ENTÃO TÁ, EU NÃO SABIA - POR LUIZ SAUL

O sociólogo Fernando Henrique, Cardoso referindo-se ao cartel do metrô de São Paulo afirmou, em entrevista ao Blog do Josias, que embora o esquema de propina tenha atravessado tantas gestões do PSDB (Covas, Serra e Alckmin), as “gorjetas” foram distribuídas a funcionários subalternos, sem qualquer participação do partido ou de seus dirigentes, que nunca souberam de nada.

 
Noutro momento da entrevista traçou uma comparação bem singular entre os mensalões do PT e o de Minas Gerais. Tentando minimizar o caso mineiro, como se fosse possível, afirmou que os dinheiros, ainda que provindos da mesma fonte e pelo mesmo intermediário, serviram “apenas” para sustentar os gastos de uma campanha. Já no caso do PT, os recursos destinaram-se à compra de parlamentares. 

Então tá então.

A cândida sutileza do raciocínio do ex-presidente consolida o conceito do “eu não sabia” largamente usado pelo seu sucessor, assim como oferece uma gradação entre violações de igual gravidade. A tentativa da arrogância intelectual de alguns de impregnar conceitos equivocados para manejar a população constitui uma recorrência que pretende nivelar o ouvinte, o leitor e circunstante à condição mais pura do basbaque.

Ora, crime é crime devidamente capitulado nos códigos próprios, admitido, inclusive os atenuantes. Mas, pretender classificar esses delitos políticos em uma escala de gradação de gravidade parece demais. Por outro lado, essa coisa do “eu não sabia” virou um deboche que só funciona no esgotamento das desculpas de quem busca embaralhar o julgamento.