O CONTEÚDO NÃO ENGANA... POR LUIZ SAUL

Depois de algumas horas ouvindo com boa vontade as manifestações em uma das facetas deste dia de juízo final do Palácio da Alvorada, fico com a estranha desconfiança de que acabou o estoque de rivotril no Planalto Central. Não deve ser fácil para uma pessoa por todo o tempo retratada como explosiva com quem a afronta e também com quem a apoia, de forma tal que a “serenidade” que vem apresentando em muito se assemelha a um aspecto medicamentoso.

Mas, o conteúdo não engana. Tal qual o Samba de Uma Nota Só em que a partitura não muda qualquer das notas, a ex-presidente vem repetindo a alegoria de uma verdade que somente pertence a si e a seus acólitos. No fim das contas fica mesmo a impressão de que segue o roteiro de um filme que está sendo produzido com os objetivos de sustentar os palanques de campanhas futuras para bombardear o zé povinho incauto e inculto, e, no outro lado, para alimentar teses extranacionais de um golpe que, de fato, não existiu.

Ainda assim, sem acanhamento, insistiu na tese petista da existência do tal golpe, como a desconsiderar as presenças do Presidente do STF no recinto, e dos demais representantes dos demais Poderes, como a garantia do perfeito e quase harmônico funcionamento de todas as instituições nacionais. 

A verdade que dali se retira é que, de fato, o julgamento estará incidentalmente instituindo um colégio eleitoral para guindar o Michel Temer à Presidência da República. Tudo com as bênçãos da Constituição. Mas, a insistência em atribuir ao quase ex-deputado Eduardo Cunha todo o drama do impeachment é ilegítimo e enganoso, especialmente porque ignora a adesão e os votos dos demais 366 deputados federais que lhe infligiu o processo de que se cuida. No caso, o Eduardo Cunha já não faz parte da cena e está igualmente a caminho do inferno, acaso as manobras não definam diferente.

Olhando para a cena dos gramados vazios e quase silenciosos da Esplanada dos Ministérios têm-se as melancólicas confirmações dos abandonos cominados à dama da mandy-Oka pelo PT, pela CUT e pelos dos chamados movimentos sociais patrocinados, além dos “exércitos” de que se falou por aí. Aliás, é de notar que todos os sinais emitidos ou percebidos no Partido dos Trabalhadores apontam para a urgente necessidade de transformar a dilma na mais vaga lembrança por todos os males que fez ao partido e ao seu mentor de Caetés (não é de Garanhuns).

Voltando ao plenário, pode-se afirmar que a ex-presidente ainda está se saindo relativamente bem porque, presidindo a sessão, o Ricardo Lewandovski, do STF, ao adotar procedimento diplomático, conclamou e conquistou os senadores para uma postura morigerada no interrogatório, pelo menos até este momento. Espera-se que não surja um franco atirador até o final dos trabalhos, um fundamentalista, ou, quem sabe, um incendiário.

Esse tipo de perigo, aliás, esteve muito próximo quando a ex-presidente pretendeu justificar as transferências financeiras para o Exterior, inclusive para justificar a construção do Porto Mariel, em Cuba. Mas, estava muito claro que ela não dominava o assunto, nem esse nem a relação do Brasil com alguns países africanos. 

A ida da mulher ao julgamento não pode jamais ser considerado, como alguns falaram, um gesto de coragem ou de pretensão de justificar os seus atos, mas apenas um protagonismo de classe duvidosa para a participação em um filmeco idem.

Por: Luiz Saul Pereira

        Brasília - DF