Eu jamais colocaria meu filho para estudar em um colégio dirigido por torturadores, por pessoas inescrupulosas, por... (outros adjetivos que se queira usar para se referir aos militares, conforme em voga hoje em dia); no entanto, em 1975 vários meninos prestaram o concurso de admissão para estudar no Colégio Militar do Recife. Que paradoxo! Será que os pais desses garotos estavam malucos? Ou seriam irresponsáveis?
Lembro-me como hoje... Segundo dia de prova, fazia sol, nos aproximávamos do bairro do Benfica; perto da praça da Bandeira havia um congestionamento imenso. Os portões se fechariam em quinze minutos. O Capibaribe, insensível, apenas demonstrava sua exuberância, com vegetações deslizando sobre as suas águas. Meu pai dirigia preocupado, não pensando na possibilidade de eu perder a prova, mas porque outro garoto que também fazia o concurso (Caminha - 647) estava com a gente no carro. Felizmente, chegamos a tempo.
Passaram-se quase quarenta anos, vez por outra, minha turma de CMR se reúne em algum canto do Recife; é como se voltássemos no tempo... Quantas lembranças... E quais recordações temos de nossos instrutores, monitores, comandantes de companhia...? Alguém, entendendo as entrelinhas, poderá até argumentar: “mas não se está discutindo pessoas, e sim situações! Você tem que tornar os fatos impessoais”. Então eu lhe pergunto: “quem constrói as situações? Quais os protagonistas da história?".
Pois bem, a maior parte dos atuais integrantes das forças armadas nasceu depois do regime militar, ou ainda era muito jovem naquela época. Então por que a nova geração de militares, pelo visto, se sente igualmente incomodada? Espírito de corpo? Não, não é nada disso. A razão é muito simples: ela – a nova geração – também não compactua com mentiras. Até admite que naquele período de nossa história houve erros, mas daí a concordar com o endeusamento de gente como Lamarca e Marighella, por exemplo, como se esse pessoal tivesse lutado pela redemocratização do Brasil, aí já é um pouco demais (se não chega a ser menosprezo à inteligência humana, pelo menos é bastante ilógico tachar essa gente de herói – uma tremenda forçação de barra, por assim dizer).
Não se pode negar, considerando o contexto histórico mundial, a intenção da esquerda de implantar o comunismo em nosso país. Algum historiador discorda? Se a permanência dos militares no poder alongou-se por um tempo além do previsto, o “golpe” foi necessário para evitar o pior. E depois, considerando a visão positivista e o patriotismo dos militares, é bem possível que eles tenham pensado: “agora que estamos com o poder nas mãos, vamos ajeitar o Brasil...”. Não podemos nos esquecer de que a intensificação das ações terroristas até justificou, em parte, a implementação dessa ideia e para que o governo não fosse entregue aos civis bem antes. Pois seria prematuro e arriscado – pensavam alguns.
Mas onde estão os historiadores que não se pronunciam? Vocês não devem permitir que esse importante período da historia do Brasil se transforme em conto do vigário, em mera ficção. Historiadores, deem ao nosso povo explicações coerentes, isentas de proselitismo, comecem nos respondendo o seguinte: por que houve diversas ditaduras, mundo afora, após a revolução russa de 1917 até o fim da guerra fria (se é que ela terminou) em contraposição ao comunismo? Por incrível que pareça, as “ditaduras” consideradas de direita (Argentina, Chile, Brasil, Uruguai, Portugal, Espanha) rumaram para uma democracia. Como estão, hoje em dia, as ditaduras de esquerda (Cuba, China, Camboja, Coréia do Norte)? Poderiam nos explicar o porquê disso? E quais foram as mais violentas?
Ednaldo Bezerra |
Dessa forma, eis o que eu lera: o belo poema de Luís Guimarães Júnior, “Visita à casa paterna”, escrito no final do século XIX:
Como a ave que volta ao ninho antigo,
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo.
Depois de um longo e tenebroso inverno,
Eu quis também rever o lar paterno,
O meu primeiro e virginal abrigo.
Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos, - olhou-me, grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.
O fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me as mãos, - olhou-me, grave e terno,
E, passo a passo, caminhou comigo.
Era esta sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em que da luz noturna à claridade,
minhas irmãs e minha mãe... O pranto
Em que da luz noturna à claridade,
minhas irmãs e minha mãe... O pranto
Jorrou-me em ondas... Resistir quem há de?
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.
Uma ilusão gemia em cada canto,
Chorava em cada canto uma saudade.
Ednaldo Bezerra é Bacharel em Ciências Contábeis pela UFPE e ex-aluno do CMR – Turma Marechal Cândido Rondon.
Será mesmo que o golpe militar foi mesmo para evitar o pior, senhor Ednaldo Bezerra? Existem controvérsias.....
ResponderExcluirPrezado Valdemir, você próprio respondeu: “há controvérsias”. Particularmente, acredito que sim. Mas cada um pensa de acordo com suas convicções, e não há problema nenhum nisso. Por exemplo, no livro “Memórias de uma guerra suja”, um dos autores, o jornalista Marcelo Netto, no início da apresentação, escreve: “Na minha opinião, foi bom para o país que os militares tenham vencido aquela guerra suja dos anos 1970. O Brasil hoje é melhor do que seria se nós – o outro lado – os tivéssemos derrotado.”
ExcluirO escritor admite que foi bom os militares vencerem, mas não diz por quê. Porém, nas entrelinhas, a conclusão lógica a que se chega é de que o lado a que ele pertencia lutava pela ditadura do proletariado. Obviamente, se lutassem pela democracia, seria melhor que eles tivessem vencidos, e não os militares. Concorda?
P.S: onde se lê "vencidos", leia-se "vencido".
ExcluirCostumo ler as postagens do Ednaldo Bezerra e confesso que ficava sem entender seus posicionamentos ao ex-presidente Lula e presidenta Dilma Rousseff. Agora estou descobrindo porque ele critica muito o Partido dos Trabalhadores, não é por ser progressista, incomodado com os destino da legenda, mas um tremendo militarista infiltrado neste blog.
ResponderExcluirInfiltrado??? Sou um simples estudante de Letras (um aprendiz). E apenas expresso as minhas opiniões. Se são certas ou erradas, o leitor é quem vai julgar. Agora, não posso concordar com ideias ou com histórias forjadas que me parecem incoerentes – mesmo que elas sejam aceitas pela maioria. Porque a predominância pode ser fruto de doutrinação ou puro modismo, e não pelo fato de estarem corretas. Daí o porquê de minha critica, sobretudo, ao marxismo. É somente isso, meu caro Jorge Nogueira. Saudações.
ExcluirOs militares foram jogados ao ostracismo e estão agora querendo voltar a ter vez depois das bobagens que cometeram em nome da legalidade, sendo capazes das maiores maldades no período da ditadura. Deixemos esse pessoal mesmo de fora com suas manias de autoridades.
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