

Embaralhou tudo, né? Premidos pelo fim dos prazos para a entrega das provas de suas denúncias anteriores, os meninos da J&S entregaram inadvertidamente gravações ao Ministério Público, cujo conteúdo, embora protegido por um sigilo mandrake que está sendo divulgado em conta-gotas possa provocar uma reviravolta nos acontecimentos, além de gerar nova perspectiva para alguma revisão dos fatos. Para um observador leigo, é possível criar um mosaico envolvendo pessoas e instituições que a grosso modo pode ser assim definido:
J&S, JOESLEY E WESLEY BATISTA, RICARDO SAUD – Por conta das gravações remetidas por aparente engano ao MP, podem ter os privilégios da premiação revistos e eventualmente cancelados, e remetidos à prisão. Acaso confirmem as supostas menções a irregularidades no Ministério Público e no Supremo, terão que apresentar as provas respectivas sob pena de uma matilha de lobos diferentes arrancar a pele de cada, mediante exposição em praça pública. Podem os irmãos até serem reclassificados como chefes de organização criminosa, o que, no caso, inviabilizaria a manutenção dos privilégios ora em gozo, os quais, por todos os motivos já se encontram em risco.
RODRIGO JANOT – O aparente gesto de grandeza de abrir investigação sobre as supostas notícias bombástica acaso contidas nas gravações, pode ter sido por grandeza mesmo, mas alternativamente pode haver sucumbido à certeza de que as informações tidas como apagadas no gravador haviam sido recuperadas pelos investigadores e que fatalmente seriam divulgadas. Nessas condições, teria antecipado a decisão como gesto de aparência imparcial ao estilo de doa a quem doer, cortar na própria carne, coisas assim. A revisão do acordo tende a fortalecer o instituto da delação premiada.
Mas, não parece haver motivos a priori para desconfianças quanto à sua disposição de promover a seu modo algum tipo de justiça, ainda que aqui e ali pareça extrapolar para uma cruzada pessoal. Aliás, esse escândalo que repentinamente caiu no seu colo parece não arrefecer milímetro de sua intenção de seguir fustigando o Temer em segunda denúncia, embora talvez não dê tempo.
MICHEL TEMER – Sai beneficiado mas não necessariamente fortalecido. É claro que o crime de omissão acaso praticado pelos delatores tende a enriquecer os argumentos de desconfiança sobre as acusações montadas com base na gravação inicial naquele fora de hora e de agenda do Jaburu. Este provavelmente será o mote para a desqualificação geral de todos os registros dos delatores, com alguma associação a idênticas percepções já verbalizadas por um ou outro ministro do STF.
A batalha das versões já está em curso entre a situação e a oposição, cada qual no seu quadrado inflando as percepções segundo o interesse particular. Mas, tem uma sugestiva frase sua que ficou gravada: “Tem que manter isso aí, viu?”
MARCELO MILLER – Ex Procurador da República que, de auxiliar de primeira linha do Janot, demitiu-se para migrar para a advocacia privada levando consigo informações privilegiadas para a montagem das delações premiadas, que já vinha orientando, segundo consta, antes da demissão.
Com a repercussão negativa já foi demitido da banca de advogados, e, dizem, a OAB estaria examinando a cassação do seu registro. Vale dizer que vai ter que arranjar emprego em outra seara que não a do Direito. Por avareza e por traição, pode se transformar no grande perdedor.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) – Acaso se confirmem as informações que estão sob sigilo (naturalmente por pouco tempo), terá que lidar com a suposta denúncia de que um ou quatro dos seus membros teriam praticado alguma irregularidade relacionada nas gravações.
Pode ser que o andar da carruagem estabeleça ali um ambiente de desconfiança para se confrontar com o corporativismo, sendo certo avaliar que – repito, se confirmada a denúncia e a sua consistência – algum membro possa pleitear uma depuração. De qualquer forma, é importante ressaltar que na misteriosa coletiva, o Janot disse apenas que o agente do STF citado está protegido por foro privilegiado. Não definiu tratar-se, ou não, de ministro. Ah, bom!
RAQUEL DODGE – Futura Procuradora Geral da República, a partir do dia 18, pode rever, se quiser, outras delações premiadas de benefícios tidos como excessivamente benevolentes.
Enfim, fica provado que cada amanhecer brasileiro contém a imprevisibilidade de um perigo novo.
Por: Luiz Saul Pereira
BRASÍLIA - DF

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Caro leitor, seja educado em seu comentário. O Blog Opinião reserva-se o direito de não publicar comentários de conteúdo difamatório e ofensivo, como também os que contenham palavras de baixo calão. Solicitamos a gentileza de colocarem o nome e sobrenome mesmo quando escolherem a opção anônimo. Pedimos respeito pela opinião alheia, mesmo que não concordemos com tudo que se diz.
Agradecemos a sua participação!