Voltando de Serra
Talhada para Brasília, via Recife, tive aquela estranha sensação
de perigo iminente quando entrei no avião e me deparei com aquela
ruma de políticos com o mesmo destino. Acho que viajar com esse
pessoal é uma coisa meio arriscosa, em primeiro lugar por que não
se trata em sua generalidade de uma companhia edificante. Depois,
porque imagino que se rogam tantas pragas nesses indivíduos –
desde unha encravada até queda de avião – que é melhor evitar.
O interessante é a
postura de imunidade pretensa que assumem em todas as ocasiões
públicas, como se os olhares repreendedores da sociedade não
estivessem neles cravados. Sentam-se preferente nas primeiras
poltronas ou nos corredores da aeronave assumindo uma atitude de
espécie de anfitriões na expectativa de um reconhecimento
respeitoso e de submissa admiração que já não acontece. Mas,
imagino que quando se sentam em seus privados podem até enrubescer.
Mas, nem sempre se
comportam com essa pose de sacerdotal e compreensiva sabedoria. Certa
vez, indo também para Recife, toquei inadvertidamente em um jornal
de um deputado petista, imediatamente seguido pelo pedido de
desculpas. Interrompido em sua leitura, fulminou-me com um silencioso
olhar 43. Fiz o mesmo de volta e fiquei feliz para sempre,
lembrando-me sempre dele como um exemplo a não ser escrutinado.
Nome? Maurício Rands, baixinho, barbudinho, inexpressivo. Ele nem se
lembra de mim, e eu jamais o esqueci.
Aí, naquele ambiente
de não ter para onde correr, as línguas dos cidadãos esclarecidos
ficam coçando para fazer perguntas objetivas sobre a atuação
parlamentar deles, com uma louca vontade de desmascarar os
comportamentos falsetes de cada. Mas, esses voos terminam acabando na
pizza de um desembarque rápido e fugidio para vida parlamentar
seguir no mesmo diapasão.
Em alguns casos, como
aconteceu em um restaurante e em um hospital paulistas, essa língua
cidadã esqueceu a característica apaziguadora para ironizar e
constranger os ex ministros Padilha – aquele do Mais Médicos para
recuperar os cofres de Cuba – e Guido Mantega, o qual, dentre
tantas diatribes, dirigiu as pedaladas contábeis da Dilma.
Esse abandono da
singeleza pacifista do cidadão deslinda a intolerância a que fomos
conduzidos na avaliação desses “prestadores de serviço” que
zombam do contrato firmado com o povo. Nem se pode afirmar que seja a
melhor solução, depois que os caras foram desapeados. Pareceria
melhor que fossem marcados a ferro em nossas consciências como
garantia não voltarem a receber um voto que não o de desconfiança,
no futuro, assim como para proteger a pátria desanimada.
Mas, pelo sim pelo
não, melhor evitar voar nas segundas, terças, quintas e sextas
feiras em qualquer avião que passe por Brasília. Doravante,
enquanto persistir essa zorra, vou programar as minhas viagens para
quartas feiras, sábados e domingos. E ainda com o cuidado de cotejar
a lista de passageiros e ainda bater três vezes na madeira.
Por: Luiz Saul Pereira
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