sábado, 28 de junho de 2014

PODER PÚBLICO TRIUNFENSE PROVOCA EFEITOS DANOSOS ÀS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS



Durante mais de quarenta anos, guardei na minha memória todas as lembranças da minha cidade do jeitinho que ela era, desde 1954, ano em que nasci até os dias atuais. No passado Triunfo era uma cidadezinha estilo provinciana, com pouco mais de dez mil habitantes que comungavam das mesmas ideias. Pessoas simples, na sua maioria, agricultores que trabalhavam a terra com a finalidade de produzirem alimentos para sua subsistência e também para comercializarem o excedente entre os comerciantes da época.

Lembro-me bem de Triunfo das ruas calçadas com pedras brutas, das bocas de jacarés nas casas por onde jorravam as águas das chuvas, Triunfo com casario de arquitetura barroca totalmente preservada, dos pontos turísticos rústicos e virgens, a exemplo do Poço Dantas, do Grito, dos Pinga, das Furnas da Laje, do Pico do Papagaio, e por que não lembrar do acervo sacro.

Lembro-me de Triunfo dos mais de 100 engenhos de cana-de-açúcar que elevaram Triunfo ao status de capital mundial da rapadura, responsável por grande parte da economia do município, exportando sua produção para o Brasil e para o mundo.

Lembro-me de Triunfo das indústrias de café, doce de goiaba, fubá e xerém, das confecções de roupas, de calçados, de mosaicos, de queijos e doces de todas as qualidades.

Lembro-me de Triunfo dos carnavais a moda antiga, onde toda a sociedade Triunfense participava em massa, das festas natalinas representadas por todos os seguimentos da sociedade Triunfense, com o parque de diversões do Sr. Domingos e suas tradicionais canoas, com a banda Isaias Lima tocando músicas natalinas, com a queima de fogos do Sr. Joaquim Fogueteiro, com a soltura de Balões do Sr. Luis Bezerra, com as barracas de comidas típicas no entorno da praça do quadro, e não deixando de lembrar dos bailes que existiam na Sociedade Triunfense de Cultura, no bar de Luis de Maroca, na sinuca de Quinha, no Cine Gury, na sede da banda Isaias Lima, no Açougue, todos estes bailes exibindo o forró-pé-de-serra.

 
Lembro-me de Triunfo das figuras humanas e folclóricas que deixaram um legado para as futuras gerações, a exemplo de Aninha Mocó, Zé Preto, Maria Barbada, Pelado, Maria Ferrolho, Ana e Maria do Guirra, Eliza do padre, João Cabaça, Zezinho Dola, Zé Largatixa, Morais de Manoel do Borges, Djalma de Severina, Quinca de Zabelão, e tantos outros que marcaram a história de Triunfo.

Além dessas figuras folclóricas, não podemos deixar de lembrar dos artistas de vozes maravilhosas, a exemplo de José Mendonça, José de Dora, Zé de Liô, Miguel Branco, Arlindo Galvão, Zé Homero, Janio Silva, e tantos outros que não me lembro no momento e que já partiram para eternidade.

Entre os artistas de vozes maravilhosas, temos que homenagear em vida aqueles que ainda representam nossa cidade com muito orgulho, a exemplo de Fátima Barros, Zé Carvalho e Genecy, o nosso Tetê Espíndola.
Lembro-me de Triunfo das festas juninas tradicionais, onde todos os moradores faziam suas fogueiras nas calçadas e passavam a noite inteira assando milho verde, soltando fogos, estourando bombas de parede, peito de veia, espirro de bode, cobrinhas elétricas, soltando balões, e escutando as músicas de Luis Gonzaga.

Fazendo uma análise criteriosa e com total isenção de cunho político, chegamos à triste conclusão que, durante os quarenta anos aos quais me refiro, observamos que a nossa cidade ao invés de apresentar um crescimento progressivo de prosperidade, vem regredindo de forma exacerbada, assim vejamos:

O calçamento da cidade que antes era de Pedra bruta, foi substituído por paralelepípedos, até aí tudo bem que houve uma evolução, embora seja de responsabilidade dos prefeitos de antigamente, as bocas-de-jacarés foram substituídas por canos de PVC tirando todos os romantismos de antes, o casario de arquitetura barroca vem sendo depredado e demolido dando espaço a obras modernas, os pontos turísticos antes citados ao longo dos tempos vêm sendo abandonados e poluídos com desjetos derramados sobre suas águas a exemplo do Poço-Dantas, e as obras sacras não têm recebido por parte do poder público a devida atenção e cuidado com sua preservação.

 Os donos de engenhos de tanto sofrerem com as estiagens, e também pela falta de incentivos por parte dos órgãos que fomentam subsídios aos agricultores, dando-lhes suporte para que se mantenham radicados na terra, evitando o êxodo rural para as cidades e capitais, já calejados perderam as esperanças de poderem reverter o quadro de desolação por conta da falta d’água, sendo obrigados a migrarem para a cidade em busca de outros meios de sobrevivência, quase sendo extinta a produção de rapadura no município.

As demais indústrias que existiam nas décadas passadas não resistiram diante das dificuldades enfrentadas naquele momento, e deram espaço a oferta de produtos industrializados vindos de diversas regiões do país.

Os carnavais de Triunfo a moda antiga, onde se brincava o corso regado a banho de talco, lança perfume, confetes e serpentinas, onde a população se fantasiava com fantasias comuns, sem nenhum tipo de adereço estilizado, onde os caretas, figura principal da nossa cultura, se fantasiavam da forma mais simples, de calças rasgadas, chapéu de palha, máscaras, chocalhos e um rei de corda de croatá, deram espaço aos carnavais de fantasias estilizadas, onde as pessoas não mais desfilam por prazer, onde órgãos de iniciativas públicos e privados passaram a ter ingerência na organização desta que é a principal marca Triunfense, influenciando de forma significativa na descaracterização e desvio de finalidade da figura principal do carnaval de Triunfo” OS CARETAS”

As figuras humanas e folclóricas as quais me referi, viveram e morreram em Triunfo em total abandono e desprezo por parte por parte daqueles que teriam a obrigação de homenageá-los em vida, e se não o fizeram, pelo menos deveriam eternizá-los colocando ruas e patrimônio publico com seus nomes.

Os artistas de vozes maravilhosas já falecidos e também aqueles que ainda permanecem vivos na nossa cidade, cantando e nos encantando com suas belas vozes, de igual forma também deveriam ter seus talentos reconhecidos em vida, e sobre esta falta de reconhecimento por parte da sociedade e autoridades, publiquei há tempos atrás uma matéria no Blog Opinião Triunfo com o título “RECONHECIMENTO EM VIDA UM DEVER DE TODOS NÓS”

SÃO JOÃO TRIUNFENSE - EXPECTATIVA FRUSTRADA


Sobre este assunto, tenho um desabafo a fazer diante do que presenciei nesta minha permanência em Triunfo durante as festas juninas. Durante as últimas três décadas morando em Recife, jamais tinha passado um São João na minha cidade, e durante todo este tempo, guardei na memória as lembranças das festas juninas de antigamente, da forma que relatei anteriormente.

Esperava encontrar todas as ruas iluminadas pelo clarão das fogueiras, pessoas assando milho verde, soltando fogos, soltando balões, comendo canjica e pamonha reunidas com amigos e familiares. Tamanha foi a minha decepção ao deparar-me com o cenário de desolação e tristeza no semblante das pessoas, e claramente percebia-se os motivos de toda esta tristeza, nada mais era do que a sensação de desprezo e abandono por parte do poder público em não mexer uma palha no sentido de promover este evento tradicional da nossa cultura, encontrei nas ruas por onde andei, uma ou outra fogueira acesa nas calçadas, e estas com seus brilhos ofuscados pela nuvem negra do desprezo lançada por aqueles que deveriam promover a alegria dos triunfenses e dos turistas presentes na nossa cidade.

Bastava apenas que a prefeitura fazendo uso do bom senso tivesse montado na praça de eventos um palhoção coberto com palhas de coqueiro, ou até mesmo coberto com lonas, e lá colocasse algumas bandas de forró pé de serra, tocando as músicas de Luis Gonzaga, com certeza a sociedade Triunfense estaria hoje elogiando a iniciativa do gestor público.

Custo a acreditar, mas a sensação que fica diante de tudo que presenciei, é de que o poder público que governa nossa cidade governa propositadamente na contramão dos interesses dos Triunfenses, retribuindo com sua má administração a todos aqueles que votaram contra e a favor dela.

E para agravar mais ainda o meu estado de tristeza e desolação com o que presenciei na minha cidade, ao passar no distrito de Sítio dos Nunes, já de volta ao Recife, deparei-me com um cenário de desmonte de uma estrutura que havia sido montada na única e principal rua deste distrito, para comemorar em grande estilo o Jogo da Seleção e também o São João. Custei a acreditar naquilo que estava vendo, inclusive sendo patrocinada por aquele que também deveria patrocinar os eventos da nossa cidade, se assim o nosso Prefeito tivesse procedido, nada mais, nada menos do que ‘A EMPETUR
.
Então fica a minha pergunta em letras garrafais a quem de direito, “SENDO TRIUNFO CONSIDERADO UMA DAS QUATRO CIDADES DO PAÍS COM A MELHOR QUALIDADE DE VIDA, SENDO TRIUNFO CONSIDERADO UMA DAS CIDADES MAIS IMPORTANTES TURISTICAMENTE DE PERNAMBUCO, SENDO TRIUNFO UMA DAS CIDADES COM O MENOR ÍNDICE DE HOMICÍDIOS DE PERNAMBUCO, SENDO TRIUNFO HABITADO POR UMA POPULAÇÃO RECONHECIDAMENTE HOSPITALEIRA E ACOLHEDORA, como pode, em pleno século XXI, uma cidade potencialmente desenvolvida, apesar da presença intervencionista do município, se deixar dominar politicamente por pceudos filhos da terra, aceitando passivamente todas as tomadas de decisões equivocadas, que só têm causado danos dos mais variados tipos ao nosso patrimônio.

Enquanto a sociedade Triunfense permanecer de braços cruzados diante da equivocada gestão atual, aceitando pacificamente tudo que é resolvido na calada da noite nos seus gabinetes, não só as festas natalinas, os carnavais e os São João estarão ameaçados de acabarem, fiquem alertas.


 Por: Marcos Antonio Florentino

6 comentários:

  1. Sensacional a matéria publicado por Marcos Antônio Florentino que acertadamente veio respaldar todas as críticas que já venho constantemente externando à população triunfense no sentido de que já não dá mais para continuar nessa condição submissa, de medo, de abuso de autoridade deste poder público que somente beneficia os aliados políticos e deixa a sociedade à margem de todo e qualquer comprometimento que demonstrou quando ainda discursava na campanha eleitoral passada. É lamentável que o companheiro acima tenha se entristecido como tenho estado triste em ver a Triunfo que outrora conheci e vivi toda aquela magia e postura política e principalmente com as tradições ora esquecidas em detrimento a realizações pessoais. Não há dúvidas quanto tudo aquilo descrito de forma até mesmo poética pelo Nobre Sr. Marcos Florentino que sempre contribui de forma significativa com as matérias deste conceituado blog. Engolir goela abaixo o descaso, a falta de respeito para com a sociedade e a perseguição política instalada de forma criminosa é realmente lamentável. Realmente acabaram-se todas as grandes e sensacionais festas e ainda continuam deturpando todas as outras comemorações da cidade e isso sem falar da favelização que se instalou na cidade e com o aval deste prefeito que já está incluído na lista dos ficha suja.
    O povo da cidade tem que se manifestar, tem que fazer valer o seu direito, tem que botar a boca no trombone e protestar de maneira pacífica posto que por si só, já somos conhecidos como um povo ordeiro e hospitaleiro além de ser um povo pacífico. Diante desta pacificidade é que encontramos esta gestão enganadora, cheia de artimanhas, onde sequer o prefeito aparece nas ruas porque sabe muito bem ele que seria cercado pelos insatisfeitos (maioria), para cobrarem os feitos que ele disse que faria e pelos que ele mesmo destruiu.
    Se ainda quisermos uma sociedade mais justa e com todas estas coisas que perdemos, precisamos antes de tudo, resgatar a dignidade de cidadão que está agregada a manipulação tacanha deste governo que dá as costas para o povo.

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    1. marcos antonio florentino lima30 de junho de 2014 às 21:32

      Caro amigo, Williams, não se se lembra de mim, sou irmão de Verinha com quem vc namorou, mas enfim, vamos ao que interessa; Agradeço-lhes pelos elogios a esta e tantas outras matérias que tenho publicado no blog, todas elas em defesa da manutenção do bem-estar, da cultura, do patrimônio Público, das festas tradicionais, da cultura de um modo geral, que tanto vem sendo despresa e relegada a último plano por parte daqueles que são os responsáveis. Tenho acompanhado sua publicações muito criteriosas e sempre na defesa da ética e da moral, atitudes inerentes àqueles que lidam com a coisa pública, e tenho visto o quanto vc é criticado por ter mantido sua posição oposicionista aos governos equivocados da nossa cidade. Não abaixe a cabeça por que é tudo que eles e os seus correligionários beneficiários da corrupção que impera na nossa cidade e no brasil. Parabens pelas suas publicações. Quero na próxima viagem me encontrar contigo para debatermos sobre estes assuntos

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  2. Lendo este texto me deu uma vontade de viver em Triunfo nessa época e poder curtir todo esse movimento cultural que acontecia e poder andar pelas ruas vendo uma arquitetura que hoje está cada vez menos presente.

    Parabéns pelo texto.

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  3. Sensacional texto...de rir e chorar....
    Todas as emoções possíveis veio a flor da pele...
    Mesmo sendo mais nova mergulhei num universo de recordações incríveis ate mesmo das que não vivenciei ,mas fui capaz de imaginar,viajar no tempo...
    Parabéns Carlos Ferraz por nos proporcionar atraves destas oportunidades tanta coisa linda da nossa Triunfo ainda que as tristes venham juntas....

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    1. marcos antonio florentino lima30 de junho de 2014 às 21:39

      Olá amiga, sou o autor do texro publicado que tantas emoções lhe trouxe, mesmo vc não tendo vivenciado todas elas naquela época. O mais importante é que vc sabe dar o valor que a nossa cidade merece, apezar de todas as gestões públicas nas últimas décadas levarem no caprixo a intenção de destruirem a nossa cultura, tudo que Triunfo tem de mais belo para demonstrar aos turistas que nos visitam. Lamentável que uma cidade tão hospitaleira e reconhecida mundialmente fique a mercê de pessoas tão descomprometidas com o futuro da nossa cidade.Um forte abraço

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  4. Paiva Texto muito bom. Realmente, é de doer o coração quando vemos tanta modernidade sendo construída em cima dos casarios derrubados.....

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