É fantástico para a gente. O que mais esperamos é obter essa experiência, aprender com ela e tentar entender como funciona o mundo. Vai ser a mudança do olhar a respeito da música. Estamos muito felizes.


Creito: Diario de Pernambuco - Edição 27/05/2016 




4 comentários:

  1. MARIA CARMO LACERDA1 de junho de 2016 às 20:57

    BOA SORTE.

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    1. Edmilson Ramalho da Silva4 de junho de 2016 às 13:22

      que beleza para triunfo. gosto de saber dessas conquistas...

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  2. Esmeraldina Rodrigues4 de junho de 2016 às 13:19

    Sucesso p a banda triunfense. .....

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  3. Quem diria? É shooooow. E viva "nanoteco"

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