terça-feira, 2 de maio de 2017

COMOÇÃO DOS CEARENSES NO ADEUS AO SEU ÍDOLO, O TROVADOR BELCHIOR...

Milhares de fãs do cantor Belchior transformaram o velório do artista numa festividade. Ao modo de suas composições, o coração selvagem foi a senha para que a tristeza fosse afastada e no palco da despedida restasse apenas a força poética e política de suas músicas 




Feito canção, o velório de Belchior virou festa. Morto na madrugada do último domingo, no extremo sul do País, o artista cearense, cujo sepultamento foi hoje, no Cemitério Parque da Paz, às 9 horas, fez a derradeira travessia: agora não apenas geográfica, mas de corpo e alma. 

VELÓRIO










Foi acompanhado nesse périplo por mais seis mil pessoas, que ocuparam o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura desde as primeiras horas de uma segunda-feira de cidade vazia, dia em que o equipamento normalmente fecha. Mas não ontem. 


Filhos de Belchior, Mikael e Camila se despedem do pai. Família do artista cearense esteve reunida em espaço dedicado às últimas lembranças do cantor e compositor.
 
Nessa última festa para o trovador, o gesto de despedida foi inusual: bares cheios, música em toda parte, garrafas de vinho abertas e nada de silêncio misericordioso.  

O coração selvagem pedia passagem, e os fãs ofereceram o que sua própria música lhes havia ensinado: amor e coragem. Foi o que levou José Edson, 63 anos, ao encontro tardio com o ídolo. 

Conhecido como “Belchior do Dragão”, menos pela voz que pela semelhança física (bigodes fartos e ar pesaroso), o vendedor chegou cedo. Ficou por ali mastigando a tristeza debaixo da cúpula do planetário. Morador do Poço da Draga, queria celebrá-lo, mas não conseguia aceitar a partida. Até que admitiu: talvez cantasse, algo que nunca lhe tinha passado pela cabeça até então.  

“Quem sabe a partir de agora não faço alguma coisa pra compensar a ausência dele”, disse. Começou imediatamente: foi até a fila que havia se formado para velar o corpo. Parou. Sorriu. Fez fotos, foi abraçado e beijado. Alguém achou que fosse o Belchior redivivo. Não disse um só verso, mas estava feliz.  

Assim como Fausto Nilo, amigo de Belchior havia quase seis décadas, quando  o conheceu no Liceu do Ceará. O compositor e arquiteto também se desconsolou de imediato, mas logo cuidou em reavivar a última vez em que se falaram, quase dez anos atrás.  

“Foi aqui mesmo, no Dragão do Mar. Eu tinha acabado de fazer um show, e ele estava ali, num banco da praça”, e aponta para o longe. Para ele, Belchior ainda estava lá. Era mais que uma lembrança na parede da memória.  

O mesmo se deu com Emerson Damasceno, 46. Cadeirante, pôs-se em marcha até o Dragão para ver o cantor, de quem sentia saudade, mas também uma profunda sensação de agradecimento. “Belchior era atemporal.  Não morre”, resumiu. 

O sobralense Rondinelly Mota, 30, foi além: como se para se convencer de que não era inverdade a notícia da morte, entrou na fila duas vezes para se despedir. Feito isso, foi comemorar com a namorada, Lívia Cunha Ribeiro. Tomaram um porre. “Belchior é nossa trilha amorosa”, contou. “Ele ensinou que a felicidade não precisa de nada, só de acontecer.” E foram beber mais.
  
Último na fila às 21 horas, Jeymson Xavier, 32, sintetizou o transe coletivo: “Não há tristeza. Belchior é juventude, força, e é isso que queremos sentir”. De braço dado com o namorado, Aline Miranda, 34, completou: “Ele não é antigo. É contemporâneo”.  

E então repetiu a frase que mais se ouviu numa cerimônia que, como a obra e a vida do cantor, foi toda ao avesso: 
“Sempre desobedecer, nunca reverenciar”. Atrás do casal, outros já se punham a andar. Eles não eram mais os últimos. (HENRIQUE ARAÚJO)

MISSA DE CORPO PRESENTE


Missa em homenagem a Belchior (Foto: Aurélio Alves/O POVO)

SEPULTAMENTO DO ÍDOLO, TROVADOR CEARENSE BELCHIOR, SOB APLAUSOS E MUITA COMOÇÃO...


O corpo de Belchior foi levado no carro do Corpo de Bombeiros; o percurso foi pela Ildefonso Albano, avenida Abolição, Rui Barbosa, Monsenhor Salazar e BR-116, passando pelo viaduto do Makro, Alberto Craveiro, rotatória do Castelão e avenida Juscelino Kubitschek. 

Corpo sendo levado ao cemitério (Foto: Aurélio Alves/O POVO)

O corpo do cearense Belchior foi enterrado, no fim da manhã desta terça-feira, 2, no cemitério Parque da Paz, em Fortaleza, no mesmo jazigo onde estão supultados seus pais. Antes, uma missa em homenagem a ele encerrou o velório do cantor e compositor no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. O corpo foi velado até as 7 horas desta terça-feira, 2, com 8 mil pessoas celebrando a vida e a obra do cearense.

Após a missa, acompanhada por cerca de 300 pessoas, o corpo foi levado ao cemitério Parque da Paz, onde ocorre o enterro fechado para familiares. A missa desta manhã foi celebrada pelo Frei Ricardo Régis.

Ao todo, mais de 11 mil pessoas passaram pelos velórios de Belchior, sendo que 8 mil pessoas na capital cearense e três mil em Sobral. 


Click na setinha ao centro da imagem e veja o ùltimo adeus ao ídolo, ícone da música cearense e brasileira, Belchior, O Rapaz latino-Americano

Cantor e compositor é enterrado em Fortaleza (Foto: Aurélio Alves/Especial para O POVO)


ALÉM DA MÚSICA, MOMENTOS HISTÓRICOS PARA LEMBRAR, - MOVIMENTO DAS "DIRETAS JÁ"

Miguel Arraes, Belchior e José Fogaça, do PMDB-RS, no comício pelas Diretas Já, na Praça da Sé, em 1984 (Orlando Britto/Dedoc)

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