terça-feira, 24 de janeiro de 2017

RESTA SABER AONDE VAI DAR ISSO - POR LUIZ SAUL



No aspecto macroeconômico e também da inter-relação do concerto das nações, a nova configuração política das Américas sugere que os USA se transformaram em uma ilha. Ao contrário de Cuba, de onde todos pretendiam fugir, a nova ilha poderá confirmar-se como um paraíso de isolacionismo para o qual todos continuarão aspirando ir. 

Mas, nem tudo é tão simples. O histórico do capitalismo ali praticado em que o deus da lucratividade reina intensa e selvagemente determinou a busca de mão-de-obra a preço diferenciado no processo de terceirização transnacional.

Daí que, por trás de praticamente tudo que se consome no mundo com selo norte-americano há um prosaico “made in China” ou qualquer outro país com iguais facilidades, para onde algumas empresas transferiram seus chãos de fábrica, ou firmaram contratos de fornecimento a preço módico. Em uma visão perspectiva de lucro, a desmontagem de um processo dessa natureza pode ser que não dependa exclusivamente da extemporaneidade governamental. 

 A tese de estimular o consumo interno de um mercado por si sustentável pareceria perfeita acaso não houvesse o outro lado, o da exportação. Com efeito, o custo operacional mais elevado do produto industrial praticado internamente sugere um preço final ao consumidor compatível com o investimento na produção. Assim, a competição poderia resultar injusta e desproporcional na comparação dos preços no mercado internacional. 

A vantagem da voluntariedade é que a retirada ou denúncia de acordos ou tratados multilaterais tende a não gerar contenciosos ou ferir protocolos de órgãos reguladores, como é o caso da OMC. Por isso, já na sua primeira semana o presidente, ao provar que as suas falas de campanha não eram abstratas, retirou o país do Acordo do Pacífico que reunia 12 países para equilibrar a influência da China no mercado da região. Essa defecção implode, na prática, todo o Acordo. 

Outra circunstância a ser resolvida ante o critério da “America First” consiste na severa advertência dirigida aos conglomerados, mormente os automotivos, de que a manutenção dos seus chãos de fábricas fora da “ilha” poderá implicar taxações dos produtos a ponto de torná-los financeiramente inacessíveis para o grande público dos “ilhéus”, a exemplo do que ocorre no Brasil, quando, por exemplo, nos referimos a importar um automóvel ou bens assemelhados de grande valor agregado de qualquer outro país.

A salvaguarda dos interesses de um país, aí compreendida proteção ao emprego, à indústria, ao comércio, à moeda, ao idioma, às fronteiras, às tradições que sustentam a cultura e alavancam a economia constituem um dever natural do governante. A questão no mundo ocidental dos regimes apelidados de democráticos reside apenas no modus faciendi e no respeito que deve governar as relações internas e externas nas formalidades institucionais. 

Daí que, o impacto resultante quebra de paradigma que se verifica causa estranheza apenas pelo abandono de um histórico de participação e mandonismo que sempre caracterizou as relações do Tio Sam com o resto do mundo.

Nessas condições, resta a todos adaptar-se a uma situação antes não imaginada, até porque o encolhimento da presença norte-americana no planeta não o torna menos importante para a formulação dos destinos dos países, inclusive do Brasil, pobre Brasil.
Mas, resta saber aonde vai dar isso.




Por: Luiz Saul Pereira
        Brasília - DF

Um comentário:

  1. Sou fã desse Luiz Saul Pereira, escreve com ninguém em estilo compreensivo e diferente.

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