sábado, 19 de novembro de 2016

BRASIL SE TORNOU O PAÍS DA PROPINA, PRISÃO E DA ANIMOSIDADE ENTRE OS PODERES - POR LUIZ SAUL



Nos tempos do idílio o Brasil era samba, futebol e bunda. Hoje é propina, prisão e tornozeleira eletrônica. Em determinados estados e em certas cidades fica até impressão (falsa, é claro) de que, para ser preso, basta haver sido governador, deputado, prefeito ou até presidente do grêmio literário. Com ares de rotina e de cinismo, ou talvez de certeza de impunidade – que nesta altura pode se revelar enganosa –, tem até preso desinibido solicitando espaço ao carcereiro para conceder entrevistas aos repórteres. Não há angústia nem pudicícia. 


Pela alteza e eminência das últimas prisões, focadas em ex-ocupantes de cargos de especial proeminência, seria de se considerar este como o mais grave momento do país, com importante irradiação politicamente negativa em todo o cenário, em especial no PMDB que é o partido do Temer e do Sérgio Cabral. Mas, ao ver deste observador existe coisa ainda mais gravosa do que a descoberta das diatribes do Cabral, do Garotinho e de seus auxiliares (ou capangas).

Com efeito, cegos ao retrovisor da História, um magote de zebroides resolveu invadir com anarquia e violência um dos mais insignes ícones desta democracia que já fraqueja mas ainda respira e inspira. Não vem ao caso se os chamados representantes do povo ali instalados desmerecem o voto e a confiança. Isso não muda a simbologia da instituição. Pior, os pacóvios sequer conseguiram organizar uma agenda ideológica de compreensão singela. Ao tempo em que bradavam Sérgio Moro, pediam a presença de um general do exército e a intervenção militar, como se fosse possível conciliar a toga e o uniforme em tempos de intervenção. 

Autonomeando-se patriotas, talvez não compreendam a inteireza do significado do termo, que pode ser conterrâneo, mas também nacionalista ou ultra, xenófobo, ufanista, dos quais pode derivar intolerância, desrespeito, preconceito, repressão, fanatismo e vai por aí. Olhando para as poucas imagens da invasão foi possível perceber presenças de indivíduos avançados na idade, como a dizer que viveram parte dos anos de chumbo e deles sentem saudades, sem uma reflexão sobre os danos às gerações imediatas. Era a indigência da cidadania sob o olhar culpado e assustado dos parlamentares e da respectiva milícia.
Rebeldes de araque que provavelmente não leram uma linha sobre 64, mas talvez achem, ainda, glamorosa a Sierra Maestra, o Sendero Luminoso, os Tupamaros e talvez as FARC. 

Outro fator que se afigura tal qual perigoso e constrangedor para o curso deste momento histórico do país revela-se no ambiente do Superior Tribunal Federal (STF), cuja composição, além de aqui e ali ser questionada do ponto de vista do conteúdo, do alto saber jurídico, do equilíbrio emocional, e até do princípio da imparcialidade. Não é incomum que os Ministros daquela corte tragam a público as tendências ideológicas que se traduzem em animosidade pública, esvaindo a credibilidade e a confiança da sociedade. Desde os tempos da Ação Penal 470, do mensalão, o Ministro Lewandovski mantinha uma enorme rixa do o Ministro Joaquim Barbosa. Agora, é com o Ministro Gilmar Mendes. Já não importa quem teve ou quem tem razão jurídica. A questão é a animosidade, quase inimizade pessoal que transcendeu e continua extrapolando os gabinetes e que geram toda a insegurança nos mortais. 

Por isso que as prisões dos ex-governadores assumem ares de fichinha que, aliás, ainda terão muitos desdobramentos e novas prisões, ante o real perigo de uma implosão do Supremo, em um caso, e de insurreição civil desordenada, em outro caso.

O país não precisa disso. Já viveu a lição em mais de uma oportunidade. Já basta para nos assustar a desqualificação dos “nossos” políticos, frutos do nosso pouco juízo.


Por: Luiz Saul Pereira
        Brasília - DF

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