Consultório
médico também é local onde se ouve estórias pitorescas.
Recém-formado,
fui para a Bahia, e uma das primeiras consultas foi de um garoto de oito anos,
cuja queixa era dor abdominal. Ao observar o buchudinho fiquei imaginando
quantas lombrigas o danado carregava nas tripas. Examinei o pimpolho, pelo
direito e pelo avesso, constatando que realmente se tratava de um caso de
parasitose intestinal. Prescrevi ASCARIDIL e PANFUGAN, um específico para
áscaris e outro anti-helmintico polivalente.
Ao
me despedir do pai do menino, pedi que me informasse de qualquer novidade. A
resposta não demorou oito dias. Soube que o garoto fizera um quadro de
obstrução intestinal e fora levado a DIDI, um curador famoso da região, onde
fora medicado. O pai do garoto aparece no meu consultório, com uma tampa de
lata na mão, cheia de lombrigas, mais precisamente 182 bichas. Após breve
relato do agravamento do quadro clinico, narrou a consulta com o curador, com
detalhes até então, por mim desconhecidos e sem nenhum embasamento cientifico.
-
O doutor estava certo. O caso do menino é verme. Só que elas estão ensacadas e
a boca do saco está para baixo, o remédio não penetrou. Ele vai tomar duas
colheres de sopa de BRANDOVERME e vai ficar vinte minutos “plantando bananeira”
para o remédio fazer efeito. O resultado não podia ser diferente, o moleque
botou um novelo de lombriga que deu trabalho para separá-las e contá-las.
Convém
esclarecer que a droga de eleição para tratamento de obstrução intestinal por
“bolo de áscaris’ é a Piperazina, principio ativo do miraculoso remédio
administrado.
Saco
de lombriga é pura fantasia.
Autor: João Antas Veríssimo
triunfense, médico pela Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco
Autor de Contos e Causos
Autor de Contos e Causos
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