Na pedagogia do oprimido a capacidade interpretativa do que se lê, do que se escreve e do que se escuta é conduzida para uma leitura de mundo unilateral. O alfabetizando é levado a se ver como um ser oprimido que precisa se libertar, ou seja, planta-se nele a semente da discórdia. Não lhe é mostrado o ponto de vista do suposto opressor. E, assim, o indivíduo cria em sua mente um mundo dicotômico – no qual ele é o oprimido e o “opressor” é o inimigo. Esse cidadão evolui, conclui um curso superior, ascende socialmente. Quem está no degrau de cima é, potencialmente, um opressor, e ele não vê que os que estão nos degraus inferiores agora o veem também como um opressor. E por que ele não se julga um opressor? Porque ele pensa como oprimido, só foi “programado” para combater o inimigo que o oprime e não consegue enxergar o ponto de vista do opressor. Ele se julgará sempre um oprimido (nunca um opressor) mesmo que esteja nos últimos degraus da escalada social. Por conta dessa ilusão que paira na mente de muitos, é que hoje todos combatem um ser abstrato – as elites –, ninguém faz parte desse grupo, o sujeito tem mestrado, doutorado, é bem remunerado e vem com aqueles discursos de bom-moço, como se ele fizesse parte do povão. Esse mesmo sujeito bonzinho, na prática, é incapaz de pagar à sua diarista dez reais a mais no salário.
Pois bem,
uma pedagogia destinada a formar o cidadão deveria ensiná-lo a refletir também
sob a ótica do opressor. Mas essa pedagogia que está em voga, em vez de
procurar desenvolver um espírito de união entre os brasileiros, propaga apenas
o espírito de desavença. Faz do cidadão massa de manobra. Olhe que falo isso
até por experiência própria, lembro-me muito bem de minha época de bancário nos
anos oitenta... Naquela época, ainda um jovem universitário, deslumbrado,
idealista, eu mesmo enxergava o empregador como um opressor insensível. Nas
negociações salariais, no sindicato, quando vinha um camarada defender a visão
do empregador, a gente, sem sequer escutá-lo direito, tachava-o logo de
“pelego”. Não conseguíamos ver que ambos – opressor e oprimido – são parceiros
na construção da riqueza. E essa luta, essa incompreensão, muitas vezes, pode
prejudicar os dois lados (o trabalhador perde o emprego e o empresário vê o seu
negócio inviabilizado).
Essa
visão unilateral, pautada sobretudo na luta de classes, infelizmente se estende
para outros campos da vida. Nossos movimentos sociais tornam-se radicais, o
mundo passa a ser visto como se fosse um campo de batalha, a história é
modificada, os discursos apresentam-se enganosos, e por aí vai. Daí o porquê de
mesmo com esse mar de lama em que se encontra o nosso Brasil, por mais que
fiquem claros os acontecimentos, ainda veremos gente instruída defendendo bandidos,
por questões meramente ideológicas.
Esta
trecho do célebre livro de Paulo Freire é bem interessante: “Na verdade,
porém, por paradoxal que possa parecer, na resposta dos oprimidos à violência
dos opressores é que vamos encontrar o gesto de amor. Consciente ou
inconscientemente, o ato de rebelião dos oprimidos, que é sempre tão ou quase
tão violento quanto a violência que os cria, este ato dos oprimidos, sim, pode
inaugurar o amor.” Claro que há o contexto! Mas então, o que dizer? Bem, para
concluir, eu diria que essa pedagogia do oprimido serve mais para fins
revolucionários do que para fins educacionais.
No último parágrafo, onde se lê: "Esta trecho do célebre livro de Paulo Freire...", leia-se: "Este trecho do célebre livro de Paulo Freire..."
ResponderExcluirMuito oportuna a correção, fiquei na realidade na dúvida. Mas parabéns, pelo texto.
ResponderExcluirSatisfação ler o senhor Ednaldo Bezerra.escreva com maior frequência.
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