Filha de Nelson Rodrigues, Maria Lúcia Rodrigues, ressalta os temas polêmicos tratados pelo pai escritor
Essa reflexão do escritor, jornalista e dramaturgo pernambucano Nelson Falcão Rodrigues (1912- 1980) poderia ser considerada somente mais um estorvo que acomete a ciência jornalística ao condensar a produção intelectual de um indivíduo que dominou sua inteligência e alcançou, por meio do seu olhar, a superfície sensível do outro e dos processos sociais contemporâneos a ele.
Ao contrário disso, o pensamento ilustra, com precisão, a frenesi de um intelectual em relação à hipocrisia que passeia na sociedade brasileira até os dias atuais. Inclusive nestes 23 de agosto de 2012, data em que se comemora o centenário de nascimento da personalidade.
Recifense, Nelson Rodrigues completaria 100 anos nesta quinta (23) se estivesse vivo
Foto: reprodução
Essa tal cordialidade tupiniquim, esclarecida com proficiência pelo historiador paulista Sérgio Buarque de Holanda, no clássico Raízes do Brasil (1936), foi posta em defeitos na obra rodrigueana, entre peças, contos e crônicas escritas pelo literato. Seja por meio do beijo dado pela personagem Arandir num desconhecido, em O beijo no asfalto (1960), ou do infanticídio cometido em Anjo negro (1946), motivado pelo contraste na cor da pele dos filhos de Ismael e Virgínia, Nelson Rodrigues conseguiu bulir, nem que seja por um rato momento, nos tabus da classe média que frequentava os teatros cariocas - apesar de ter nascido em Pernambuco e carregado o teor revolucionário desse povo no sangue, foi no Rio de Janeiro onde ele viveu e atuou durante maior parte da sua existência.
Assim como observa a pesquisadora da PUC-RJ Tânia Salém no trabalho “A família em cena”, Nelson Rodrigues falou de práticas e princípios morais correntes de modo paradigmático. Segundo ela, o cronista analisou a vida familiar, sua forma de organização, aflições e conflitos. Quanto à sexualidade, no contexto da sua obra, “funciona como uma espécie de linguagem que a expressa. Isto é, através das regras e infrações sexuais desvela-se a dinâmica e configuração específica de entes queridos”. Não seria a instituição família a mais repressora de todas?!
Curioso espreitar também que os temas abordados por Rodrigues, relativos à questão dos homossexuais, negros e mulheres nas esferas pública e privada, se mantêm atuais na contemporaneidade. No Brasil ou no exterior. Afinal, o mote da sua escrita foi desde sempre o cotidiano. E, ao que tudo indica, nossas vergonhas e preconceitos não mudaram muito no decorrer do tempo.
Nelson Rodrigues foi um aclamado escritor, jornalista e dramaturgo pernambucano
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Para ratificar isso, basta examinar um jornal diário ou endereço eletrônico qualquer nesta semana e se deparar com notícias como a de que a cantora americana Madonna está sendo processada por ativistas anti-gays por ter criticado negativamente, em show na Rússia, condenação das integrantes da banda feminista punk Pussy Riot e o novo regulamento da cidade de São Petersburgo - que proíbe desfile do orgulho gay pelos próximos 100 anos.
Ou confrontar-se com a informação de que o quadrinista brasileiro Maurício de Souza é acusado de racismo porque a personagem principal de uma cartilha educativa ilustrada por ele (sobre órgão encarregado de executar medidas judiciais aplicadas a adolescentes em conflito com a lei) é um jovem negro e morador de favela.
Na entrevista aqui, gravada nesta quarta-feira (22), durante o término da montagem da exposição Ocupação Nelson Rodrigues, a filha do escritor Maria Lúcia Rodrigues, doutora em educação pela UFRJ, atualiza os tabus desnudados pela obra do seu pai.
OCUPAÇÃO NELSON RODRIGUES - Na Torre Malakoff, a partir desta quinta-feira (23), tem início a exposição Ocupação Nelson Rodrigues, no mesmo dia em que o dramaturgo completaria cem anos. A mostra pretende revelar um lado nada “anjo pornográfico” do autor por meio de jornais, pôsteres, revistas, entrevistas sonoras, visuais e impressas. Ela faz parte da programação do festival A letra e a voz, que acontece até o próximo dia 26.
O material da exposição permanecerá às vistas dos recifenses até o dia 21 de outubro. A ocupação tem incentivo do Itaú Cultural, curadoria de Maria Lucia Rodrigues, uma das filhas do Nelson, e cocuradoria de Sônia Muller, neta do autor. Abaixo, Sônia conta um pouco como foi produzir o material audiovisual da mostra. Além disso, o cenógrafo pernambucano Valdy Lopes Jn. revela como pensou na montagem de todo conteúdo exposto, levando em consideração a arquitetura do lugar. A Ocupação Nelson Rodrigues foi lançada na cidade de São Paulo, no ano passado.
Matéria retirada do Ne10
O pernambucano Nelson Rodrigues faria 100 anos hoje.Ele foi o maior dramaturgo do Brasil.
ResponderExcluirFAÇAM PESQUISA COM OS CANDIDATOS A PREFEITO
ExcluirNelson Rodrigues morreu no dia 21,12,1980. Nelson um necessário. Talvez o próprio autor, gênio avesso à objetividade ( "Se os fatos são contra o que escrevo, pior para os fatos"), não se importasse com a troca do 1 pelo 9, mas enfim, Nelson era...Nelson
ExcluirA Torre Malakoff recebe a partir de hoje a exposição Ocupação Nelson Rodrigues, no dia que se celebra o centenário de nascimento do Escritor e dramaturgo pernambucano.
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