terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

É POR ISSO QUE EU BEBO... POR LUIZ SAUL



Tentando revisitar o pensamento do Itamar Franco que licenciou seu ministro até que se provasse a inocência do mesmo, o presidente herdeiro Michel Rousseff resolveu entrar mais profundamente na cena ao divulgar que ministro denunciado será afastado temporariamente, nos moldes do Itamar; e ministro indiciado será afastado definitivamente. 


A primeira boa consequência é que o Renan não será ministro, como gostaria em relação à pasta da Justiça e Segurança Pública. O restante da manifestação do herdeiro, por mais que negue, serviu para a pretensão de legitimar a designação do Moreira Angorá Franco para o esquisito Ministério da Secretaria sei lá o quê. Essa coisa de lançar mão do arrumadinho para apascentar os interesses dos amigos ou dos aliados de ocasião tem estado no DNA da política nacional. Simples assim. 

Não há boa vontade que se sustente para compreender o organograma atual da República em que tantos suspeitos esfervilham em investiduras da relevância que se observa. Ainda que o observador probo e imparcial acaso seduzido por crise de servilismo propusesse a compreensão desse quadro (o que não é o caso), a sua adulação não conseguiria acomodar com naturalidade a hipótese de uma Comissão de Constituição e Justiça presidida por um suspeito para um plenário com tantos iguais. 

É correta a afirmação de que suspeito não é réu, e, assim sendo, não está impedido para o exercício dos cargos. Mas, tudo haveria de passar pelo crivo da sensatez como forma de prevenir as ilegitimidades e as desconfianças que sobejam na sociedade em relação a muitos desses investidos. E, tudo se torna ainda mais gravoso quando as intenções se revelam sem qualquer pudor, como é o caso do senador Edison Lobão, pretendendo-se professor de semântica para explicar a existência do termo “anistia”, sugere a naturalidade de sua aplicação aos crimes de Caixa 2, por ser constitucional, ainda que imoral nas circunstâncias. Em que pese o ajeitadinho do raciocínio, foi aplicado em entrevista ao “Estado de São Paulo” (11/2/17).

Mas, não é só isso, uma vez que também acena para a celeridade de sua pauta da Lei de Abuso de Autoridade na versão do Renan Calheiros, assim como desconsiderar as delações premiadas enquanto estiverem presos os delatores. Ora, ponderando que todas, absolutamente todas as operações em andamento, somente prosperaram por decorrência de tais delações, compreende-se a tortuosidade com que o senador intentar harmonizar as conveniências próprias e dos parceiros.

Ainda que alguns discordem e afirmem a solidez das operações investigativas, parece que está em curso um insidioso estratagema para consubstanciar o abafamento especialmente da Lava Jato, mediante a utilização, inclusive, de explicações didáticas para plantar na consciência da sociedade o tema do exagero, da malvadez, da perseguição e de outras anomalias nos comportamentos da força tarefa e do Juiz Sérgio Moro. O próprio Edison Lobão começou a aplicar a sua pedagogia semiológica sobre o verbo anistiar. 
É por isso que eu bebo.



Por: Luiz Saul Pereira
        Brasília - DF

Um comentário:

  1. Grande referência desse blog Opinião pode ser considerado o senhor Luiz Saul Pereira, com seus artigos.

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