segunda-feira, 7 de novembro de 2016

NÃO É FERVOR, É BURRICE MESMO... POR LUIZ SAUL


Naquele tempo, idos de 1962 a 64, até acontecer a bizarrice apelidada de revolução que nos remeteu à obscuridade, havia uma juventude politicamente conflagrada que acreditava em utopias importadas de um esquerdismo romântico. Falava-se em Sierra Maestra, porque as bolas de cristal não imaginavam o futuro e também não se conhecia ainda a verdadeira personalidade distorcida de “heróis” como Fidel, Che, Tito, e que tais; falava-se de Liga Camponesa, como se em um país com as características daqui coubessem tantos arroubos naquele tipo de ideário. Falava-se de outras .


A diferença dos dias de hoje é que na época se tinha a impressão de que, certo ou errado, havia um tipo de convencimento interior de conhecer o que se chamava de “realidade nacional” e outras expressões para identificar a linha do pensamento e da disposição. A estudantada, apesar de conduzida como massa de manobra, como sempre acontece, pelo menos conhecia os chamados homens públicos, os personagens do drama e as tendências ideológicas às quais se alinhava na “luta” para brincar de reformadores.

Ainda que naqueles tempos hajam acontecido exageros ditados, por exemplo, pelo fervor do Cabo Anselmo (posteriormente reconhecido como agente duplo), os dias de hoje revelam-se especialmente diferentes quando se comparam os comportamentos da turba composta de baderneiros, milicianos, incendiários, assassinos e outros criminosos que bradam palavras de ordem de toda natureza, mas que, em razoável maioria, são incapazes de discorrerem um parágrafo a respeito do objetivo de suas presenças e daquela antiga “realidade nacional”. 

Ainda que a sociedade se poste a princípio a favor das manifestações democráticas não parece aceitável, por exemplo, as ocupações das escolas em detrimento do ENEM, que se transformou em uma alternativa aceitável para substituir o indecoroso vestibular. Ainda mais porque tais ocupações não são realizadas necessariamente por estudantes sublevados, mas por agentes de partidos políticos chinfrins infiltrados no movimento para a montagem de um cenário de caos, em nome de uma contradição a reformas que, com virtudes e defeitos, pode eventualmente retirar o conceito da formação escolar do século passado ou anterior. E tudo isso acontecendo sob a complacência cúmplice do Ministério Público.

Os principais prejudicados, além da quebra da logística do ENEM, são justamente os alunos a quem pretensamente sugerem defender. Resulta que como o concurso não pode conceber com o mesmo peso e grau de dificuldade, por exemplo, o quesito “redação”, este ponto tenderá a perder a importância na construção da nota final. Justamente um item precioso em um país em que quase ninguém mais consegue ser levemente escorreito.

Não há que se discutir a legitimidade do pensamento da oposição política, mas, será sempre importante que a sociedade reflita e avalie os pensadores de bandeiras afrontosas que, na busca da recuperação do protagonismo têm sido construídas menos como opositoras e muito mais como desconstrução do modelo de governança que aí está – e que, de fato, não é grande coisa e só ganha da porcaria anterior –, como descarrego das recentes frustrações eleitorais, e das iminências das prisões de membros de todas as fileiras. Nem percebem que estão todos no mesmo barco adernado.

A inversão dos valores é de tal forma afrontosa que o MST – um movimento de interesse de importância e objetivo discutíveis – decidiu reunir deputados e senadores para discutir a questão das invasões, como se fosse o carro e os parlamentares, o reboque.

Não é fervor sobrante, é burrice mesmo. Por isso, não dá para comparar aqueles idos com estes tempos. Nem as pessoas.



Por:  Luiz Saul Pereira
         Brasília - DF

4 comentários:

  1. Estava sentindo falta das sua publicações senhor Luiz Saul, adoro acompanhar a sua linha de raciocínio critico humorizado.

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  2. Excelente texto, parabéns ..

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  3. O Luiz Saul é uma pessoa elegante no que escreve, mesmo mantendo uma tonalidade crítica humorística , parece ter um estilo próprio e marcar presença mesmo sem se fazer notar, entre os colaboradores que escrevem para esse conceituado blog que adoro,

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  4. Saul é dono de um texto delicioso....

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