quinta-feira, 3 de novembro de 2016

*VAQUEJADA É CRIME?* - JUIZ SERGIO MENEZES LUCAS - POR LÚCIO JR

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, diriam os lusitanos. 

Não sou fazendeiro, criador de cavalos, nem vaqueiro. Nunca corri Vaquejada e, com certeza, não tenho nenhum talento para tal. 

Sérgio Menezes Lucas - Juiz de Direito

Sou Nordestino, amante da nossa cultura e, lamentando algumas inúteis e injustificáveis agressões perpetradas por defensores ou contrários à Vaquejada, vou fazer algumas ponderações. Elas não representam a verdade absoluta. É apenas a minha verdade, dentro dos limites de minha falibilidade de percepção: 

A Vaquejada é um esporte secular do Nordeste Brasileiro. *É o único esporte genuinamente brasileiro* e está impregnada na cultura do Nordestino, assim como o sangue que lhe corre nas veias.

O seu primeiro registro como prática é datado de 1874, com o cearense José de Alencar. Ela não surgiu da mente sádica de homens doentios que desejavam apenas se divertir, maltratando os animais. Na verdade, a Vaquejada reproduz a lida diária do vaqueiro nordestino no trato com o gado e, principalmente, a ocasião das apartações. 
Em um pequeno, porém necessário comparativo, temos que o gaúcho pampeiro, para fazer o seu trabalho com as reses, usa a corda pra laçar o boi. Os pampas têm uma vegetação rasteira que permite esse tipo de manejo. 

O Nordestino sertanejo, por seu turno, lida com os bovinos na caatinga, uma vegetação repleta de arbustos cheios de galhos retorcidos e espinhos. Nesse ambiente, é impossível imaginar o vaqueiro girando o laço para pegar o boi. O sertanejo enfrenta a vegetação inóspita, montando com destreza o seu cavalo, à procura da rês em disparada. São idiossincrasias tópicas que fazem com que a prática de ambos os trabalhadores sejam diversas. Ambos são belos espetáculos da disputa entre o homem e a natureza. Nos dois casos a finalidade é cuidar do gado para o seu destino final, o abate e a mesa do ser humano. 

Convém registrar que somos onívoros. Isso quer dizer que, em nossa dieta, incluímos, também, carne animal. Para isso, o *nosso costume* admite a morte de outros seres vivos e ninguém está a praticar qualquer crime. Assim, à exceção dos veganos, falece legitimidade aos demais para falar de crueldade contra os bichinhos. Se bem que as plantas, também, gostariam de continuar vivendo, se me permitem a prosopopeia.

Pois bem, no nosso caso, essa cultura de lidar com os bovinos foi reproduzida nas corridas de mourão. Ela não é a cópia mais fiel; porquanto essa primazia compete à Pega-de-boi-no-mato; a qual tem o seu maior expoente na Festa do Vaqueiro de Porto da Folha/SE. No entanto, ela, a corrida de mourão, detém maior número de praticantes e expectadores em razão da sua maior visibilidade, conforto e evolução. 

A nossa Vaquejada foi cantada por nosso maior expoente musical, o Rei Luiz Lua Gonzaga; é exaltada por poetas, cordelistas e violeiros (até eu tive a ousadia de compor músicas com o tema!). A vaquejada é retratada por pintores e artesãos e é praticada e defendida por iletrados e doutores, inclusive com votos de cinco Ministros do Supremo Tribunal Federal favoráveis à sua manutenção. É ilógico imaginar que estamos falando de uma legião de insanos cruéis; muito menos, criminosos. 

A Vaquejada gera renda para mais de um milhão de pessoas, entre empregos diretos e indiretos. São vaqueiros, tratadores, criadores, fazendeiros, leiloeiros, domadores, veterinários, empresários, artistas, agricultores, produtores de ração, publicitários... Enfim, um universo de trabalhadores que têm nesse esporte a sua principal ou única fonte de renda. 

Com esse pequeno apanhado é possível afirmar que *ser contra a Vaquejada é ser contra o Nordeste.* Continuemos:
A Vaquejada moderna evoluiu a tal ponto que mal se compara ao que acontece no dia a dia das fazendas. Ao contrário, o trato e o respeito ao bem estar do animal se reflete no cotidiano das propriedades rurais, a exemplo da evolução automotiva causada pelas corridas de automóveis nos nossos veículos. 
As regras têm se tornado cada vez mais rígidas e minuciosas, fazendo com que o tratamento rudimentar se torne cada dia mais brando e sendo raríssimos os casos de lesões.

Os maus tratos, caso eventualmente cometidos, porque há maus profissionais em todas as áreas, são punidos com desclassificação, e essa acarreta prejuizo financeiro. 
É preciso conhecer para opinar, ir às pistas, falar com os árbitros, veterinários e praticantes e ter noção de toda a cadeia de empregos gerados. 

Se, ainda assim, você for contrário à Vaquejada, a minha respeitosa discordância. Mas, por *obséquio e coerência* não comemore qualquer decisão em desfavor dessa importante manifestação da nossa cultura comendo um churrasco!


*Sérgio Menezes Lucas*

*Juiz de Direito, Compositor e Escritor Sergipano*



Enviado por: José Lúcio Jr./ Agropecuarista


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