quarta-feira, 16 de novembro de 2016

TRIUNFO É CENÁRIO DE "FIM DO MUNDO", SÉRIE DO DIRETOR HAMILTON LACERDA




RIO – Diretor de “Tatuagem” (2013), Hilton Lacerda viu em “Fim do mundo”, sua primeira série de ficção para a televisão, uma possibilidade de “abrir outra janela de comunicação”. Criador e roteirista do projeto que o Canal Brasil estreia sábado, às 22h, o pernambucano recrutou outros conterrâneos para a realização do trabalho. O cineasta Lírio Ferreira (“Baile perfumado”, de 1997), seu parceiro no documentário “Cartola — Música para os olhos” (2007), foi convidado a dividir a direção da série com ele. Os protagonistas também são dois atores pernambucanos: Jesuíta Barbosa e Hermila Guedes.

A história foi toda gravada no fim do ano passado, durante cinco semanas, em Triunfo, no sertão pernambucano, a 400 quilômetros do Recife. Casas do século XIX e sítios da região serviram de locação para a trama.



Jesuíta Barbosa estrela a série "Fim do Mundo" | Estreia dia 19/11

Na ficção, o lugar faz as vezes de Desterro, a tal cidade no fim do mundo para onde Vitória (personagem de Hermila) precisa voltar para tentar recomeçar a vida ao lado do filho, Cristiano (Jesuíta), jovem rebelde e questionador que cometeu pequenos crimes e que agora usa uma tornozeleira eletrônica.

Eu não estava muito preocupado em produzir algo com jeito das séries internacionais. Queria dar uma cara local ao projeto e colocar em evidência um tipo de narrativa que nos interessava. A intenção era vir com um impacto semelhante ao que causamos no cinema — conta Lacerda.

Na história, mãe e filho precisam lidar com o passado que ela havia deixado para trás. Vitória saiu da sua cidade natal muito nova e, ao retornar, terá que se sujeitar novamente às regras do irmão mais velho, Balbino (Alberto Pires). Ele é um homem rude e intransigente que vive com uma mulher muito mais jovem, Joaninha (Larissa Leão), e sua sogra, Mazé (Marcélia Cartaxo), tratada como criada da casa.

— Vitória é um pouco imatura, seus sonhos não se realizaram. Ela volta para aquele lugar onde se sentia oprimida, submissa, como numa espécie de fuga. Ela enxerga naquele ato uma possibilidade de ter o filho sob controle. Mas a chegada dos dois balança a estrutura da casa — adianta Hermila.

A atriz, de 36 anos, tinha acabado de dar à luz sua terceira filha, Helena, hoje com 1 ano, quando foi chamada para a série:
— Estava há dois anos sem fazer cinema e recém-parida. Mas um convite desses não se pode recusar.

Em “Fim do mundo”, apesar dos apelos da mãe, Cristiano começa a bater de frente com o autoritarismo do tio. E a se interessar pelas misteriosas histórias de Desterro.

Logo no primeiro episódio — que já pode ser visto na íntegra acima —, ele descobre uma casa abandonada de sua família onde uma mulher e suas filhas eram mantidas em cativeiro pelo marido e pai das crianças. A simples menção ao caso deixa Balbino irritado.


— As questões familiares perpassam toda a série. Há um certo machismo massacrante e uma misoginia muito persistente. E, à medida que a história avança, a trama vai se embrenhando em um universo cada vez mais fantasioso — explica Lacerda.

Apesar do tom fantástico, o realizador conta ter optado por uma interpretação naturalista do elenco, que mescla nomes conhecidos a outros novatos, como Larissa Leão:

— A intenção era criar uma prisão atemporal para aqueles personagens, só eles existem ali. É um tempo que parece ter sido congelado. Apesar de estar no sertão, Triunfo é uma cidade serrada, alta. A minha lógica era como se aquele fosse um universo paralelo, um mundo meio vazio, que não existe, como se tudo aquilo fosse um game. Não mostro carros nem pessoas na rua, por exemplo.

A série faz parte do projeto Conto que Vejo. Cada um dos seus cinco episódios foi baseado em contos de autores nordestinos: “Mentira de amor”, de Ronaldo Correia de Brito; “O Mateus”, de Hermilo Borba Filho; “O dia em que Céu casou”, de Antônio Carlos Viana; “Castilho Hernandez, o cantor e sua solidão”, de Sidney Rocha; e “Epílogo”, do próprio Lacerda. Apesar de cada episódio ter uma narrativa fechada, a trama principal percorre toda a série.

— O meu conto foi escolhido para ser o último propositalmente, para que eu pudesse alinhavar a história — acrescenta Lacerda, que deve transformar a série em um longa-metragem mais para a frente: — Filmamos de maneira a possibilitar essa ideia.

Para Jesuíta Barbosa, que voltou a trabalhar com o diretor após ter despontado no cinema em “Tatuagem”, a série “questiona uma sociedade retrógrada”:

— O meu personagem é um rapaz que não estabelece muita relação com o sistema e bate de frente com esse tio careta, conservador. No decorrer da série, Vitória e Cristiano empreendem uma saga para deixar aquele lugar, mas acabam meio sem saída. Hilton trabalha com muitas metáforas e ironia, mas, ao mesmo tempo, costura tudo isso com uma certa comicidade.
Aos 25 anos, o ator engrenou este ano uma sequência de trabalhos na TV. Esteve na minissérie “Ligações perigosas”, em janeiro, e na série “Justiça”, exibida entre agosto e setembro. Será visto também em “Nada será como antes”, a partir do episódio que vai ao ar no dia 29.

Jesuíta gravou “Fim do mundo” num dos intervalos desses trabalhos que fez para a Globo.
— Queria muito voltar a trabalhar com o Hilton. Com ele encontrei um tipo de provocação no jeito de fazer cinema que é o que me interessa. Sentamos juntos logo no início das gravações, e ele começou a me perguntar coisas como se eu fosse o personagem. Acho que eu não estava apto ao improviso naquele momento, não consegui responder a muitas coisas. Mas aquilo foi importante para eu entender o clima da série.


O diretor conta que a pouca diferença de idade entre Hermila e Jesuíta (são 11 anos apenas) não chegou a ser uma questão. Na série, a caracterização deixa a atriz com uma aparência ligeiramente mais velha e faz o ator aparentar menos idade do que tem.

Há uma relação quase incestuosa entre mãe e filho e isso também veio se intensificando ao longo dos episódios — avisa o diretor.
Para Jesuíta, a relação de mãe e filho às vezes parece ser de dois irmãos:
— Há uma certa provocação entre eles.

'Queria dar uma cara local ao projeto e colocar em evidência um tipo de narrativa que nos interessava. A intenção era vir com um impacto semelhante ao que causamos no cinema’
Hilton Lacerda

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