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Triunfense Fátima Barros no quadro Viajando pelos Sertões 2016. Foto: Robério Sá / Âncora |
Em nosso quadro “Viajando pelos Sertões”, nossa equipe de reportagem
foi até Triunfo, no Sertão Pernambucano. Município hospitaleiro, povo
caloroso, clima frio, marcante ênfase cultural e turística cidade
interiorana. É neste “Oasis do Sertão”, que encontramos a artista
multicultural Maria de Fátima Barros, que aproveitando o embalo
turístico da localidade, trabalha fortemente a história e o legado de
tempos remotos que perduram até hoje vívidos, representados por
memórias, produções artesanais e artefatos históricos advindos de
famílias tradicionais que preconizam o amor ao fazer cultura. Composta
por três matérias, nesta primeira, conheceremos o lado de artesã e
proprietária de Atellier de nossa entrevistada, com foco na família e
legado, orgulhos da triunfense.
Maria de Fátima Barros, 55 anos, viúva,
dona de casa, mãe, artesã, proprietária do Atellier Emília e Lita
Barros, soprando profissional, cantora profissional, radialista, natural
do município de Triunfo, no Sertão de Pernambuco é filha de José
Mendonça (falecido aos 72 anos) e Olga Barros, 80 anos.
Fátima Barros,
como é conhecida, descende de tradicionais famílias da região, Barros e
Mendonça, ambas fortemente ligadas a questões de cunho artístico
cultural. A família Mendonça, tradicional das imediações de Floresta, no
Sertão de Pernambuco, de São João do Barro Vermelho e a Barros de
tradição bem sertaneja, que ao longo das gerações cultivaram o gosto
pela arte, crescendo a profissional, com a herança característica dos
sobrenomes que representa, discorrendo que é uma tradição passada de
geração em geração, sendo um dom aprimorado com o passar dos tempos. “Eu
absolvi esse dom e hoje trabalho essas peças de artesanato para
divulgação cultural e também para venda aqui no atellier, então, é
tradição”, disse Fátima.
A artista nos conta que “a família veio
cultivando o gostar da arte porque a geração já nasceu com esse dom,
tanto da parte de meu pai, como da parte da minha mãe. Hoje,
necessariamente, não sobrevivo do artesanato, mas carrego aqui uma
história cultural muito grande das famílias Barros e Mendonça, que é
esse legado que Fátima Barros hoje tem em mente, focada”, completando
que sua arte tem como objetivo principal divulgar a história de Triunfo,
sobretudo, a história de sua família, se utilizando de um espaço que
preserva uma tradição centenária, o Atellier Emília e Lita Barros,
o qual carrega o nome de suas tias [irmãs de sua mãe] já falecidas
[Emília, aos 95 anos e Lita aos 88 anos], que atuaram como professoras e
brilhantes artistas multiculturalistas no município de Triunfo. O
espaço possui peças artesanais, fotos familiares, registros de ações de
cunho cultural desde seus antepassados até os dias atuais, itens
históricos representativos da tradição familiar, assim como da cultura
triunfense.
Uma cidadã ferrenha que preza pelo
legado e amor a família, Fátima relata que precisa manter viva a
história que é o seu maior orgulho, contando com o apoio da mãe que
apesar da idade, tem muita disposição para ajudar a filha. “A minha mãe
hoje borda, faz fuxico, faz crochê, pinta, apesar dos 80 anos. Ela tem
pouca locomoção, mas a mente dela é muito saudável. E as tias, Emília e
Lita Barros, que tem os nomes estampados ai na fachada do meu atellier
são uma forma de orgulho, é uma forma e divulgar a arte e a cultura de
Triunfo, e levar adiante essa história, porque se hoje a Fátima não
levar isso adiante, vai morrer. Alguém tem que manter essa história.
Então, quando você vem até mim, me pergunta sobre a origem da minha
família, principalmente da arte, o que eu te respondo é que pra mim é
orgulho falar da minha família, tanto da parte do meu pai, quanto da
parte da minha mãe, porque todos eles tinham essa veia artística, essa
veia de gostar da arte e da cultura”.
O Atellier Emília e Lita Barros dispõe
de relíquias, peças centenárias, algumas com quase 200 anos, as quais
resgatam histórias que encantam os visitantes. Há um espaço reservado
para apreciação destes itens, que conforme relata a artista, conseguiu
ao longo dos anos com a ajuda da mãe, montar esse pequeno acervo, que
embeleza o lugar e expressa um grande valor sentimental, de referência
profissional e de vida, discorrendo: “Sei que a história delas [as tias]
é imensa, é extensa, mas às vezes, a própria família esquece um
pouquinho de se manter aquelas peças, mas consegui junto com minha mãe
de 80 anos, ainda resgatar algumas peças centenárias ou mais. Tenho
peças ali com quase 200 anos as quais já vieram do legado, da história
das irmãs Emília e Lita Barros que pra mim hoje são uma grande
referência. Hoje quando as pessoas chegam que começo a relatar
histórias, fatos que aconteceram aqui, principalmente nesse espaço que
hoje é o atellier, ficam fascinadas pela história do que elas
representaram. Então, tenho peças aqui que pra mim são mais do que
relíquias, é o valor estimativo”.
A artista afirma que 80% das peças
expostas no Atellier são feitos por ela mesma, sendo sua dedicação
focada no espaço, onde “pego a minha habilidade e ‘jogo’ para aqui,
deixando o meu legado”, disse, ressaltando que alguns itens são
exclusivos, devido trabalhar com detalhes e a delicadeza em suas
produções – “O que chama mais atenção dentro do meu Atellier,
principalmente no Carnaval, são as camisetas que customizo. São aquelas
camisetas que levam o padrão de Triunfo, que é o personagem cultural ‘Os
Caretas’. Então, as minhas peças são bem diferenciadas das demais,
porque levo detalhes. A minha marca maior hoje são as camisetas, são os
bordados das peças de mesa, paninhos de prato, de aplicações. Gosto
muito da delicadeza, por isso já é a minha marca maior esse trabalho bem
manual”, expressando ainda que há dificuldade para ensinar a arte, de
dar cursos, uma vez que não lhe sobra tempo disponível – “Em questão de
ensinamento, de repassar, eu não tenho esse tempo disponível, por conta
que hoje apresento o programa aos domingos, faço as peças do atellier,
sou dona de casa, então, não tenho tempo”, pontuou.
COM 20 ANOS DE CARREIRA, FÁTIMA BARROS DIZ " RELUTEI ALGUNS ANOS PARA NÃO ENTRAR NA MÚSICA", FOI INEVITÁVEL...
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Cantora Fátima Barros no tom do romantismo em Triunfo-PE. Foto: Robério Sá / Âncora |
Além de cantora, também é radialista no patrimônio da comunicação triunfense.
MOMENTO MARCANTE
Em suas comemorações tradicionais, como a
“Festa dos Estudantes”, também conhecida como “Circuito do Frio”; e o
Natal Triunfo, por exemplo, a cidade de Triunfo, com apoio do Estado e
órgãos culturais, recebendo artistas de todo o país, e, falando sobre
isso, Fátima recorda das personalidades que já passaram pelo município e
dos momentos que a estimularam e marcaram. “Triunfo é uma cidade
cultural. Já recebemos cantores e cantoras maravilhosas, a nível
nacional, mas teve uma que veio a Triunfo e me referencio muito nela, no
sentido de performance de palco. Não que eu a imite, porque acho que
todo cantor tem a sua forma, mas você olhar, admirar e lembrar que
alguma coisa nela tem alguma coisa haver com você… Foi à cantora
Paranaense Fafá de Belém. Ela veio a Triunfo e me chamou muito atenção a
sua performance em palco. Alcione esteve aqui também, sou fã dela,
gosto muito do estilo musical. (…) Outros cantores que vieram me
deixaram marcas, como Emílio Santiago, que assisti o show com meu pai.
Isso me marcou bastante porque estávamos próximos ao palco. Emílio
Santiago, aquele homem moreno, bem vestido e meu pai se sentiu humilde,
mesmo sendo um grande cantor, um tenor, se sentiu humilde escutando a
voz de Emílio Santiago. Ele chegou pra mim e disse ‘Minha filha, no bom
sentido, esse negão canta demais’. Essa foi uma frase que me marcou e
eu simplesmente olhei pra ele e disse ‘o outro negão que é o senhor,
também canta demais’ e ele sorriu, me abraçou. Até as lágrimas teimaram
em cair um pouco dos olhos dele quando Emílio Santiago fez referência a
ele como um cantor da cidade de grande porte. Essa foi uma das marcas
maiores de Fátima Barros dentro da história musical”.
SERESTEIROS DE TRIUNFO
O projeto triunfense denominado
“Serenata de Triunfo”, é uma história quase que centenária surgida em
meados dos anos 30, e sob a responsabilidade de José Mendonça a partir
de meados de 1970. Com um rol de artistas cantando músicas românticas,
clássicas nas ruas da cidade, as pessoas abrem portas e janelas pra
prestigiarem as serestas.
Após o falecimento de seu pai, Fátima
Barros assumiu o comando do projeto, o qual administra até hoje e
descrevendo o objetivo e atuação do grupo, nos conta – “É um grupo
itinerante, bem leve. Tenho fotos, livros, violão e o estilo de música é
clássica. Tem cantores que cantam Nelson Gonçalves, outros cantam
Altemar Dutra, eu canto Ângela Maria, Núbia Lafaet, pois são músicas
saudosistas. O projeto é levar a música de qualidade, a música romântica
com saudade de boas lembranças. O que predomina mesmo é o violão,
principalmente na madrugada, que o som do violão é emocionante, é
divino. Temos o violão, o tantã, o sax. (…) Saímos nas ladeiras uma vez
ao mês ou quando somos convocados nos momentos folclóricos, nos momentos
de atrações culturais na nossa cidade. Se você procurar na internet,
vai encontrar ‘Fátima Barros e os Seresteiros de Triunfo’, porque quando
assumi, assumi com toda a responsabilidade. Levo meu nome, a
responsabilidade é minha, o que acontecer com o grupo eu assumo tudo. É
um orgulho levar esse projeto adiante. (…) Gostamos de sair depois das
22 h, já fizemos até depois das 00 h, nessas datas bem comemorativas,
como dia dos namorados, sempre levo uma florista e quem abrir a janela,
ou um casal, ou um jovem, qualquer pessoa que abrir, entregamos uma
rosa. Também saímos na véspera do Dias das Mães, no Natal, no Dia
Internacional da Mulher. Então, nessas datas comemorativas sempre
fazemos algo para levar sentimento e romantismo e não deixar que a
música clássica, que o que tem de bom, morra”.
Click na setinha ao centro da imagem e ouça na integra o relato da Artista Multitalentosa, a triunfense Fátima Barros
Crédito: ANCORA DO SERTÃO
Parabéns, Fátima! você herdou esse dom com talento para tocar e cantar do seu pai,nosso professor Mendonça. Lembro-me nas aulas de educação física, 6,00hs da manhã, ele mandava os estudantes mergulharem no açude e a turma queria atravessar no nado, ele imediatamente gritava,; volta...volta.. sabia o que estava fazendo, imagina se desse uma cambra em alguém.
ResponderExcluirSobre as músicas de hoje, não têm conteúdo, melodia e letra, é pena que isso esteja acontecendo. Restam essas dos cantores que estão indo embora com suas almas para vida eterna.
Vá em frente, muito bonito o seu trabalho, resgatando essas músicas que nos faz recordarmos os bons tempos....