terça-feira, 10 de julho de 2012

MORRE CARDEAL DOM EUGÊNIO SALES



RIO - O cardeal Dom Eugenio de Araújo Sales, arcebispo emérito do Rio de Janeiro, morreu na noite desta segunda-feira, às 22h30m. Segundo a Arquidiocese, ele estava na Residência Assunção, onde morava, no Sumaré, por infarto agudo do miocárdio. O religioso, que tinha 91 anos, será velado a partir do meio-dia desta terça-feira, na Catedral Metropolitana, quando irão soar os sinos de todas as igrejas do Rio. O enterro será no mesmo local, nesta quarta-feira, às 15h. Durante o velório, haverá missas a cada duas horas.

Por meio de nota divulgada na madrugada desta terça-feira, o governador Sergio Cabral decretou luto oficial de três dias. O prefeito Eduardo Paes também decretou luto de três dias na cidade. Em nota, ele disse que Dom Eugenio "zelou por nossa cidade durante décadas. Grande homem de Deus, ele será sempre lembrado por sua sabedoria, a força de seus ensinamentos, a perspicácia com que comunicava e defendia sua fé e o exemplo de caridade nos anos mais difíceis da história brasileira"

Por volta das 5h da manhã, o corpo deixou a Residência Assunção, onde estavam reunidas cerca de 15 pessoas entre padres, freiras e funcionários da casa, e seguiu para o bairro de Inhaúma, onde será embalsamado.

O enterro ocorrerá após a chegada do bispo auxiliar do Rio de Janeiro, Karl Romer, que está em Roma, na Itália. O irmão de Dom Eugenio, Dom Heitor de Araujo Sales, arcebispo emérito de Natal, no Rio Grande do Norte, está na Suíça e não conseguiu passagem. O religioso é aguardado para a missa de sétimo dia.
A Arquidiocese informou, ainda, que a rotina de Dom Eugênio nos últimos dias era apenas de ficar no quarto e no gabinete, onde lia muitos jornais e assistia à TV. Ele não teria nenhuma doença específica. Segundo cálculos da Arquidiocese, Dom Eugenio faria 69 anos de sacerdócio, 58 de episcopado, 43 de cardinalato, em seus quase 92 anos de vida. Ele sagrou 22 bispos e ordenou 215 sacerdotes.

As homenagens a Dom Eugenio

Além de ter decretado luto oficial de três dias, Cabral disse por meio de nota que Dom Eugenio Sales era amado pelo povo do Rio de Janeiro e que, “nas últimas décadas, a sua liderança religiosa foi a mais importante do nosso estado”. O prefeito Eduardo Paes também lamentou a morte por meio de nota, dizendo que “o grande homem de Deus será sempre lembrado por sua sabedoria, força de seus ensinamentos, perspicácia com que comunicava e defendia sua fé e o exemplo de caridade nos anos mais difíceis da história brasileira".

O arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, também comunicou a morte de Dom Eugenio, por volta das 0h40m, por meio do Twitter: “Nosso querido Cardeal Dom Eugênio faleceu. Pedimos orações pelo seu descanso eterno!” O religioso também lamentou a morte por meio de nota: “É uma tristeza anunciar essa notícia nesse momento. Mas ele era um homem de Deus e serviu a Jesus Cristo. Sempre esteve presente nos momentos importantes do Brasil principalmente na questão dos refugiados e na defesa dos perseguidos e teve presença marcante na igreja do Brasil e do Vaticano. Trabalhou em educação de base e na evangelização nas arquidioceses do Rio, Natal e Bahia. Viveu quase 92 anos principalmente pelo sua presença significativa na igraja e no Brasil. Ele foi alguém que sem dúvida soube viver dando continuidade aos ensinamentos.”

Já a Arquidiocese, ao informar a morte do cardeal, lembrou que, fundamentado na Carta de São Paulo aos Coríntios, o lema do religioso foi: "Impendam et Superimpendar" (2Cor 12,15: “De mui boa vontade darei o que é meu, e me darei a mim mesmo pelas vossas almas, ainda que, amando-vos mais, seja menos amado por vós”).

Presidente do Tribunal de Contas do Município (TCM), Thiers Montebello, por meio de mensagem divulgada também durante a madrugada, disse que o cardeal “era uma pessoa muito querida, especial como religioso, deixou uma marca muito significativa como o chefe da Igreja Católica do Rio de Janeiro. Foi uma autoridade religiosa que acolheu perseguidos políticos, mas sem deixar de ser respeitado pelo poder público. Foi uma perda significativa para a Igreja e o povo”.

Uma história dedicada à Igreja

Nascido em 8 de novembro de 1920, em Acari (RN), o cardeal teve o nome entre os candidatos a Papa depois da morte de João Paulo I. Conhecido como o homem do Vaticano no Brasil durante os 30 anos em que esteve à frente da Arquidiocese do Rio, o cardeal continuou sendo querido pelo Papa, mesmo afastado das funções eclesiásticas no estado fazia quase uma década. O arcebispo emérito do Rio chegou a ser surpreendido, às vésperas de completar 90 anos, por uma carta de felicitações assinada por Bento XVI.

Para Dom Eugenio, o documento não foi sinal de prestígio, mas o reconhecimento de uma vida dedicada à fé.
Em 67 anos de vida dedicada à Igreja, o cardeal foi rotulado tanto como líder conservador quanto "bispo vermelho", por ter, no início do sacerdócio, ajudado a criar os primeiros sindicatos rurais no Rio Grande do Norte. Um capítulo importante da vida de Dom Eugenio remonta à ditadura, quando atuou de maneira silenciosa, abrigando no Rio mais de quatro mil pessoas perseguidas pelos regimes militares do Cone Sul, entre 1976 e 1982, especialmente argentinos. A história da participação sem alarde do arcebispo foi contada, 30 anos depois, pelos principais meios de comunicação. Discretamente, o cardeal cultivava delicadas relações com os militares e ajudou a salvar vidas.

Para dar conta de tanto pedidos, autorizou o aluguel de quartos e depois apartamentos. A ajuda incluía dinheiro para gastos pessoais, assistência médica e auxílio jurídico. Em entrevista ao GLOBO em 2008, Dom Eugenio contou por que agiu nos bastidores:

— Se eu anunciasse o que estava fazendo, não tinha chance. Muitos não concordavam, mas eu preferia dialogar e salvar — disse. — Eu não tinha nem nunca tive interesse em divulgar nada disso. Queria que as coisas funcionassem, e o caminho naquele momento era esse, o caminho de não pisar no pé (do governo).
Em entrevista ao GLOBO em 2010, vestido de preto, com um crucifixo de prata no pescoço, o homem que organizou as duas visitas do Papa João Paulo II ao país, em 1980 e 1997, respondeu a todas as perguntas com serenidade, mas fez questão de deixar claro que estava cansado do assédio por conta das comemorações do seu 10º aniversário:

— Eu já estou cansado, às vezes minha memória falha. Mas faço questão de receber os jornalistas. Nada no mundo funciona sem a comunicação. Ela é fundamental para difusão do Evangelho. Eu levei isso muito a sério na minha vida religiosa, instalei rádios, escrevi em jornais, dei muitas entrevistas para TV. Quando eu não podia ir ao local, eu chegava às pessoas pelos meios de comunicação.

Além de ter ser considerado um bom articulador e um defensor incansável da doutrina católica, Dom Eugenio era citado como grande empreendedor. Ao assumir a Arquidiocese, na década de 70, mandou construir nos fundos do Palácio São Joaquim um prédio de dez andares para reunir num só lugar serviços da Igreja espalhados pela cidade. Também criou dezenas de pastorais, entre elas a Pastoral Penal, a das Favelas e a do Menor.

Dom Eugenio passou parte da infância no sertão nordestino. A vocação para o sacerdócio surgiu no início dos anos 30, após ser matriculado em colégio marista de Natal. Antes de optar pela Igreja, pensou em ser engenheiro agrônomo. Foi ordenado em 21 de novembro de 1943.

Matéria: O Globo

Imagem retirada do Blog do Seridó

13 comentários:

  1. Esse era um grande homem, tinha posicionamentos determinados e não era igual a esses falsos líderes religiosos de hoje que utilizam a boa vontade dos fiéis. Na prática, notamos que os políticos e os religiosos principalmente evangélicos não tem interesse na evolução educacional dos eleitores e daqueles que seguem cegamente a orientação dos seus dirigentes políticos e dos pastores das diversas religiões que publicamente podemos observar. Quanto mais ignorante ou analfabeto for o cidadão, mais fácil se tornará massa de manobra nas mãos dos poderosos

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    2. Homem de Deus, prestou grande serviço à Igreja de Cristo.Agora repousa nos braços do Pai do Céu.Saudades Dom Eugênio Sales.

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    3. Católicos se despedem hoje do cardeal dom Eugenio Sales.Ele chegou a ser cotado para papa aós a morte de João Paulo I.

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    4. Dilma Lopes Carvalho11 de julho de 2012 às 10:55

      Em sua trajetória, a preocupação social sempre esteve associada ao trabalho eclesiástico, como bem sintetizam as campanhas da Fraternidade, uma de suas iniciativas que marcaram a ação da Igreja em todo o Brasil.

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    5. Dom Eugênio Sales deu muito abrigo a fugitivos das ditaduras e teve 67 anos dedicados à Igreja, o cardeal foi rotulado tanto como líder conservador quanto "bispo vermelho", por ter, no início do sacerdócio, ajudado a criar os primeiros sindicatos rurais no Rio Grande do Norte, onde nasceu na cidade de Acari.

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    6. Rotulado como conservador, dom Eugênio Sales protegeu, com seu jeito refinado e conciliador, a vida de centenas de perseguidos políticos pela ditadura militar no Brasil e pela Operação Condor.

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  2. Lamentável sob todos os aspectos e princípios políticos a adesão do PCdoB, sem discussão e transparência aceitar um candidato a prefeito de direita sem nenhum preparo,o povo mais uma vez prejudicado.É uma pena o que está acontecendo com a oposição que já foi considerada bastante eficiente.

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    2. Perde a Igreja Católica o mais antigo cardeal que morreu ontem aos 91 anos de infarto, em casa, em casa enquanto dormia.Será sepultado hoje.Ele era inteligente e muito especial.

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  3. Se ex-vice-prefeito Osaildo, após a humilhação sofrida pelo prefeito, apoiar a candidatura dele, a sua dignidade atingirá a região abissal dos seres disformes.

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  4. Que Deus o tenha num bom lugar.
    Dom Eugênio combateu o bom combate e nos deixa maravilhosos exemplos.

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