quarta-feira, 23 de novembro de 2016

"CORRUPÇÃO NÃO TEM PARTIDO, IDEOLOGIA; É UM MAL EM SI... " - POR LUIZ SAUL



Nestas terras de Cabrais, o negócio é chorar. E chora pai, e chora mãe, e chora filha, e chora Geddel e chora Sérgio, eu também quero chorar!

E bem que há motivos para tantas lágrimas. Afinal, parecem findos os tempos do jeitinho, como bem demonstram as prisões dos caciques da improbidade e de outros da velhacaria e do peculato. No caso da Clarissa Garotinho, filha chorosa do preso, tem mais motivos para chorar, uma vez que acaba de ser expulsa do seu partido, o PR (que também porta histórico obscuro), por desobediência partidária. Mas, com a expulsão, os mentores do partido estão também querendo parecer diligentes no distanciamento do pai da moça. Não há inocentes. 

Ainda agora, além das prisões no Rio de Janeiro, a Comissão de Ética da Presidência da República enxergou materialidade para a abertura de procedimento investigativo contra o ainda ministro Geddel Vieira, ex-anão do orçamento, pela suspeita (modo de falar) da prática de atuação em conflito de interesse para construção de empreendimento imobiliário, em Salvador. É verdade que, ainda que praticamente confessada a investida do baiano para cooptar o demissionário Ministro Calero, da Cultura, conveniências incidentais do Planalto passam a mão na cabeça do gordalhão chorão, permitindo que continue no cargo de Secretário de Governo, que não é pouca coisa. Aí então, o Temer começa a se assemelhar àquela antiga presidente e também ao Lula, cujas mãos afagavam os malfeitores dos seus quintais. 

Menos mal que, apesar do Temer, depois de exposto o vexame de um e o consentimento de outro, prevaleceu a posição do ISPHAN no sentido tanto de proteger o patrimônio histórico e visual da capital baiana quanto de barrar a comichão de especuladores imobiliários reféns da conquista de fortuna a qualquer custo. Menos mal também que aqui acolá a sociedade pinça um homem público capaz de resistir à desídia e à incúria para dormir melhor. Foi o caso do Calero.

Não é sem motivos que apesar dos arranca-rabos internos do STF, ministros como o Luís Roberto Barroso, levanta a voz para definir o Brasil como uma "república de bananas devastada pela desonestidade e pela incorreção". Na abertura de seminário na sede PGR, esse magistrado revelou-se ainda mais ácido na sua interpretação do atual cenário não necessariamente do país, mas sim dos seus homens e mulheres públicos, como representantes de uma política do “deixa como está”. 

Ainda que este inexpressivo e inútil observador não morra de amores por aquele ministro, é certo que a sua reflexão é perfeita naquilo que avalia. Mal das pernas e sofrendo aparentes interferências de poderosos que arguem exigência de reconhecimento, alguns representantes dos Judiciário sugerem às vezes certa timidez. Tudo isso apesar do feito quase heroico da condução ainda que incompleta da Ação Penal 470, do mensalão, que não resolveu todas as questões, mas que iniciou tudo que aí está. Naquele processo, ainda que incompleto, nasceu a gênesis de todos os processos que tramitam no país, e outros que ainda virão, para exorcizar os satanases históricos, hereditários e dinásticos que secularmente administram e alimentam essa relativa ingenuidade nacional, ao estilo de feudos. 

Ainda nas palavras do ministro, "corrupção não tem partido, ideologia; é um mal em si e não deve ser politizada". "Há uma certa mentalidade se disseminando de que o problema é a corrupção dos outros, e que agora, que já me livrei da corrupção dos de quem eu não gosto, nós vamos fazer uma composição geral", disse. Nessas condições, podemos continuar falando mal dos petistas e dos seus satélites, mas fica claro que se trata de um momento passado e que doravante havemos de estender o olhar para os sucedâneos que não parecem diferentes nas armações políticas, nos acordos de bastidores, e no acolhimento de faltosos, como é o caso do Geddel e tantos outros.



Por: Luiz Saul Pereira
        Brasília - DF

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