quinta-feira, 23 de março de 2017

POVO BRASILEIRO, COM JEITÃO DE "LEGALZINHO DA TURMA" - POR LUIZ SAUL



A cada nova perplexidade do cometimento de crimes de natureza política, de lesa pátria, de ofensa à economia e aos interesses comuns fica a impressão de que aos poucos estamos aceitando um convívio de consentimento ou de alienação movido por uma indiferença tendente a nos fazer cúmplices dos malfeitores. A antiga e agora falaciosa imagem de um povo pacífico, hospitaleiro com jeitão de “legalzinho da turma” talvez seja no geral uma irrealidade gritante ante a violência, a criminalidade, a corrupção e a desconfiança que começa a marejar sobre as instituições e a tudo o mais que vem reduzindo as perspectivas de uma estabilidade futura.

Basta notar que as crises que até aqui assaltavam os corações e mentes resolveram agora carcomer também os estômagos tal qual metástase. Isso porque o agronegócio, uma das vedetes da Economia, acaba de mergulhar na maior crise de sua história, em face da promiscuidade havida entre parte de agentes de inspeção do Ministério da Agricultura e grupos interessados em lucro a qualquer custo, independentemente do respeito à saúde do consumidor. 



Como é comum nesse tipo pernicioso de relação, a célula podre da fiscalização emitia laudos falsos ensejando dentre outros crimes a renovação da validade de produtos vencidos, a injeção de produtos estranhos, inclusive cancerígenos, para garantir aparência de normalidade a produtos em apodrecimento, a inclusão de toda espécie de elementos impróprios na composição dos embutidos, inclusive papelão. Daí que, até que se esclareça a irregularidade com a identificação das empresas e dos lotes, não consumirei salsicha, hot dog, presunto, Kracóvia, linguiça, e vai por aí. Talvez assim se desfaça finalmente o mistério dos galináceos aquáticos e dos pescados encharcados das gôndolas dos supermercados que, depois de pesados, perdem pelo menos 20% da carga enfiada goela abaixo do consumidor. 



Interessante notar o atraso da manifestação do Ministério da Agricultura, que somente um meio dia depois de a Polícia Federal deflagrar a operação com o nome sintomático de “carne seca”, resolveu conceder a coletiva para fazer propaganda do Órgão, através do Secretário Executivo, mas que, apesar do esforço, não logrou transferir tranquilidade para toda a população, especialmente porque não informou a localização dos produtos fraudados. 

Por outro lado, é relevante que o Ministro Blairo Maggi, da Agricultura, um gigante econômico nacional conhecido como o “Rei da Soja”, e, portanto, um exportador, haverá, em tese, de esclarecer o assunto no tempo mais breve, antes que o episódio contamine o status de toda a relação comercial de que faz parte. 

Dificilmente, no entanto, impedirá o espectro de desconfiança que a comunidade internacional lançará sobre os produtos de origem animal oriundos do Brasil, que é ainda um dos maiores exportadores de carne para exigentes comunidades internacionais, ao contrário de nós daqui, que costumamos comer gato por lebre.

Enquanto isso, algumas churrascarias estão fazendo promoções do tipo “compre um e leve dois” para reverter a desconfiança que inevitavelmente abaterá alguma proporção do seu mercado. Também nas gondolas pode ser que os preços caiam momentaneamente para a reconquista dos indefesos consumidores. 

Resta à sociedade continuar reconhecendo a ação dos novos heróis nacionais representados pela Polícia Federal e o Ministério Público Federal, os quais, juntamente com o Corpo de Bombeiros, são os principais repositórios em que se armazena a confiança.

Enquanto as ações das empresas denunciadas derretem-se na Bolsa, enquanto todo mundo nega culpa, salta uma caesar salad!





Por: Luiz Saul Pereira
        Brasília - DF

5 comentários:

  1. Maria do Carmo Vasconcelos24 de março de 2017 às 00:18

    Como pode alguém dizer que a Lava Jato comete abusos em nome da corrupção? E os abusos cometidos contra o povo, contra o País, por aqueles que protagonizaram a corrupção endêmica instalada no Brasil e que trouxe sérias consequências para a população em geral, que paga essa conta gigantesca?

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  2. porque cresce a corrupção no Brasil? A razão é a impunidade. Mas a situação está mudando. Vemos "figurões" sentindo o braço pesado da Justiça.

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  3. O enfraquecimento das nossas estruturas legais e jurídicas favorece a impunidade da lavagem de dinheiro no meio político. Por isso, há uma tendência em cadeia em não reconhecer a culpa entre envolvidos na Operação Lava Jato.

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