segunda-feira, 31 de março de 2014

31 DE MARÇO DE 1064: GOLPE OU CONTRARREVOLUÇÃO - POR EDNALDO BEZERRA

O Povo nas ruas - Golpe de 1964
 
Cinquenta anos depois ainda pairam dúvidas sobre aquele momento de nossa história. Isso porque os relatos são os mais diversos possíveis, recheados de ideologias... É verdade, no entanto, que quase quatrocentas pessoas morreram vítimas do regime militar (apenas para se ter uma ideia do grau de violência no mundo, e lembrando-me do que disse o saudoso doutor Saraiva numa palestra, esse quantitativo talvez corresponda ao número de pessoas fuziladas na revolução cultural chinesa em apenas alguns dias. E o que dizer da recente condenação à morte de mais quinhentos partidários do ex-presidente do Egito, Mohamed Morsi?).

No Brasil atual, só a titulo de ilustração, tivemos o caso Amarildo, que, conforme noticiado em jornais, fora torturado e morto pela polícia carioca; o da juíza Patrícia Acioli, assassinada com vinte e um tiros à porta de sua casa; e, agora, mais recentemente, o da dona de casa Cláudia Ferreira, fuzilada e arrastada no asfalto após cair de uma viatura da PM no Rio de Janeiro. Ora, por mais indignados que fiquemos com crimes supostamente cometidos por agentes do estado, esses exageros existem quer seja numa democracia ou numa ditadura (ainda mais se considerarmos o fator “educação” de um povo). Não vou nem falar da violência dos bandidos. Porque, aqui em nosso país, eles são tratados como vítimas sociais (essa é uma visão marxista. Para mim, ela é totalmente mentirosa – ou no mínimo equivocada –; porque, se fosse verdadeira, todos os pobres seriam bandidos. O que não acontece, pois a imensa maioria das pessoas pobres é gente de bem!).

Mas, continuando, eu lhe pergunto: quantos Amarildos tivemos nesses últimos dez anos pelo Brasil afora? Seguramente, meu amigo, a quantidade de vítimas torturadas e assassinadas em decorrência da ação ou da omissão do poder público supera em muito o número de baixas ocorridas em vinte e um anos de regime militar. Estaríamos, então, vivendo numa ditadura? Não, não estamos. Aliás, corrijo-me: a do “politicamente correto”, sim. Basta que você discorde do ponto de vista dos “companheiros” que logo vem o patrulhamento ideológico (implacável!).

Pois bem, hoje em dia vivemos num país rancoroso, onde se promove a desunião, que olha para o passado, em vez de se preocupar com o presente e com o futuro. Exemplificando: temos a Comissão Nacional da Verdade objetivando investigar os crimes cometidos pelo estado há meio século e reescrever a nossa história. Para os parentes das vítimas, sem dúvida, o trabalho da comissão é louvável. Afinal de contas, saber em que circunstâncias e quais foram os responsáveis pela morte de um ente querido deve causar algum alento. Mas, Comissão da Verdade, vamos ser imparciais! Os familiares de Mário Kosel Filho, de Edson Régis de Carvalho, de Nelson Gomes Fernandes, de Alberto Mendes Júnior... também têm esse direito. Ou não? (Deixar de lado a apuração, só por que eles foram mortos por terroristas, é justificável? Aliás, isso não seria mais uma razão para se investigar esses crimes bárbaros? Diga-me de uma vez por todas: é ou não é obrigação do estado zelar pela segurança de seu cidadão?). 

Com relação à reescrita da história, a meu ver, isso não se faz necessário; pois, não precisa ser muito bem informado para se concluir que se aqueles guerrilheiros vencessem, seríamos agora, talvez, uma grande Cuba, e não a democracia em que vivemos atualmente, por enquanto. Por que digo por enquanto? Porque eles voltaram, estão no poder, e, a julgar pelos objetivos do Foro de São Paulo e pela admiração e ajuda à ditadura castrense, esse pessoal continua com o mesmo sonho.

Ei! Não fuja do tema! Você não explicou se foi golpe ou contrarrevolução. Calma! Vou lhe dizer agora mesmo. No último dia 22 de março, tivemos a Marcha da Família com Deus pela Liberdade em várias cidades. Aqui, em Recife, menos de trinta pessoas estavam presentes na praça do Derby. Parece-me que o número dos que vieram intimidar era semelhante. Todavia, não houve confusão (graças a Deus!).

Em São Paulo e no Rio de Janeiro a quantidade de pessoas também foi pequena, não chegou a mil. Na capital paulista, houve até um ligeiro confronto com os “democratas” contrários ao movimento. Eles organizaram a Marcha Antifascista. O quê? Antifascista? Não entendi! “Tudo no Estado, nada fora do Estadonada contra o Estado!”, a frase é atribuída ao ícone do fascismo, Benito Mussolini. Ora, é justamente o contrário do que os liberais conservadores (de direita) pregam. Pelo que eu saiba, eles são contra o totalitarismo e a intervenção do estado nos assuntos privados, notadamente na economia. Fascistas... De fato, não entendi.

Mas, enfim, talvez para demonstrar o fiasco da atual marcha, uma das  reportagens que li informa que em 19 de março de 1964 meio milhão de pessoas foram às ruas na Marcha da Família com Deus pela Liberdade para pedir a manutenção da democracia e o impeachment de João Goulart.  E que, naquela época, o movimento foi considerado a maior manifestação já vista no Estado de São Paulo.

Ora, meu amigo, quer saber?! Cansei desses assuntos. Joguei a toalha. Não preciso esclarecer mais nada! Você pode muito bem chegar a uma conclusão por si só. Responda-me, dê-me você, leitor, o seu veredito: foi golpe ou contrarrevolução?

Ednaldo Bezerra é estudante de Licenciatura em Letras da UFPE

7 comentários:

  1. CARLOS ROBERTO PINHEIRO31 de março de 2014 às 20:17

    GOLPE MILITAR SEM DÚVIDA ! UMA SITUAÇÃO QUE NÃO DESEJO QUE ACONTEÇA JAMAIS.

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  2. Respostas
    1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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    2. Deveriam promover artistas e intelectuais para fazerem um reflexão sobre efeitos do Golpe na Cultura do Estado.. Um debate sobre a memória e a importância do Movimento de Cultura Popular (MCP).

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  3. Macineide do Nascimento31 de março de 2014 às 22:13

    Um período que fez história e teve repercussão no que somos hoje.

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  4. O golpe militar foi umas das piores coisas que aconteceu no Brasil , serviu apenas para reprimir as cabeças pensantes do país como estudantes, professores, artistas, intelectuais... , enquanto isso NAQUELA ÉPOCA se podia votar para prefeito e deputados,( nas cidades pequenas e a corrupção já corria solta nas eleições pois se votava em quem comprava votos). Quando nasceu a democracia depois de tanta luta e sofrimentos por aqueles que queriam mudanças de verdade o sistema já estava todo corrompido . Se durante os vinte anos de ditadura tivesse usado o poder para reprimir políticos corruptos, ladroes, assassinos, e todo o lixo humano de nossa sociedade a coisa teria sido diferente. Resumindo 20 ANOS de ditadura sendo governado por militares despreparados e arrogantes apoiado por políticos ladroes... e agora 30 ANOS de democracia sendo governado por políticos ladroes. ESSE É NOSSO BRASIL ,PAÍS DOS CORRUPTOS.

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  5. Ednalva Pires Barbosa1 de abril de 2014 às 13:36

    Há 50 anos a intransigência do Golpe Militar colocou um ponto final nas atividades do Movimento de Cultura Popular, quando tanques de guerra invadiram o Sítio da Trindade, em Casa Amarela, onde ficava a sede do projeto.

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