O Ministro da Educação, Mendonça Filho, contestou nesta terça-feira (27), durante conversa com o G1 e a TV Globo, críticas de antecessores de que a medida provisória da reforma do ensino médio pode agravar a desigualdade educacional no país.
Em
reportagem publicada nesta terça pelo G1,
os ex-ministros Aloizio Mercadante, Renato Janine Ribeiro e Henrique Paim criticaram o modelo da
reforma, que não exige que os estados ofereçam os mesmo padrões de
oportunidades para os alunos durante todo o ensino médio. Para os ex-ministros,
alunos de estados mais ricos serão beneficiados por uma melhor infraestrutura,
como laboratórios de química e física, em detrimento de alunos cujos estados
não têm as mesmas condições de investimento.
Mendonça Filho
argumentou que a reforma não agravará a desigualdade porque cada estado tem
autonomia para definir as disciplinas ofertadas – de acordo com o previsto na
medida provisória – e porque, segundo o ministro, a qualidade do ensino médio
está crescendo nos estados mais pobres.
Além disso, afirmou
Mendonça Filho, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o documento que
baseará a construção dos currículos escolares, garante uma unidade mínima no
conteúdo.
“Não considero esse
risco [de agravamento da desigualdade], até porque português e matemática serão
exigidos nos três anos, e a base nacional curricular deve ser seguida por todos
os estados. Evidentemente que essa complementação da oferta da grade curricular
[as disciplinas optativas], ela terá tudo a ver com o itinerário que o jovem
quer seguir”, afirmou.
Autonomia na Organização
A secretária-executiva do MEC, Maria Helena
Guimarães de Castro, avaliou que os estados deverão organizar as ofertas de
disciplinas optativas de acordo com suas possibilidades e características.
“Eles têm autonomia na organização do sistema de ensino”, disse.
Em termos técnicos, o ensino integral
corresponde a uma média de sete horas diárias de aula. Segundo a
secretária-executiva, todas as escolas de ensino médio de São Paulo têm jornada
diária de 5 horas e 20 minutos; em Minas Gerais, de 5 horas; em Pernambuco, 45%
das escolas têm 7 horas por dia e o restante, 4 horas.
Dados oficiais do Censo Escolar mostram que Pernambuco era, em 2015, o estado
com a maior porcentagem das matrículas de estudantes do ensino médio em tempo
integral (38,9% das matrículas). “A partir desse referencial da flexibilização,
os estados deverão organizar sua oferta com muito planejamento”, afirmou Maria
Helena de Castro.
Mendonça Filho admitiu
que o texto da medida provisória terá de ser aperfeiçoado no Congresso por meio
de emendas. “Esse é o princípio. O debate está estabelecido. Os resultados [da
educação] até aqui são muito ruins e exigem uma mobilização não só dos governos
como também da população.”
Programa
Nesta quarta-feira (28) o MEC anunciará a liberação de R$ 300 milhões para o programa Mais Educação e de R$ 400 milhões para o Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI). Esses recursos já estavam previstos no orçamento da pasta para 2016.
Com os recursos, o
ministério pretende priorizar atividades de reforço de português e matemática
fora do horário de aula do aluno.
Segundo Mendonça Filho, a aplicação dos recursos desses programas será
fiscalizada por comitês estaduais de acompanhamento, a serem criados.
"Nosso lema é
gastar com qualidade. Até então, eram recursos liberados sem cumprir a
programação estabelecida, de forma atrasada e sem monitoramento do governo
federal”, disse o ministro.
Tempo Integral
A medida provisória determina
que, progressivamente, as escolas aumentem suas cargas horárias até oferecerem
7 horas por dia de aula. Mas não estipula metas nem sanções. "Não é
obrigada (a adotar o tempo integral). O Plano Nacional de Educação estabelece
que até 2024 o Brasil deverá ter 50% do total das suas escolas públicas em
regime de tempo integral. (...) O que estamos criando é uma política de
fomento. Nem todas as escolas serão de tempo integral, e nós sabemos que isso
não é possível, mas nós queremos criar um número maior de escolas em tempo integral.
Currículo Flexível
Outro
eixo da reforma é a "flexibilização" do currículo. Após oferecer uma
conteúdo mínimo, que deve consumir ao todo metade do tempo do ensino médio (1,2
mil horas), as escolas estarão liberadas para oferecer a "ênfase" em
uma das cinco áreas a seguir:
·
linguagens
·
matemática
·
ciências da natureza
·
ciências humanas
·
formação técnica e profissional
Mas a oferta desses
"aprofundamentos", segundo o que está expresso hoje no texto da MP, também pode vir a ser ignorada sem punição para as redes de ensino.
Fonte: G1 Brasil
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