domingo, 20 de dezembro de 2015

CRÔNICA MUNDANA - “O CINE SÃO LUIZ - O TEMPLO DAS MUSAS" POR LUCILO CORREIA ARAÚJO


Na fase de adolescência, fazendo parte da turma da pracinha do bairro do Cordeiro, Recife, além das distrações comuns da turma, após a realização dos deveres escolares de casa, era a ida às chamadas “matinês” - sessões de cinema da tarde, geralmente nos dias de sábado. A tela branca da projeção ficava sempre recoberta por uma cortina, e os garotos ficavam a imaginar a magia dos filmes que ali seriam projetados. As projeções demoravam entre duas a três horas, onde assistíamos, fazendo parte do programa: uma espécie de jornal nacional de Jean Manzon, com notícias diversas do Brasil (na época inexistia a TV); uma curta comédia dos “Três Patetas”; um filmete de desenhos animados de Tom & Jerry ou do Pato Donald e um documentário curto – chamado de “natural” sobre temas da natureza. Finalmente começava a projeção do filme. 

Na tela desfilavam as mais diversas emoções que o tema despertava (filmes de guerra, faroeste, capa e espada, românticos, etc), entretanto, o que acontecia verdadeiramente era a torcida pelo chamado “mocinho do bem” (ator principal, bonitão, corajoso, mulherengo e justiceiro), contra o vilão ou representante do mal (aspecto repugnante, mau caráter, violento, sem ética e covarde). No meio desses personagens pairava acima do mal e do bem a “mocinha” (atriz bela, jovem, pura, romântica, sonhadora e com perfeitos contornos corporais), a ser conquistada e beijada pelo mocinho. Por vezes, surgia entre a tríade do “mocinho, do bandido e da mocinha”, um personagem que nós chamávamos de “doidinho ou atrapalha boia (sentido de comida)” que era um cara meio maluco, divertido e que, por vezes atrapalhava até os carinhos do mocinho e da mocinha...

Todos estes dramas cinematográficos eram marcados por uma melodia marcante que sempre tocava no fim do filme, representando o triunfo do bem sobre o mal, sempre selados pelo beijo final dos atores, antes do “The End,” final. Na imaginação daqueles adolescentes ficava a incorporação (em cada um) da figura do “bom” mocinho que tinha conquistado aquela linda dama ou namorada, após vencer todas as batalhas contra o mal.

A sessão de cinema se encerrava, geralmente com as emoções da projeção de filmes seriados (Batman, Super-homem, Nyoka, etc) semanais (em geral, finalizava após doze semanas), que sempre terminava com um “episódio” de risco ou morte para o mocinho – motivo de comentários na turma de como o artista se sairia daquela empreitada... Após o encerramento da sessão as cortinas eram acionadas e o branco da tela nunca era vista, possivelmente para manter a magia do templo do cinema.

Apesar do bairro do Cordeiro ter três cinemas, eu, particularmente gostava do Cine São Luiz, localizado (centro de Recife) na rua da Aurora - ás margens do Capibaribe, por ser o “top” dos cinemas da cidade. E foi lá que eu assisti ao filme “Férias de Amor” (Pic Nic) com Wlilliam Holden e Kim Novak. Uma cena marcante para mim e depois referenciada nas revistas de cinema foi a inesquecível dança sensual entre os dois, embalados por uma bela cobertura musical. Acredito que assisti a cerca de cinco projeções do filme, tirando uma adolescente concepção prática –“somente namoro garotas parecidas com a Kim Novak”. 

Para isto, depois de muito procurar nas andanças na cidade, encontrei uma jovem que tinha sido admitida na secretária da administração do Colégio Padre Félix, onde eu estudava, que era uma sósia perfeita da Kim Novak. Após alguns “flertes” (olhares) ela até que correspondia e percebia que eu estava passando muito por lá... Entretanto, a Cristina Aurelia (era o seu nome) me fez ver que a diferença de três anos de idade entre eu, com 16 anos, e ela era muito grande...Mas não fiquei frustrado, sabia que a arte da procura, como ocorria nos filmes, teria talvez um final feliz.


ALBUM DO FACE (continuação)–“A TURMA DA PRACINHA DO CORDEIRO –RECIFE”



Por: Luciolo Correia Araújo
        Médico pernambucano/ Rio de Janeiro - Brasil

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