quarta-feira, 3 de maio de 2017

LIBERAÇÃO DE CONDENADOS, MEDIDAS QUE PODEM LEVAR O PAÍS A UMA CONFLAGRAÇÃO GERAL - POR LUIZ SAUL



Sem vestígio de radicalismo, sem incorporar ânimo de vingança, e também sem entrar no mérito da interpretação libertária da turma da Corte, a partir de outra liberação, desta feita do José Dirceu, que, aliás, vinha sendo dada como certa, o fato é que a compreensão do observador leigo só aumenta a inquietação ao assistir a libertação de um condenado a mais de 30 anos de prisão, sendo que ainda pairam sobre si a hipótese de novas condenações de outros crimes impendentes de indiciamento. 

A medida, por si só, clamará pela isonomia de tratamento em relação a todos os demais detidos pelos mesmos envolvimentos em corrupção e em relações de promiscuidade com os partidos, empreiteiras e estatais, ainda que já condenados, mas sob a argumentação dos recursos interpostos. Nesse tipo de quadro, não parece que restará outra alternativa aos mesmos ministros que não a soltura de cada qual.
 
Ainda que interpretem de outra forma, os habeas corpus em favor desses elementos parecem caminhar para a fragilização das operações criminais em andamento, nas quais os investigadores veem moídas as justificativas para a retirada de malfeitores da sociedade, não exclusivamente por esse fim, mas principalmente para evitar iniciativas de obstrução da Justiça. No caso do Dirceu, que é considerado um dos principais cérebros do grupo organizado que desmanchou o país, ou o remontou em benefício da quadrilha, é uma sandice imaginar que, desapeado do poder, não reúne condições para articular a desmoralização, ou até o desfazimento da Força Tarefa sediada em Curitiba, até porque o próprio Congresso já dá sinais disso pela via dos implicados que são tantos. 

E, de fato, tão logo transcorreu a notícia, apesar de algumas reações negativas, os membros mais próximos do partido sede da corrupção acorreram aos holofotes e microfones para os festejos da libertação do antigo par. Neste momento, é certo que os subterrâneos estão em polvorosa na construção de novas teorias, principalmente em relação ao ex ministro Palocci, que, segundo consta, estaria prestes a aderir à delação. O novo raciocínio é o de que, se, tal qual o Dirceu, o Palocci resistir um pouco sem delatar, logo será libertado, evitando noticiar fatos que poderiam inviabilizar o Chefe como candidato, e, mais que isso, leva-lo à prisão.

Ainda que a operacionalização do habeas corpus possa implicar medidas severa de fiança e outros procedimentos restritivos, como está ocorrendo com Eike Batista – R$52 milhões de fiança, entrega de passaporte, “visitas” não programas pela PF, impedimento de relação com as empresas e/ou com investigados, etc. –, a rede de articulação da quadrilha poderá encontrar meios para a continuidade dos conluios, inclusive para a transmissão de orientações em que o Dirceu se fez mestre.

Apesar do convencimento dos ministros do STF (ou parte deles), nada disso se assemelha adequado para um país prestes a uma conflagração geral já consagrada na guerra civil estadual do Rio de Janeiro, com uma população sem caminho e principalmente sem esperanças nas soluções de seus representantes.


Por: Luiz Saul Pereira
        Brasília - DF

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Caro leitor, seja educado em seu comentário. O Blog Opinião reserva-se o direito de não publicar comentários de conteúdo difamatório e ofensivo, como também os que contenham palavras de baixo calão. Solicitamos a gentileza de colocarem o nome e sobrenome mesmo quando escolherem a opção anônimo. Pedimos respeito pela opinião alheia, mesmo que não concordemos com tudo que se diz.
Agradecemos a sua participação!

NOSSOS LEITORES PELO MUNDO!