quinta-feira, 19 de outubro de 2017

UM PAÍS TORNADO REFÉM DA CRIMINALIDADE OU NÃO?- POR LUIZ SAUL


Por coincidência ou por confluência das notitias criminis atribuídas a “representantes do povo”, o Senado Federal e a Câmara dos Deputados patrocinaram o melhor retrato da Pátria Deteriorada, e transformaram o dia 17 de outubro em uma data a ser esquecida, em novo episódio em que os políticos seguiram destruindo a política como ciência solene e milenar.
No Senado, apesar de um enredo previsto, chamou a atenção o fato de que a maioria dos pronunciamentos, embora direcionados para contrariar o STF e liberar o Aécio Neves, manteve-se mais claramente na defesa da independência da Instituição e menos na recondução do mandato do senador sob a ótica da sua inocência.
Não houve, como é comum, remissões a qualidades políticas e pessoais para a sustentação da defesa, nem também as comuns manifestações de júbilo após o resultado. Mais pareceu um ato burocrático, e, sem embargo de uma ou outra manifestação de solidariedade partidária, o seu retorno às funções parece em boa medida haver decorrido da necessidade de encerrar o capítulo e engolir o constrangimento. Os caras votaram no futuro e na legítima defesa prévia, e não no Aécio, que passa à condição de zumbi.
Despido da arrogância que agora será reconstruída, o senador, tal qual o Temer, mandou cartinhas para os votantes, pedindo a oportunidade da sua volta para poder continuar conspirando em favor da manutenção do Presidente da República, que tem sido a sua única mas importante função nos últimos tempos, além, é claro, da inútil tentativa de explicar a negociação cabreira da venda de um apartamento ao Joesley. Me engana que eu gosto!
Em meio a isso, contudo, a avaliação assuntada de que o afastamento se deu sem a formalização de um processo, mas baseado em denúncia, parece atenuante. Ainda assim, é fato que doravante jamais será o mesmo senador, com a mancha a lhe perseguir e os favores a serem cobrados. Quem já não era grande apequenou-se, até porque os correligionários insistem em que deixe a presidência do partido em definitivo.
No outro plenário, o da CCJ da Câmara, segue o lesco-lesco da defesa do Temer, sendo certa a influência dos ecos da medida do Senado para a compensação de decisão do que já está previamente decidido, ou seja, a rejeição da denúncia. Apesar do teatro encenado pelos opositores, o jogo já foi jogado.
Curiosamente, um dos opositores, o Wadih Damous, ex-presidente da OAB, travestindo-se de jurista insuspeito, afirmou o “voto político” pelo prosseguimento da denúncia, mas, desancou os métodos do Ministério Público e o conteúdo da peça encaminhada pelo Rodrigo Janot, que passa a ser o bandido da vez a ser desconstruído, como esperado. Foi quase um voto de neutralidade.
A retomada do assunto, hoje, servirá apenas para o cumprimento das formalidades de liberação, sendo certo que continuarão negando a intimidade do denunciado com os irmãos da JBS, apesar dos encontros furtivos e mesmo do uso do avião da dupla, juntamente com a primeira bela dama, quando o Temer não sabia a quem pertencia a aeronave.
Tantos acontecimentos criminais em um só dia são mesmo um detalhe, apenas um detalhe, do retrato de um país tornado refém da criminalidade.
Ou não?


Por: Luiz Saul Pereira
        BRASÍLIA - DF


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