quinta-feira, 2 de maio de 2013

CARTA DA PATROA - PREZADA DOMÉSTICA (Colaboração Hermantine Magalhães)

 


Prezada empregada doméstica, 

Quero cumprimentá-la porque, finalmente, a sua classe passou a ter os mesmos direitos do restante dos trabalhadores do nosso país. Agora as suas horas extras serão remuneradas, você terá direito ao FGTS, seguro desemprego, intervalo na jornada de trabalho e mais uma série de benefícios. Parabéns pela conquista!!!

Mas, posso informar-lhe que, para mim, pouca coisa mudará... Afinal estou acostumada ao dia a dia do mercado de trabalho e, com certeza, saberei me adaptar rapidamente às novas regras. Apertando um pouco mais o orçamento, conseguirei pagar todos os ônus da nova lei, porém me preocupo com o novo tratamento que terei de dar a você, pois “para todo bônus, o seu ônus”. 
 
Você será reconhecida por mim, financeiramente, mas precisará comprovar-me que está apta a ser tratada como profissional. Adeus às velhas desculpas de que o ônibus atrasou... Agora tenho  que registrar sua entrada  e sua saída, para computar as horas extras a que você tenha direito... 
 
Não me peça para não descontar suas faltas! Inevitavelmente terei  que contribuir para   um fundo de garantia por seu tempo de serviço [FGTS] e, por isso, você precisa vir trabalhar. 
Lembre-se, também, que não aceitarei as desculpas de que você não sabe cozinhar, passar, lavar roupas, pois estas aptidões são necessárias  para o seu trabalho. Siga as minhas orientações e cumpra as minhas determinações.
 
Para atender às necessidades do meu lar, tal como acontece nas empresas (veja o comércio), busque a capacitação e a reciclagem, esteja atenta às boas relações interpessoais, para que eu possa honrar com prazer os seus direitos ora adquiridos. 
 
Não vale mais ser doméstica e estudar datilografia (ah! Isso era antigamente, agora é informática...), ou passar horas mexendo e aprendendo  tudo do celular ou ouvindo radinho sem se importar em esmerar-se para atender às necessidades do meu lar, pois isso é o que o seu emprego  requer!... Deixe o lazer para o período de descanso... 
 
Você alcançou uma posição privilegiada, é uma profissional com todos os direitos da Consolidação das Leis do Trabalho, igual a qualquer  empregado de uma empresa, embora meu lar e a minha família não se enquadrem nessa categoria e não tenham fins lucrativos. Portanto,  acostume-se a ser advertida, afinal tarefas não realizadas contarão também para demissão por justa causa. 
                
Prejuízo s ocasionados pela má utilização dos pertences de minha residência [seu local de trabalho], serão tratados como patrimônio, que você terá obrigação de zelar e ressarcir-me, caso venha a danificá-lo. E isso inclui as minhas roupas que você costuma manchar ao lavar e/ou queimar  ao passar. Mas não se preocupe, quando eu fizer a reposição do item por outro igual, apresentarei o cupom fiscal a você. 
 
Sentirei no bolso,  é verdade, mas a grande privilegiada será você, pois até que enfim alguém pensou em sua classe, no seu  crescimento pessoal e profissional, espero que com a aquisição de todos esses benefícios você consiga manter-se no mercado de  trabalho , buscando sempre o aprimoramento profissional. 
 
Espero, ainda, que esse pouco dinheiro que chegará às suas mãos, uma vez que grande parte dele vai mesmo ficar para o governo, lhe dê  condições de sustentar a sua família, pagar os cursos que você precisa fazer e ainda assim ser a amiga e companheira que nos auxilia ao longo de  nossas vidas. 
 
Atentando para tudo isso, nossa relação de amizade não sofrerá a menor mudança. Respeito o seu trabalho, preciso de sua ajuda em meu lar e confio no seu potencial. Por isso, espero que essa nova lei seja um marco para nós duas. 

Um abraço e muito sucesso para você!


Sua patroa.


9 comentários:

  1. Muito interessante e criativa a carta endereçada à secretária do lar, rsrsrs

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  2. Essa foi boa.kkkkk Valeu Tine!!

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  3. Qualquer conquistas dos menos favorecidos já é vista como ameaça à classe média e provoca atitudes de revanchismo, às vezes veladas, como é o caso do texto apresentado.

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    1. Reginaldo Siqueira3 de maio de 2013 às 10:25

      Na visão dessa gente, empregada doméstica nasceu para ser escreva. Viva a conquista!

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    2. ESTOU COM FRANCISCO LIMA E REGINALDO SIQUEIRA. A ESCRAVIDÃO ACABOU. QUE NÃO PUDER PAGAR UMA EMPREGADA QUE APRENDA FAZER SEUS TRABALHOS, IGUAL NOS OUTROS PAÍSES.

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    3. vão diminuir tb o rebolado. tudo se achando

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  5. Não consegui ler o texto todo. Quanta revolta decido ao fim da "escravidão"! Prezada senhora, empregada doméstica não existe no mundo civilizado. O cômodo nas casas e apartamentos chamados de "dependência de empregada" só existia no Brasil. Acorda! Ensina aos teus a lavar pratos. E não se preocupe, que segundo as estatísticas as "domésticas" estão migrando para funções dignas.

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